A dislexia é uma perturbação específica da aprendizagem de origem neurobiológica. Caracteriza-se por dificuldades no reconhecimento preciso e/ou fluente das palavras escritas, por dificuldades ortográficas e por dificuldades na descodificação. Estas dificuldades resultam frequentemente de um défice na componente fonológica da linguagem e são muitas vezes inesperadas relativamente a outras capacidades cognitivas e face ao fornecimento de instrução eficaz. Consequências secundárias podem incluir problemas na compreensão da leitura e experiência de leitura reduzida, o que pode impedir o desenvolvimento do vocabulário e do conhecimento geral.
Sinais de dislexia: manifestações mais frequentes
Escrita
Dificuldades ortográficas persistentes, mesmo com palavras simples. Dificuldades na gramática e na construção de frases. Pontuação ausente ou pobre.
A velocidade e sequências da escrita é afectada – os estudantes perdem com facilidade “a sequência lógica” do que estão a escrever/ler.
Leitura
Leitura lenta e pouca exacta, impossibilidade de fazer uma “leitura diagonal” e problemas em extrair as ideias fundamentais de um texto.
Números
Problemas com capacidades básicas ligadas à matemática e ciências como dificuldades em memorizar e relembrar sequências de números.
Leitura, Escrita Oralidade
Dificuldades em ler em voz alta, em pronunciar palavras pouco familiares. Dificuldade em estruturar uma apresentação oral.
Coordenação
A escrita pode ser lenta e pouco ordenada.
Organização
Deficiente organização e gestão do tempo.
Orientação Espacial
Em alguns casos pode verificar-se deficiente orientação espacial, por exemplo dificuldade em distinguir a esquerda da direita, leitura de mapas e seguir instruções de direcção.
Memória
Deficiente memória de curto prazo. Perda de objectos com facilidade por não se lembrar onde os deixou, esquecimento de nomes e números de telefones, etc. Pouca atenção.
Problemas Visuais
Em alguns casos pode apresentar dificuldade em ler um texto de uma determinada cor, ou quando tem um fundo de uma cor específica. Os estudantes disléxicos podem ver os textos de forma diferente, por exemplo, ver espaços onde não existe qualquer espaço, palavras que se movimentam, etc.
Boas práticas
Estratégias de ensino
As seguintes sugestões de boas práticas serão particularmente úteis para os estudantes com dislexia, mas podem ser úteis aos estudantes em geral. Para além destas sugestões achamos muito importante que o Professor obtenha mais informação sobre dislexia e contacte com os estudantes, no sentido de saber o que para eles é mais útil.
O estudante disléxico na Universidade:
É importante estar alerta para a eventualidade de ter um estudante disléxico entre os que frequentam as suas aulas. Assim deverá:
– estar consciente de que ele aprende de forma diferente da convencional;
– tentar obter informações acerca dos problemas com que o estudante disléxico se confrontou no secundário, especialmente no que diz respeito:
– à capacidade de auto-gestão
– ao seu sentido de organização
– à capacidade de tomar notas
– à gestão do tempo
– à gestão dos projetos e trabalhos a realizar
– ao ensino unidimensional;
– reconhecer a frustração que estudante disléxico deve sentir;
– reconhecer que as classificações podem ficar muito aquém do potencial do estudante;
– reconhecer problemas de autoestima e de depressão;
– demonstrar simpatia, atenção e preocupação;
– oferecer-se para ser o professor tutor ou nomear-lhe um;
– saber ouvir e aconselhar quando necessário e nas alturas previstas para tal;
– ajudar a organizar os trabalhos;
– planificar os trabalhos com datas bem determinadas (por exemplo, o primeiro trabalho sobre o primeiro capítulo na data x, o segundo na data y… e assim sucessivamente);
– indicar as leituras obrigatórias nas bibliografias de referência;
– assegurar que os direitos previstos na lei em benefício dos estudantes disléxicos são respeitados, nomeadamente em matérias de exames: intervalos, tempo suplementar, leituras, utilização de computadores portáteis, etc.;
– ajudar os estudantes a preencher formulários e a redigir pedidos relacionados com os seus direitos;
– insistir no reforço dos talentos naturais do estudante.
Nas aulas
Os estudantes com dislexia leem e escrevem mais lentamente do que os outros estudantes, assim é para eles muito difícil acompanhar as aulas tirando notas. Estes estudantes podem também encontrar dificuldades em ler acetatos/apresentações nas aulas, pois têm dificuldade em compreender o que leem e em copiar.
Fornecer um resumo quando se introduz um novo tópico, de forma a iniciar a familiarização do estudante com o assunto – salientar as ideias principais e palavras-chave;
– fornecer textos de apoio às aulas, de forma a diminuir a quantidade de notas que o estudante tem que tirar numa aula;
– usar múltiplas formas de apresentar a informação: vídeos, slides, demonstrações práticas, bem como ir falando ao longo da apresentação de textos;
– prever tempo para os estudantes lerem os textos de apoio às aulas, sobretudo se esses textos vão ser mencionados no decurso de uma aula;
– introduzir tópicos e conceitos novos de uma forma óbvia – explicar termos e conceitos novos;
– dar exemplos para ilustrar um ponto de vista, uma perspectiva, um assunto;
– fazer pausas regulares para permitir que os estudantes possam acompanhar;
– perguntar ao estudante disléxico se está a conseguir acompanhar o trabalho nas aulas;
– fornecer material escrito, formatando-o num estilo simples, claro e conciso;
– usar preferencialmente material impresso em detrimento de notas escritas à mão;
– evitar fundos com imagens ou figuras;
– uma fonte clara como o Arial ou o Comic Sans é mais fácil de ler do que fontes como o Times New Roman;
– não devem ser usadas demasiadas fontes diferentes num mesmo texto;
– não usar blocos densos de texto. É aconselhável o uso de parágrafos, diferentes tipos de cabeçalhos, símbolos gráficos a destacar partes de textos e numerar textos;
– destacar partes de textos ou palavras usando preferencialmente o negrito em detrimento do sublinhado ou itálico;
– imprimir em papel de cor pode ser mais fácil de ler para alguns estudantes com dislexia. Alguns estudantes com dislexia usam acetatos de cor que colocam por cima do texto para facilitar a leitura.
– são de evitar as tintas vermelha e verde, pois estas cores são particularmente difíceis de ler.
– usar formas alternativas de apresentar conteúdos como gráficos, diagramas, etc.
Avaliações
Em situação de avaliação as capacidades de escrita e ortografia do estudante disléxico podem piorar devido à pressão do tempo. Estes estudantes podem igualmente usar um tipo de linguagem mais básica, evitando palavras longas que lhes torna mais lento o processo de expressão escrita.
As perguntas devem ser expressas em linguagem clara e concisa;
– combinar com os estudantes disléxicos a data de entrega de trabalhos;
– permitir a este estudantes o uso de corretores ortográficos e/ ou outras formas de trabalho que os ajudem a detectar e corrigir os próprios erros;
Trabalhos práticos
Podem surgir dificuldades quando estes trabalhos exigem apresentações escritas com prazos muito curtos – trabalhos escritos à mão podem ter uma péssima apresentação, bem como conter muitos erros ortográficos.
Deve ser permitida a entrega destes trabalhos impressos, portanto escritos usando o computador;
Os estudantes disléxicos podem ter dificuldades em seguir instruções, de forma que estas devem ser claras e simples;
Estratégias de apoio à avaliação e classificação
Deve sempre dar feedback ao estudante sobre a avaliação que fez do trabalho apresentado por ele. Sempre que necessário deve conversar com ele sobre esse assunto.
Quando pontua um trabalho use marcadores diferentes para diferenciar o conteúdo da apresentação (ortografia e gramática, bem como organização das ideias).
Lidando com um aluno disléxico, o professor deve ter conhecimento e sensibilidade. Algumas estratégias podem usadas para facilitar o aprendizado do aluno disléxico:
uso frequente de material concreto: relógio digital, calculadora, gravador, Material Curisineire e Material Dourado;
confecção do próprio material para alfabetização, como desenhar, montar uma cartilha;
uso de gravuras, fotografias(a imagem é essencial para sua aprendizagem);
folhas quadriculadas para matemática;
máscara para leitura de texto;
letras com várias texturas;
fazer revisões frequentemente;
evitar ou dar mais tempo para que copie do quadro, pois isso é sempre um problema;
para ler palavras longas, ensinar a separá-las com uma linha a lápis;
não forçar a modificar sua escrita, pois ela sempre acha sua letra horrível e não gosta de vê-la no papel. A modulação da caligrafia é um processo longo;
dar menos dever de casa e avaliar a necessidade e aproveitamento deste;
dar um tempo maior para realizar as avaliações escritas. Uma tarefa
em que a criança não disléxica leva 20 minutos para realizar, a disléxica pode levar duas horas;
sempre que possível , a criança deve ser encorajada a repetir o que lhe foi dito para fazer, isto inclui mensagens. Sua própria voz é de muita ajuda para melhorar a memória;
usar sempre uma linguagem clara e simples nas avaliações orais e principalmente nas escritas;
uma língua estrangeira é muito difícil para eles; fazer suas avaliações sempre em termos de trabalhos e pesquisas;
a criança disléxica deve sentar-se próxima à professora, de modo que a professora possa observá-la e encorajá-la a solicitar ajuda;
não esperar que ela use corretamente e autonomamente um dicionário para verificar como é a escrita correta da palavra. A habilidade de uso de dicionário deve ser cuidadosamente ensinada;
evitar dar várias regras de escrita numa mesma semana. Por exemplo, os vários sons do “C” ou “G”. Dar lista de palavras com uma mesma regra para a criança aprender, sendo uma a cada semana;
O professor deve ter muita sensibilidade para que suas atitudes não diminuam a auto estima do aluno disléxico, já tão frágil. Algumas atitudes e comportamentos podem ser feitos para isso:
evitar dizer que ela é lenta, preguiçosa ou compará-la aos outros alunos da classe;
ela não deve ser forçada a ler em voz alta em classe a menos que demonstre desejo em fazê-lo;
suas habilidades devem ser julgadas mais em sua respostas orais do que nas escritas;
demonstrar paciência, compreensão e amizade durante todo o tempo;
não riscar de vermelho seus erros ou colocar lembretes tipo: estude!
precisa estudar mais! precisa melhorar;
procurar não dar suas notas em voz alta para toda classe, isso a humilha e a faz infeliz;
não considerar as trocas na escrita como erro por falta de cuidado, tirando pontos de seu trabalho;
procurar não reforçar sentimentos que minimizam sua auto-estima.
Nunca é tarde demais para ensinar uma criança a ler. Toda criança precisa de apoio e paciência e mais ainda o aluno disléxico. Ele precisa de mais compreensão com suas dificuldades e atenção individualizada sempre, por mais difícil que seja.