Se antes a pergunta era “O que são pessoas com
deficiência?”, hoje a pergunta precisa ser “Como nós psicólogos devemos atuar
para ajudar as pessoas com deficiência a ter mais autoestima e uma vida
plena?”.
Várias décadas se passaram. E será que essas disciplinas
acompanharam a evolução das pessoas com deficiência. Quase que não! Acredito
que a primeira mudança precisa ser já em nossa formação acadêmica. Muitas
faculdades ainda mantêm o título pejorativo dessas disciplinas de Psicologia do
Excepcional. Com conteúdo quase que puramente classificando e/ou conceituando o
que é deficiência, essas grades demonstram que a formação do psicólogo não
apresenta avanço com relação às pessoas com deficiência, estabelecendo rupturas
em termos epistemológicos.
Talvez o problema seja a não familiarização dos professores
dessas disciplinas com a temática por eles ministradas. Apenas se cumpre um
curso obrigatório, exigido pelo currículo mínimo para o funcionamento das
faculdades de Psicologia. Entre os alunos criou-se o hábito da obrigação de
passar por essas matérias como forma de também cumprir currículo, não
despertando neles o interesse pelo assunto. Não lhes é despertado o quanto, em
suas futuras atuações profissionais, poderão contribuir com a melhora de
qualidade da vida de pessoas com deficiência e outras pessoas a sua volta. Não
lhes são apontadas todas as possibilidades de trabalho junto à essa clientela.
É preciso criar mecanismos para estimular professores e
alunos nessas disciplinas. Falta-nos uma formação para uma ação processual, que
considere o próximo desenvolvimento dessas pessoas. Fazendo uma citação livre,
é como nos advertiu Lev Vygotsky, já nos anos 20 do século passado, “todo o ser
humano, independentemente do grau de sua deficiência, aprende e se desenvolve”.
A Psicologia como ciência passou por diversas
transformações. A Psicologia do Excepcional, ao contrário, parece permanecer em
uma condição “fossilizada”, sem rupturas. Essa expressão de uma atividade
formativa reacionária está em conflito com as dimensões atuais, em que a
formação do psicólogo deve estar voltada para a realidade que se transforma
ininterruptamente.
Publicado em 26/10/2020