"Com menos de um ano iniciaram os meus tratamentos. Primeiro foi no Centro de reabilitação do Sesi-Ipiranga. Depois em paralelo comecei a ser atendido na Associação de Assistência à Criança Defeituosa (nomenclatura da época) – AACD – no Ibirapuera.
"Vivíamos uma época que os estudos e técnicas de tratamentos
ainda engatinhavam. Por quase cinco anos usei aparelhos em quase todo o corpo
para ele endurecer. Pesadas pulseiras de chumbo nos braços para “diminuir” os
movimentos involuntários. Lembro-me de seminários com enormes plateias, onde,
crianças, éramos colocados só de cueca no palco, o especialista ia nos
mostrando e analisando o caso. Assim fiz parte de muitos outros experimentos e
pesquisas no início dos anos 1970.
"Mas para mim, tudo isso era fundamental para o desenvolvimento
e aperfeiçoamento das ciências que envolvem o processo de reabilitação. E, de
certo modo, mesmo de forma modesta, dei uma pequena contribuição para isso,
sendo “objeto” de alguns experimentos.
"Por outro lado, muitas adaptações foram fundamentais para mim: na hora das refeições usava uma prancha fixada à mesa onde tinha o encaixe do prato, do copo e da tigela de sobremesa; minha colher era com um cabo grosso de madeira e torta, pois eu ainda não fazia a curva para chegar à boca; o lápis era engrossado e eu usava uma pulseira de meio quilo de chumbo no pulso, visando diminuir a frequência dos movimentos voluntários e conseguir rabiscar, pintar o papel. Por muito tempo usei pesadas botas ortopédicas, fora inúmeros outros recursos que já fugiram de minha memória. E assim minha vida foi sempre de adaptações que permitiram cada vez mais a minha autonomia..."