Trecho do livro “PARALISIA CEREBRAL E O PROCESSO DE ENVELHECIMENTO Encarando Desafios No Presente, Construindo Perspectivas Futuras”, de Emílio Figueira, está disponível no formato físico na site da ULCLAP ou no na versão digital na Amazon.
A Paralisia Cerebral é uma condição neurológica que afeta o controle motor e a postura, dificuldades de movimento e coordenação, causado por lesões no cérebro em desenvolvimento, ocorrendo antes, durante o nascimento, ou nos primeiros anos de vida, variando de leve a grave e podem incluir espasticidade muscular, rigidez, tremores, dificuldades de coordenação, além de possíveis deficiências cognitivas e sensoriais.
Os tratamentos e terapias tradicionais ajudam a melhorar a qualidade de vida e a funcionalidade desses pacientes, envolvendo também fármacos - alopáticos e fitoterápicos - e médicos de diversas especialidades, trabalhando em conjunto de forma multidisciplinar a fim de atender todas as particularidades de cada caso. Somando a isto, um dos tratamentos disponíveis atualmente no Brasil é com a Cannabis Medicinal.
"O uso de canabidiol tem efeitos comprovados no tratamento da Paralisia Cerebral. Ele auxilia, por exemplo, no controle das convulsões, diminuindo a intensidade e a frequência dessas crises, deixando o paciente mais ativo e com muito mais qualidade de vida”, declara em um artigo Mariana Maciel, médica especialista em Medicina Canabinoide e fundadora no Canadá da Thronus Medical, uma biofarmacêutica focada na produção e no desenvolvimento de fármacos inovadores para tratamentos com cannabis medicinal.
PUBLICAÇÕES CIENTÍFICAS
Fazendo uma revisão dos estudos existentes, pesquisas demonstram que a espasticidade (quando os músculos ficam pesados, rígidos e difíceis de mover) é uma das características principais da paralisia cerebral, o que a coloca no mesmo patamar de outras patologias neurológicas como a Esclerose Múltipla. Diversas publicações comprovam a eficácia de alguns componentes presentes na cannabis como o CBD e, principalmente, o THC para aliviar esses sintomas.
Um dos primeiros estudos foi realizado por médicos pesquisadores do Departamento de Oncologia Pediátrica, Hematologia e Imunologia da Universidade de Dusseldorf na Alemanha, publicado em 2016 na revista “European Journal of Paediatric Neurology”, já confirmava que o uso de ∆9 Tetra-hidrocanabinol (THC) sintético (DronabinolTM) proporcionava o relaxamento muscular, induzido pelo THC, nestas crianças, melhora expressiva na dor, mobilidade, sono, apetite e qualidade de vida para o paciente e toda sua família de maneira significativa conforme a análise retrospectiva dos pesquisadores.
Artigo publicado no “Journal of Child Neurology” em 2019, por exemplo, examinou o uso de extrato de CBD em crianças com paralisia cerebral e epilepsia refratária. Os resultados apreciaram que o CBD foi bem tolerado e levou a uma redução significativa na frequência de convulsões em vários dos participantes.
Outro estudo publicado no “European Journal of Pediatric Neurology” em 2020 analisou o uso de cannabis medicinal em crianças e adolescentes com paralisia cerebral e distúrbios do movimento. Os pesquisadores observaram melhoras na espasticidade, qualidade do sono e qualidade de vida em alguns participantes, mas também destacaram a necessidade de mais estudos controlados para avaliar a eficácia e segurança do uso da cannabis individualmente.
No Brasil, por questões da falta de legislações especificas, barradas por um pseudomoralismo político e religioso, pesquisas com cannabis medicinal ainda são proibidas. Mas um estudo de 2020 feito por pesquisadores brasileiros e publicado no “Brazilian Journal of Development”, com base em revisão de literatura por meio da abordagem qualitativa de natureza exploratória sobre o método de revisão bibliográfica, concluiu que a utilização terapêutica da Cannabis Sativa ou dos respectivos derivados já é conhecida nos meios científicos.
Pesquisadores da renomada Universidade de Stanford conduziram um estudo intitulado "Cannabidiol Use Patterns and Efficacy for Children Who Have Cerebral Palsy", publicado recentemente em maio de 2023 no "Slack Journals", com o objetivo de analisar os efeitos benéficos e adversos do canabidiol (CBD) em crianças com paralisia cerebral. Os resultados foram promissores, demonstrando melhorias nos espasmos musculares, dor e saúde emocional. E a maioria dos participantes não relatou efeitos colaterais graves.
Os sintomas da paralisia cerebral que mais apresentaram alívio com o uso do CBD foram espasmos musculares (29% dos participantes), dor e ansiedade (ambos com 22% dos participantes). Da mesma forma, 50% dos pacientes relataram benefícios gerais após a cirurgia, sendo que muitas pessoas com paralisia cerebral passam por cirurgias para reduzir sintomas como espasticidade muscular.
Outro resultado positivo foi a baixa incidência de efeitos adversos. Cerca de 60% dos participantes não apresentaram efeitos colaterais. Mas entre aqueles que provocaram efeitos colaterais, fadiga e aumento do apetite foram os mais comuns, afetando aproximadamente 12% dos participantes que utilizaram CBD como tratamento para paralisia cerebral.
Os autores do artigo enfatizaram a melhoria na qualidade de vida dos pacientes que utilizam o cannabis medicinal, concluindo que "o CBD pode ser um complemento útil para algumas crianças com paralisia cerebral, especialmente aquelas com maior gravidade dessa deficiência. Os cuidadores percebem os benefícios do CBD, principalmente nos aspectos relacionados à saúde emocional, espasticidade e dor. Não foram encontradas evidências de eventos adversos graves em nossa pequena amostra".
ESPASTICIDADE E CANNABIS
Em rápida citação, existem evidências científicas crescentes que sugerem o potencial terapêutico da Cannabis Sativa e seus derivados, como o canabidiol (CBD), para uma variedade de condições médicas, incluindo algumas condições neurológicas, como a epilepsia. O CBD tem sido especialmente estudado e mostrado promessa no tratamento de certos tipos de epilepsia refratária em crianças, como a síndrome de Dravet e a síndrome de Lennox-Gastaut, descrito no artigo “O efeito do uso do Canabidiol em crianças com Epilepsia Refratária”, 2022, no “Brazilian Journal of Development”.
Há casos de pacientes com inúmeras crises convulsivas, o atraso no desenvolvimento neuropsicomotor, muitas vezes é acompanhado de espasticidade muscular involuntária que contribui para um prejuízo da qualidade de vida do paciente, seus cuidadores e sua família.
A espasticidade consiste no aumento involuntário da contração muscular que inicialmente pode ser intermitente evoluindo para contínua, acometendo um ou mais grupos musculares dependendo do dano neurológico determinante. Crianças epiléticas refratárias que convivem com paralisia cerebral são as mais afetadas por espasticidade. A contratura intensa é muito dolorosa, limita a mobilidade com um todo, impede posições de conforto, favorece escaras, complica a higiene pessoal, alimentação e troca de roupas.
Em muitos casos, trona-se evolutiva e incurável. O paciente deve ser avaliado por um neurologista que, considerando princípios paliativos, pode prescrever medicamentos tais como: baclofeno, tizanidina, dantrolene e benzodiazepínicos. Paralelo a eles, a cannabis e seus canabinoides são uma opção para controlar a espasticidade, especialmente em crianças, adolescentes e adultos que possuem graus variáveis de amplitude de movimentos articulares e involuntários.
NECESSIDADE DE PRESCRIÇÕES MÉDICAS E ACOMPANHAMENTO
A revisão dos estudos existentes, pesquisas já demonstram em diversas pesquisas a eficácia de alguns componentes presentes na cannabis como o CBD e, principalmente, o THC à pacientes com paralisia cerebral e outras deficiências neurológicas.
É importante ressaltar que, como em qualquer tratamento médico, é essencial consultar um profissional de saúde qualificado antes de iniciar o uso da cannabis ou de seus derivados. Os médicos podem avaliar os riscos e benefícios específicos para cada paciente e fornecer orientações adequadas com base nas evidências científicas disponíveis.
A utilização desses fármacos só pode ser feita sob prescrição médica. Dosagem e demais orientações devem ser determinadas pelo médico prescritor, que deve manter um acompanhamento contínuo.