O autor, jornalista e professor que possui um catálogo de mais de cem títulos impressos e online agora revela tudo sobre sua carreira como escritor.
A trajetória de vida de Emílio Figueira é impressionante desde o seu nascimento em 1969, quando enfrentou complicações que resultaram em paralisia cerebral.
No entanto, ele não se deixou limitar por suas condições físicas e dedicou-se a uma vida repleta de conquistas.
Além de se destacar nas áreas das artes e do jornalismo, Figueira é também um prolífico autor com mais de cem títulos em seu catálogo, abrangendo tantas obras impressas quanto digitais.
Sua escrita transcende gêneros, explorando temas que vão desde a literatura até a ciência.
Com cinco graduações e dois doutorados, Figueira é reconhecido como um especialista em psicologia, psicanálise e teologia independente.
Sua vasta expertise o levou a atuar como professor e palestrante em programas de pós-graduação, com especial foco em Educação Inclusiva.
Atualmente, Figueira concentra sua energia na criação de enredos, oferecendo sua perspectiva única e inspiradora por meio de suas histórias.
Conheça mais do trabalho desse grande escritor que não apenas contribui para a cultura e a educação, mas também inspira aqueles que têm o privilégio de se envolver com suas obras.
Victor Hugo Cavalcante: Primeiro, é um prazer poder recebê-lo novamente no Folk, e gostaria de começar perguntando: Você destaca no livro Entre a Cruz e a Clínica a importância de reconhecer os limites do aconselhamento pastoral em um mundo em constante mudança. Quais são esses limites e como os psicólogos podem ajudar a preencher essa lacuna?
Emílio Figueira: Durante décadas houve uma separação muito forte entre as religiões e a psicologia.
Digo, há até alguns pastores e conselheiros cristãos que acreditavam ser autossuficientes para resolverem os problemas de sua comunidade.
Só que o mundo vive em constantes transformações.
Vivemos em uma época de mudanças bruscas de comportamentos, de tecnologias, de muitas informações para processar e assimilar ao mesmo tempo.
Vivemos a época da depressão e ansiedade, por exemplo.
Seja qual for a religião, a pessoa não está imune a isto.
E também recorrer ao apoio de psicólogos tem sido uma quebra de paradigma.
Aliás, hoje há até livros que falam de como o próprio Jesus se utilizava da psicologia.
Então, passada mais de uma década da publicação dessa obra, que foi a minha monografia de bacharelado em teologia em 2012, acredito que vários desses limites já se perderam.
E tenho um spoiler.
Como conselheiro cristão com esse livro acima, agora estou terminando de escrever um livro sobre psicologia para cristão.
Victor Hugo Cavalcante: Pode compartilhar conosco algumas das principais descobertas ou conclusões de sua tese de doutorado, As Pessoas Com Deficiência Ao Longo Do Cristianismo, e como essas reflexões podem impactar a compreensão contemporânea da fé e da inclusão?
Essa obra tinha o título original de Teologia da Inclusão em sua primeira edição 2015, agora reformulada para As Pessoas Com Deficiência Ao Longo Do Cristianismo – Bases Históricas Para Uma Teologia Da Inclusão.
Ele inicia-se no Antigo Testamento, percorre o pré-Cristianismo, onde grandes personagens bíblicos, usados por Deus, de alguma forma estavam ligados com algum tipo de deficiência.
Ao mesmo tempo, as deficiências eram fortemente ligadas aos conceitos de pecados ou castigos.
Conceitos que caem por terra no Novo Testamento, pois a vinda de Jesus ao mundo e sua opção pelos excluídos, faz com que as pessoas com deficiência “ganhem” almas como cristãos.
Por meio delas, Jesus realiza muitas obras nas narrativas bíblicas.
Acredito que hoje, para se ter uma Teologia da Inclusão que abarca tanto os católicos como os protestantes (evangélicos), o primeiro passo será rever nossos próprios conceitos com relação às pessoas com deficiência, abandonando conceitos de coitadinhos, vítimas, a deficiência como consequência de castigos ou pecados.
Abandonar a posição que nós cristãos sempre tivemos de assistencialistas para com essas pessoas, focá-las como totalmente capazes de ocupar ministérios e atividades nas comunidades religiosas, tanto católicas como protestantes, trazendo-as para serem parte do Corpo de Cristo em total igualdade.
Sobretudo, temos que cada vez mais identificar e eliminar do nosso meio os estigmas religiosos.
Victor Hugo Cavalcante: Com relação ao seu romance Cristãos Sem Bandeiras, lançado em múltiplos idiomas, quais foram os desafios e as inspirações ao abordar temas complexos dentro do contexto religioso de forma acessível a diversas culturas?
Trabalhei por nove anos nesse romance e o considero um dos livros mais importantes de minha carreira.
Nele a personagem, incomodada com a falta de caridade individual entre os cristãos, começa a questionar se essa ação precisa se apenas terceirizada aos obreiros das igrejas.
Ao propor que todo cristão volte a praticar a caridade por suas próprias mãos, como era nos primeiros três séculos do cristianismo, inicia-se um movimento onde pessoas que, mesmo permanecendo em suas dominações de escolhas, unem-se a católicos, pessoas de credos diferentes e outras da sociedade civil.
Todos com o mesmo objetivo: acabar com a fome no mundo, um movimento interdominicional que ganha o nome carinhoso de Cristãos sem Bandeiras.
E tem a questão da linguagem.
Acreditando que tudo está interligado, ao lado da ficção, faço várias reflexões teológicas, filosóficas, relembrando personagens reais e fatos históricos que contribuíram para a evolução da humanidade.
Afinal, a caridade sempre se inicia quando perguntamos para alguém:
Qual a sua necessidade? O que eu posso fazer por você?
Victor Hugo Cavalcante: Como você equilibra sua prolífica produção científica com sua atividade como autor de ficção? Existem áreas em que essas duas facetas se cruzam ou se complementam?
Eu passei exatos quarenta anos trabalhando pela inclusão e ciência.
Isso foi até registrado carinhosamente no documentário Digitando Com Um Dedo, disponível no YouTube.
Só que nos últimos três anos a minha deficiência motora tem se acentuado devido a décadas de esforços repetitivos e movimentos involuntários.
Por isto, e por acreditar que minha parte nessas duas áreas já foi feita, resolvi me dedicar agora exclusivamente à carreira de escritor, o que foi passando despercebido ao longo desses anos.
E com certeza, todo a conhecimento e facetas que vamos acumulando durante a vida, vai se cruzando nas atividades, mesmo que seja de forma inconsciente.
Victor Hugo Cavalcante: Com uma vasta formação acadêmica, incluindo cinco graduações e dois doutorados, como você vê o papel da educação inclusiva na formação de uma sociedade mais justa e igualitária?
A educação inclusiva é um princípio fundamental que reconhece e valoriza a diversidade entre os alunos, incluindo aqueles com necessidades especiais, de diferentes origens étnicas, socioeconômicas, culturais e linguísticas.
Ao adotar uma abordagem inclusiva, as escolas e instituições educacionais garantem que todos os alunos tenham acesso a uma educação de qualidade, adaptada às suas necessidades individuais.
Essa abordagem não apenas promove a igualdade de oportunidades, mas também contribui para a construção de uma sociedade mais justa, enquanto combate a discriminação e o preconceito, promovendo a aceitação e o respeito pela diversidade.
A educação inclusiva prepara os alunos para viver em uma sociedade plural, onde a cooperação e a compreensão mútua são essenciais.
Ao proporcionar um ambiente educacional inclusivo, as escolas não apenas capacitam os alunos com habilidades acadêmicas, mas também os preparam para serem cidadãos ativos e engajados, capazes de contribuir positivamente para a comunidade em que vivem.
Portanto, o papel da educação inclusiva na formação de uma sociedade mais justa e igualitária é fundamental, pois promove a equidade, a diversidade e a inclusão como valores essenciais para o desenvolvimento humano e social.
Victor Hugo Cavalcante: Como sua experiência como professor e palestrante em programas de pós-graduação, com foco em Educação Inclusiva, influencia sua escrita e sua visão sobre a representação da diversidade na literatura e nas artes?
Minha experiência como professor e palestrante em programas de pós-graduação, com foco em Educação Inclusiva, tem uma influência significativa na minha escrita e na minha visão sobre a representação da diversidade na literatura e nas artes.
Ao trabalhar com estudantes e profissionais interessados em promover a inclusão na educação, tenho sido constantemente desafiado a refletir sobre como as diferentes formas de diversidade são representadas e abordadas em diversas formas de expressão artística.
Essa experiência me levou a valorizar ainda mais a importância de representar de forma autêntica e respeitosa a multiplicidade de identidades e experiências presentes em nossa sociedade.
Reconheço que a literatura e as artes desempenham um papel crucial na construção de narrativas inclusivas e na promoção da empatia e compreensão entre pessoas de diferentes origens e realidades.
Na minha escrita, busco incorporar uma variedade de perspectivas e vozes, dando espaço para histórias e experiências que muitas vezes são marginalizadas ou negligenciadas.