A Questão Do Portador de Deficiência Em Bauru



(Publicado em 23 de abril de 1996)



Quinta-feira passada, a edição regional noturna do SP/TV exibiu uma matéria referente a falta de vagas especiais de estacionamento reservadas para veículos conduzidos por motoristas portadores de deficiência em nossa cidade. Não queremos nos limitar aqui apenas nessa questão, mas aquela matéria refletiu bem como são tratadas as questões dessa classe em Bauru. Na reportagem um senhor, sentindo-se lesado em seu direito como cidadão comum, com direitos e deveres, estava usando de sua voz para alertar para o problema e necessidade de se criar mais dessas vagas especiais em pontos comuns da cidade, visando dar-lhe a oportunidade de fazer e participar de todas as atividades do cotidiano. Há em Bauru, apenas seis dessas vagas reservadas, ou seja, quase nada para uma cidade de quase 300 mil habitantes, e que, segundo consta, várias pessoas já contam com veículos adaptados.



Podemos começar a nossa reflexão frisando que reservar vagas ou qualquer outro tipo de adaptação para os portadores de deficiência, não se trata de um privilégio, como muitos gostam de salientar; mas sim, são medidas necessárias para permitir e facilitar a vida diária dessas pessoas, dando-lhes o direitos de realizarem por si mesmas atividades como fazer compras, pagar contas, trabalhar, estudar, lazer, visitar amigos, namorar, participar da vida social e muito mais… Do mesmo jeito, quando solicitamos rampas ou orelhões e bebedouros rebaixados, o benefício não será só para nós, mas, por exemplo, para uma pessoa com carrinho de compras, um idoso e a mesmos as crianças, sempre discriminadas no mundo dos adultos.



Todavia, o problema dessas barreiras arquitetônicas não são exclusivos de Bauru, mais sim de cidades de grande, médio e pequeno porte. No ano passado participamos de três cursos em São Paulo sobre acesso de portadores de deficiências ao meio físico, ambiental e ao lazer. Podemos afirmar que se existe o problema, ao mesmo tempo existe a solução! Basta a boa vontade das partes envolvidas.



Um bom exemplo disso aqui, trata-se de Bauru Shopping Center. Ao nosso modo de ver, ele é um dos poucos lugares de lazer e compras para usuários de cadeiras de rodas, adaptado com elevador e sanitários; mas ao mesmo tempo, o Shopping, embora tenha tido boas intenções, demonstra algumas falhar de planejamento. Logo na entrada principal, há uma vaga reservada para carros guiados por portadores de deficiência ou seus acompanhantes, porém há um elevado no piso que adentra às portas de vidro, não havendo qualquer tipo de rampa para a cadeira. Há lojas com entradas estreitas, impedindo a entrada de alguém de cadeira de rodas. E no piso superior, um alto degrau impede o acesso à sacada que dá vista parcial da cidade. (Isso demonstra que tão importante quanto ter adaptações, é necessário contar com pessoas preparadas para as orientações. Fundamental mesmo, seria que esses próprios usuários fossem ouvidos para explicar o que é qual a melhor maneira de executar tais adaptações.) São exemplos só à nível ilustrativo. O que conta é que o Bauru Shopping Center demonstra ser uma das poucas empresas a ter consciência dos portadores de deficiência como cidadãos comuns e consumidores que só no Brasil, são mais de 16 de pessoas gerando rendas.



A questão das barreiras arquitetônicas em Bauru, é apenas um dos muitos pontos que envolvem a classe. Após várias pesquisas e muitos anos de contatos com várias entidades e pessoas envolvidas em movimentos sociais no país e exterior, podemos afirmar com segurança que ainda temos muito à avança e temos condições para tal. Desculpem-nos a sinceridade, mas aqui o velho conceito de paternalismo ainda é mantido por algumas entidades e pessoas que, se escondendo atrás de diplomas acadêmicos, consideram-se os donos da verdade, achando-se no direito de decidir o que é melhor para os portadores de deficiência, muitas vezes, de maneira coletiva. Os próprios deficientes têm uma parcela de culpa nisso, pois é praticamente nula a participação deles em atividades e decisões. Passivos a tudo e a todos, ainda, não tomaram consciência de sua cidadania e de tantas coisas que podem ser obtidas a partir de um movimento sério e bem organizado. Prova disso, é o Conselho Municipal da Pessoa Deficiente que só aparece na imprensa em época de eleição de sua diretoria, o que dar a intender que trata-se de um órgão apenas figurativo.



Todavia, para estarmos apontando defeitos, nada mais justo do que apontarmos soluções de acordo com a nossa opinião. Bauru necessita de uma política social mais ativa e modernizada para esta área Os portadores de deficiência têm que começarem a se reunir em associações para discutirmos de forma democrática os nossos problemas, necessidades, quais as melhores saídas e saber as maneiras e os momentos corretos de apresenta-las aos órgãos competentes e a população em geral. Precisamos aprender a ter voz ativa, como por exemplo, ocupar os espaços de opiniões oferecidos pela imprensa. Em todos esses anos de pesquisas, podemos garantir que leis e documentos existem a nosso favor. Muitos novos conceitos e alternativas estão surgindo no país, os quais nos têm deixado bastante otimistas. Temos vários projetos. São alternativas práticas e baratiadas, que derrubam por terra conceitos de décadas. Pretendemos criar para breve, meios para divulga-los em Bauru e região, como também oferecer treinamentos à profissionais da área e aos portadores de deficiência para que despertem a sua consciência administrem às suas próprias opiniões e vontades.

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