Aula 28 – As Deficiências Múltiplas



A deficiência múltipla é a ocorrência de duas ou mais deficiências simultaneamente – sejam deficiências intelectuais, físicas ou ambas combinadas. Não existem estudos que comprovem quais são as mais recorrentes.



As causas podem ser pré-natais, por má-formação congênita e por infecções virais como rubéola ou doenças sexualmente transmissíveis, que também podem causar deficiência múltipla em indivíduos adultos, se não tratadas.



Segundo a Associação Brasileira de Pais e Amigos dos Surdocegos e dos Múltiplos Deficientes Sensoriais (Abrapascem), o modo como cada deficiência afetará o aprendizado de tarefas simples e o desenvolvimento da comunicação do indivíduo varia de acordo com o grau de comprometimento propiciado pelas deficiências, associado aos estímulos que essa pessoa vai receber ao longo da vida.






Como lidar com a deficiência múltipla na escola?



De acordo com a psicopedagoga especialista em Educação Inclusiva, Daniela Alonso, a orientação aos educadores deve ser feita caso a caso, dependendo dos tipos e do grau de comprometimento do aluno. “Mais do que a somatória de deficiências, é preciso levar em conta que há consequências nos diversos aspectos do desenvolvimento da criança que influenciam diretamente a sua maneira de conhecer o mundo externo e desenvolver habilidades adaptativas”, diz.



Ela aponta que é preciso ficar atento às competências do aluno com deficiência múltipla, usando estimulação sensorial e buscando formas variadas de comunicação, para identificar a maneira mais favorável de interagir com o aluno.



Em relação à maioria dos alunos, os que portam deficiências múltiplas apresentam diferencias significativas no seu processo de desenvolvimento, aprendizagem e interação social. Mas, esses alunos também possuem variadas potencialidades e possibilidades funcionais que devem ser compreendidas e consideradas. São pessoas com diferentes níveis de motivação, que apresentam formas incomuns de agir e se comunicar.



O livro “Saberes e práticas da inclusão: dificuldades acentuadas de aprendizagem: deficiências múltiplas” do MEC/SEESP (2003), diz: “O desempenho e as competências dessas crianças são heterogêneos e variáveis. Alunos, com níveis funcionais básicos e possibilidades de adaptação ao meio podem e devem ser educados em classes comum, mediante a necessária adaptação e suplementação curricular. Outros, entretanto, com mais dificuldades, poderão necessitar de processos especiais de ensino, apoios intensos, contínuos e currículo alternativo que correspondam às necessidades na classe comum” (pg, 11).



Para que haja avanço no processo de desenvolvimento e aprendizagem dos  alunos com deficiência múltipla é necessário muitas vezes, uma ação coletiva maior, isto é, uma ação complementar de uma equipe multidisciplinar, com profissionais das diferentes áreas do conhecimento, como, por exemplo, neurologistas, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e psicólogos. O trabalho dessa equipe seria informar e orientar a família e a escola, visando um desenvolvimento global do aluno com deficiência. As ações integradas de saúde e educação são imprescindíveis para o desenvolvimento e a aprendizagem de pessoas com necessidades educacionais especiais.



A abordagem pedagógica para alunos com deficiência múltipla deve ser apresentada de forma lúdicas e informal, enfatizando a brincadeira e experiências significativas, sistematizadas e contextualizadas, em companhia de outros alunos, crianças e jovens de sua comunidade, pois, a convivência com outros alunos sem deficiência, com a mesma faixa etária, aumentam as suas possibilidades cognitivas.



Com relação específica ao aluno com surdocegueira, esse necessitará de um intérprete, uma pessoa para estar o tempo todo com esse aluno a fim de garantir a sua comunicação com o mundo, pois dificuldade de comunicação é o principal obstáculo a ser superado pela pessoa surdocega, principalmente se ela for surdocega congênita.



Podem e devem frequentar o atendimento especial ao mesmo tempo em que cursam a escola comum, onde o professor de ensino regular deve trabalhar em conjunto com o docente especializado, que assiste ao aluno em sala de recursos. A maioria desses alunos não apresenta linguagem verbal, mas pode comunicar-se por gestos, olhar, movimentos corporais mínimos, sinais, objetos e símbolos. Assim, são indicados:



Incluso do brinquedo no interior da escola:



Uso de linguagens, expressivas de forma integrada: arte visuais, plásticas, música, dança, teatro, movimento e literatura.



A surdocegueira faz com que a criança perceba o mundo de forma fragmentada, caótica. Sem uma intervenção especializada adequada e precoce essa crianças poderá desenvolver sérios transtornos psíquicos. Segundo Figueira (2014), “nunca é demais lembrar que o fato de que a inclusão de aluno com deficiência múltipla no ensino regular não depende do nível da sua deficiência, mas, principalmente da forma como a escola vai recebê-los, acolhê-los e atendê-los” (pg. 65).



As adaptações de acesso para esses alunos devem considerar as deficiências que se apresentam distintamente e a associação de deficiências agrupadas: surdez-cegueira, deficiência visual-intelectual, deficiência física-auditiva etc. As adaptações de acesso devem contemplar a funcionalidade e as condições individuais do aluno:



ambientes de aula que favoreça a aprendizagem, como: ateliê, cantinhos, oficinas;



acesso à atenção do professor;



materiais de aula: mostrar os objetos, entregá-los, brincar com eles, estimulando os alunos a utilizá-los;



apoio para que o aluno perceba os objetos, demonstrem interesse e tenham acesso a eles.



As Borboletas De Zagorsk



Como complemento desta unidade, recomendo muito que assista a este documentário:As Borboletas de Zagorsk (The Butterflies of Zagorsk, 1990) é um documentário produzido pela BBC em 1990 que trata do trabalho desenvolvido em uma escola russa com crianças surdas e cegas, inspirado nos estudos de Lev Vygotsky. A obra tem 58 minutos de duração e se passa na cidade de Zagorsk, a 80 km de Moscou.



Os estudos sobre a defectologia, presentes na teoria de Vygotsky enfatizam que as pessoas com deficiência, através de mecanismos compensatórios, passam a utilizar seus sentidos normais para substituir seus sentidos perdidos.



À partir do resgate da autoestima dessas crianças e da grande dedicação dos professores envolvidos, podemos perceber que mesmo aqueles com necessidades especiais têm um grande potencial que pode ser desenvolvido. Através do toque das mãos e da vibração da voz, com atenção e orientação apropriados, eles são uma prova de que é possível viver e se adaptar ao mundo tão bem quanto uma pessoa em perfeito exercício de suas habilidades físicas. Portanto, eles não devem ser simplesmente isolados e relegados à margem da sociedade como um grupo que não tem direito a uma vida digna, a ter acesso ao conhecimento, a ir para a universidade ou até mesmo a aprender a se comunicar em inglês, por exemplo. Com apoio e dedicação, as crianças de Zagorsk passaram de meras lagartas presas ao chão a belas borboletas capazes de alçar voos inimagináveis.



“Crianças deficientes não devem ser abordadas através de sua deficiência. Em vez disso, deveriam ser ensinadas a desenvolver seus outros sentidos ao ponto deles poderem ser usados para compensar o que foi perdido”. Lev Vygotsky


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