Aula 33 – Autismo




Autismo é uma disfunção global do desenvolvimento. É uma alteração que afeta a capacidade de comunicação do indivíduo, de estabelecer relacionamentos e de responder apropriadamente ao ambiente — segundo as normas que regulam essas respostas.


Até a década de 60, o autismo foi considerado um transtorno emocional, causado pela incapacidade de mães e/ou pais de oferecer o afeto necessário durante a criação dos filhos. A formulação dessa hipótese se baseava apenas na descrição de casos, e não havia comprovação empírica. Posteriormente, essa correlação se mostrou falsa, pois estudos mostraram que não havia diferença significativa entre os laços afetivos de pais de crianças autistas e de outras crianças. Além disso, novos estudos evidenciavam a presença de distúrbios neurobiológicos.  Durante as duas décadas seguintes, pesquisas empíricas, rigorosas e controladas levaram à hipótese da existência de alteração cognitiva que explicaria as características de comunicação, linguagem, interação social e pensamento presentes no autismo. Nesse período de tempo, surgiram escolas específicas para pessoas com autismo. Posteriormente, as pesquisas fundamentadas em dados estabeleceram importantes modelos explicativos (BELISÁRIO FILHO E CUNHA, 2010, pg. 14).




Ao ser estudado e compreendido enquanto um transtorno do desenvolvimento, o autismo deixou de ser apontado como uma psicose infantil para ser entendido como um Transtorno Global (ou Invasivo) do Desenvolvimento, explicado e descrito como um conjunto de transtornos qualitativos de funções envolvidas no desenvolvimento humano. Esse modelo explicativo permitiu que o autismo não fosse mais classificado como psicose infantil, termo que acarretava um estigma para as famílias e para as próprias crianças com autismo. O novo modelo permite uma compreensão adequada de outras manifestações de transtornos dessas funções do desenvolvimento que, embora apresentem semelhanças, constituem quadros diagnósticos diferentes.


Algumas crianças, apesar de autistas, apresentam inteligência e fala intactas, outras apresentam sérios retardos no desenvolvimento da linguagem. Alguns parecem fechados e distantes, outros presos a comportamentos restritos e rígidos padrões de comportamento. Os diversos modos de manifestação do autismo também são designados de espectro autista, indicando uma gama de possibilidades dos sintomas do autismo. Isto porque em 979, estudos de Wing e Gould deram origem ao conceito de Espectro Autista.


Ao estudarem a incidência de dificuldades na reciprocidade social, perceberam que as crianças afetadas por essas dificuldades também apresentavam os sintomas principais do autismo. A incidência foi praticamente cinco vezes maior do que a incidência nuclear do autismo. Portanto, são crianças afetadas por dificuldades na reciprocidade social, na comunicação e por um padrão restrito de conduta, sem que sejam autistas, propriamente ditas, o que permitiu atenção e ajuda a um número maior de crianças. O Espectro Autista é um contínuo, não uma categoria única, e apresenta-se em diferentes graus. Há, nesse contínuo, os Transtornos Globais do Desenvolvimento e outros que não podem ser considerados como Autismo, ou outro TGD, mas que apresentam características no desenvolvimento correspondentes a traços presentes no autismo. São as crianças com Espectro Autista (pg. 19).


Um dos mitos comuns sobre o autismo é de que pessoas autistas vivem em seu mundo próprio, interagindo com o ambiente que criam; isto não é verdade. Se, por exemplo, uma criança autista fica isolada em seu canto observando as outras crianças brincarem, não é porque ela está desinteressada dessas brincadeiras ou porque vive em seu mundo, é porque simplesmente ela tem dificuldade de iniciar, manter e terminar adequadamente uma conversa.


Outro mito comum é de que quando se fala em uma pessoa autista geralmente se pensa em uma pessoa “retardada” que sabe poucas palavras (ou até mesmo que não sabe nenhuma). A dificuldade de comunicação, em alguns casos, está realmente presente, mas como dito acima nem todos são assim: é difícil definir se uma pessoa tem retardo mental se nunca teve oportunidades de interagir com outras pessoas ou com o ambiente.


O autismo é um transtorno definido por alterações presentes antes dos três anos de idade e que se caracteriza por alterações qualitativas na comunicação, na interação social e no uso da imaginação. Definição da Autism Society of American – ASA (1978) Autism Society of American = Associação Americana de Autismo. O autismo é uma inadequacidade no desenvolvimento que se manifesta de maneira grave por toda a vida. É incapacitante e aparece tipicamente nos três primeiros anos de vida. Acomete cerca de 20 entre cada 10 mil nascidos e é quatro vezes mais comum no sexo masculino do que no feminino. É encontrado em todo o mundo e em famílias de qualquer configuração racial, étnica e social. Não se conseguiu até agora provar qualquer causa psicológica no meio ambiente dessas crianças, que possa causar a doença.


Segundo a ASA, os sintomas são causados por disfunções físicas do cérebro, verificados pela anamnese ou presentes no exame ou entrevista com o indivíduo. Incluem:


Distúrbios no ritmo de aparecimentos de habilidades físicas, sociais e linguísticas.


Reações anormais às sensações. As funções ou áreas mais afetadas são: visão, audição, tato, dor, equilíbrio, olfato, gustação e maneira de manter o corpo.


Fala e linguagem ausentes ou atrasadas. Certas áreas específicas do pensar, presentes ou não. Ritmo imaturo da fala, restrita compreensão de ideias. Uso de palavras sem associação com o significado.


Relacionamento anormal com os objetivos, eventos e pessoas. Respostas não apropriadas a adultos e crianças. Objetos e brinquedos não usados de maneira devida.


Nas características descritas pela ASA (Autism Society of American), indivíduos com autismo usualmente exibem pelo menos metade das características listadas a seguir:


Dificuldade de relacionamento com outras crianças


Riso inapropriado


Pouco ou nenhum contato visual


Aparente insensibilidade à dor


Preferência pela solidão; modos arredios


Rotação de objetos


Inapropriada fixação em objetos


Perceptível hiperatividade ou extrema inatividade


Ausência de resposta aos métodos normais de ensino


Insistência em repetição, resistência à mudança de rotina


Não tem real medo do perigo (consciência de situações que envolvam perigo)


Procedimento com poses bizarras (fixar objeto ficando de cócoras; colocar-se de pé numa perna só; impedir a passagem por uma porta, somente liberando-a após tocar de uma determina maneira os alisares)


Ecolalia (repete palavras ou frases em lugar da linguagem normal)


Recusa colo ou afagos


Age como se estivesse surdo


Dificuldade em expressar necessidades – usa gesticular e apontar no lugar de palavras


Acessos de raiva – demonstra extrema aflição sem razão aparente


Irregular habilidade motora – pode não querer chutar uma bola, mas pode arrumar blocos


É relevante salientar que nem todos os indivíduos com autismo apresentam todos estes sintomas, porém a maioria dos sintomas está presente nos primeiros anos de vida da criança. Estes variam de leve a grave e em intensidade de sintoma para sintoma. Adicionalmente, as alterações dos sintomas ocorrem em diferentes situações e são inapropriadas para sua idade.


Estratégias Escolares para Ensinar Crianças com Autismo


A abordagem pedagógica com crianças autistas deve ser semelhante à das que tem deficiência intelectual, usando-se técnicas comportamentais e lhes ensinando noções básicas de funcionamento, tais como vestir, comer, higiene etc. Aprender esses conceitos básicos é necessário para que tenham o melhor desempenho possível dentro da sociedade.


Embora requeiram dos professores orientação técnica, conhecimento e domínio de recursos instrucionais específicos, as crianças autistas devem ter acesso ao sistema escolar, porque a síndrome de que são portadoras não as impede do aprendizado acadêmico. Algumas até podem ser integradas às salas do ensino regular.


O manual “Estratégias e orientações para a educação de alunos com dificuldades acentuadas de aprendizagem associadas às condutas típicas” (MEC/Brasil, 2002), diz na página 24: “A educação inclusiva favorece sempre novas formas de oferta de serviços educacionais para atender a grande diversidade que é uma comunidade escolar. Para que um sistema educacional inclusivo seja bem sucedido é necessário o envolvimento de toda a comunidade escolar no processo de transição ou ingresso de um aluno que antes se encontrava em programas especiais ou sem frequentar a escola. Isto exige uma reestruturação da escola que deve ampliar as oportunidades de participação de todos de forma a responder às necessidades educacionais de seus alunos”. Ainda de acordo com esse documento apresentamos algumas ideias para o professor:


Salas de aula devem ter uma regra principal: respeito ao outro.


Professores precisam desenvolver a capacidade de observação de modo       a perceber com clareza os indicadores de um comportamento inadaptado. 


O ambiente deve ser estruturado para envolver e motivar os alunos. Isto pode ser desenvolvido por meio do envolvimento de alunos como colaboradores e co-responsável pelas atividades desenvolvidas em sala de aula, como por exemplo, serviços de monitoria e auxiliar do dia, etc.


O professor deve favorecer ao aluno autista a aquisição de consciência do mundo e de si mesmo, que só é conseguido através do uso da comunicação.


As atividades desenvolvidas devem ser claras e objetivas e devem possibilitar o entendimento da relação causa consequência, bem como desenvolvimento de novo repertório de competências.


Contudo, evitar uma metodologia tentativa/erro, pois, sem possuir a capacidade de fazer generalizações, esses alunos podem acabar “aprendendo o erro” ao invés do “acerto”.


8 Dicas para Apoiar e não pressionar seu Aluno com Autismo


O autismo tem uma diferença de processamento de informações que muitas vezes consiste em um processamento com atraso. Isso muitas vezes ocorre porque a criança tem que processar conscientemente o que para outras crianças pode vir de forma intuitiva. Devido às diferenças de fiação cérebro seu processamento é diferente e precisa de certas acomodações. Há altura das nossas expectativas para as necessidades de processamento da criança, abaixo estão Listados algumas diretrizes para a transição destas diferenças de processamentos.


  1. Dê à criança tempo para processar.
    Como o processamento tem atraso é importante dar à criança pelo menos 10-20 segundos para responder (ainda mais para algumas crianças). Se você continuar  repetindo, antes do processamento ser concluído, a criança tem que começar a processar tudo de novo. Isso é muito frustrante e desgastante.

  2. Permita a criança manter seu próprio ritmo e performance.
    Não podemos empurrá-lo mais rápido do que seu cérebro pode processar. Se o fizermos, os pânicos cerebrais vão reagir com “luta ou fuga”. Eu vejo isso o tempo todo. Estamos constantemente tentando acelerar essas crianças até mesmo forçando para processar mais rápido do que deveríamos.

  3. Reduza suas palavras! 
    Forneça orientações concretas e as encurte. Use frases curtas e frases com apenas o ponto principal. Muitas das crianças têm problemas de processamento auditivo. Quanto maior o tempo com frases e muitas palavras usadas, maiores as hipóteses da informação ficar confusa e perdida. Só use as palavras importantes; para chegar direto ao ponto.

  4. Use modelos visuais sempre que possível para demonstrar o que você quer. Dê instruções visuais. Escreva algumas instruções de assuntos escolares, em vez de depender de instruções verbais. As palavras são fugazes, enquanto instruções escritas são constantes e podem se concernir facilmente.

  5. Fragmente as tarefas em partes para desacelerar.
    Quebre as tarefas em partes menores, passo a passo sequencialmente. Se possível, de uma uma lista de verificação para marcar conforme ele fizer cada etapa. Não espere que seu filho seja multitarefa! Permita-lhe mais tempo para fazer, mas deixe ele terminar! É importante concluir uma tarefa antes de ir para outra.

  6. Use modelos visuais.
    Dê ao aluno um esboço que defina os pontos importantes para que o aluno poça categorizar as informações que são dadas. Um esquema simples irá destacar a ele quais informações são importantes para se concentrar, dando-lhe “arquivos” mentais para classificar, organizar e armazenar as informações. Considere o uso de planilhas, esquematizações, e outros modelos que ajudem a criança a organizar e categorizar as informações importantes.

  7. Prepare uma antecipação.
    Se possível  de uma”pré-visualização”do aprendizado antes do tempo, para dar um quadro mental do que está sendo apresentado. Muitas das crianças têm dificuldade em classificar a informação relevante do irrelevante. Isso destaca as áreas de importância para ajudar a direcionar a sua atenção, e dá-lhes um quadro de referência para organizar a informação.

  8. Permita que a criança use a sua forma preferida de comunicar o que sabe.
    Muitas crianças têm problemas de escrita. Se for esse o caso, deixe-os dar respostas verbais. Se você precisar que escreva, saiba que ele não pode pensar sobre como escreve e sobre o que escrever ao mesmo tempo. Se você quer descobrir o que sabem, deixe-os escolher o método e lhe dizer.



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