Publicado em 11/12/2002
É gratificante ver um trabalho dando certo. Digo isto, porque com quase seis meses no ar, esta coluna está se tornando cada vez mais conhecida e comentada. Prova disto, são os inúmeros e-mais e telefonemas que tenho recebido de leitores, tanto especialistas, quanto pessoas em geral da sociedade.
Mas minha surpresa maior, foi ter sido convidado a participar de uma Banca Examinadora na Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da UNESP, Campus Bauru, realizada no último dia 04. Fora a minha participação, a Banca foi presidida pelo orientador do projeto, professor Doutor Ricardo Alexino Ferreira (também colunista aqui no iModelo), contando também com a professora Doutora Ana Rosa Gomes Cabello.
O trabalho apresentado pelo formanda Gabriela de Freitas Germano, tinha por objetivo a obtenção do Título de Bacharel em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo. Intitulado “Livro-Reportagem Alguns de Nós“, diz o resumo do projeto:
Este Projeto Experimental objetiva produzir um livro-reportagem, visando a um público generalizado e bastante variado, sendo que, pessoas envolvidas com a realidade das pessoas portadoras de necessidades especiais, seja por objetivos profissionais, convivência familiar ou outros quaisquer, possam apresentar uma curiosidade e um interesse maior pelo trabalho. O livro-reportagem “Alguns de Nós” é um conjunto de depoimentos de pessoas portadoras de necessidades especiais. O modo de pensar, a realidade, o cotidiano e, enfim, o dia-a-dia de alguns personagens é relatado e, misturado a isso, informações e assuntos ligados ao tema são apresentados ao leitor. A opção por esse produto se deu pela crença e constatação, depois de realizadas pesquisas bibliográficas e observações, de que um tema tão importante como o escolhido não tem a devida atenção merecida pelos meios de comunicação. Algumas publicações, como por exemplo, “Feliz Ano Velho”, de Marcelo Rubens Paiva e “Nascer Duas Vezes”, do italiano Giuseppe Pontiggia, são famosas pela bem sucedida forma com que retratam a problemática, no entanto, são construídas sob um viés bem diferente do utilizado pelo livro-reportagem em pauta. “Alguns de Nós” não é uma autobiografia e muito menos um romance, como no caso dos dois títulos citados. Ele é, sim, um retrato da vida de algumas pessoas que revelaram sofrimentos, alegrias e coisas simples na vida real de um ser humano. Ele é a soma de histórias que os próprios entrevistados julgaram serem importantes de contar e, por isso, foram registradas.
Logo na leitura preliminar da monografia, fiquei muito feliz ao ver que em vários pontos de seu relatório e no texto do livro, Gabriela fez várias citações de colunas publicadas por mim aqui no iModelo. Foram vários os personagens reais que por ela entrevistados, formaram o belo corpo de seu futuro livro que, no meu ponto de vista, partindo de uma jornalista recém-formada, foi bem construído.
Durante a sua exposição, Gabriela falou de uma maneira geral sobre todo o seu trabalho de pesquisa, contatos e entrevistas, dúvidas, até a conclusão final de seu texto. Em minhas colocações, repito aqui o que disse a todos os presentes. Acredito que o tema escolhido por ela foi bem sacado. Primeiro porque a modalidade livro-reportagem vem crescendo a cada dia em nosso país. Do mesmo jeito que os temos que envolvem as deficiências despertam cada vez mais o interesse público. A própria imprensa cada vez mais está abrindo espaço para essa temática, além de espaços exclusivos estão sendo criados nos meios de comunicação de massa. (Prova disso, é esta própria coluna no iModelo!) No Brasil já existem publicações especializadas em assuntos das deficiências, contando com jornalistas dedicados a só esse campo. E essas publicações tendem a crescer, já que contamos com uma população em torno de 15 milhões de portadores de deficiências consumindo cada vez mais. No geral, acredito que esta área ainda tem muito para ser explorada jornalisticamente, além de ser o berço para muitos novos livros-reportagens!
Após minha fala, tivemos as considerações e sabatinas dos professores Ana Rosa e Alexino. O resultado foi o melhor; Na recompensa de todos os seus esforços, Gabriela foi aprovada com três notas dez. Motivo este que quero mais uma vez, através desta coluna parabenlizá-la e fechar citando um trecho de seu trabalho e achei muito bonito:
“Podemos afirmar que uma das tarefas mais complicadas para realizarmos esta obra foi selecionar quais histórias contar. Um universo pouco lembrado por todos e tão pouco divulgado pelos meios de comunicação mostrou-se um celeiro de boas narrativas, gerador de pequenas biografias de grande riqueza humana”.