O Início Dos Núcleos De Descentralização Do Centrinho (Parte 10)



O projeto de autoria do Dr. Gastão visando descentralizar os atendimentos do Centrinho começava a fortificar. Em março de 1985, o governo federal, através da Finesp (Financiadora de Estudos e Projetos) aprovou a instalação de um núcleo regional de controle e tratamento de lesões lábio-palatais na cidade de Belém, capital do Pará, tornando-se uma unidade de apoio ao HPLLRP. A iniciativa representou um investimento na ordem de 650 milhões de cruzeiros, que começaram a serem repassados em abril do mesmo ano.



Na fase inicial, o núcleo regional ofereceu serviços de natureza ambulatorial, os quais foram ampliados gradativamente, em seguida.   Ao longo de dois anos foi completado o processo de implantação, ganhando serviço de psicologia, fonoaudiologia, odontologia, tratamento e até cirurgias mais amplas, pois somente as intervenções mais complexas continuaram a ser efetuadas em Bauru. Paralelamente, os técnicos tinham a meta de realizar um amplo levantamento epimiológico da incidência de lesões lábio-palatais na região amazônica a partir de dois polos de pesquisa: a própria cidade de Belém e Santarém, um dos principais municípios do Pará.






A implantação do núcleo tornou-se necessário para acelerar o processo de atendimento do grande número de casos da região amazônica. Na ocasião o Centrinho registrava nada menos que 673 casos oriundos de lá em tratamento, sendo ainda o número de espera era muito elevado. Todos esses grupos de necessitados eram orientados pelo padre Jorge Alegria, a quem as populações da Amazônica recorriam para solicitar assistência.  Prova disso, foi em 1º de maio, quando chegou à Bauru, a bordo de um Búfalo da Força Aérea Brasileira, vindo de Belém, trazendo mais 32 fissurados para tratamento. Porém, era o penúltimo grupo antes de começar para valer o tratamento na Capital paraense.



Também estava em andamento a implantação de um núcleo em Natal. Uma turma de pacientes vindos daquela cidade, chegaram na tarde de dia 1º de julho de 1985, trazendo na comitiva o coordenador do Hospital do Centrinho na Região Norte, o médico José Siderley de Menezes. Dizendo ter-se autonomeado coordenador, ele fez um apelo emocionado aos bauruenses, para valorizarem o trabalho aqui realizado: “Todo bauruense deveria se orgulhar por ter este Hospital, que, além de sua filosofia de trabalho magnifica, divulga a cidade, porque não existe quem conheça o Centrinho e não fique adorando esta cidade. Realmente, é muito difícil deixar de amar Bauru”.



O médico esclareceu que estava bem adiantado os trâmites de implantação do núcleo em Natal, como por exemplo, a aprovação da minuta do convênio entre a Secretaria de Saúde do Estado do Rio Grande do Norte e a USP. E dentre outras boas notícias, Menezes comunicou que a Secretária já havia colocado um prédio à disposição do Centrinho.



Por outro lado, nesse período o Centrinho recebeu mais uma verba de um convênio de cooperação com o Banco do Brasil, através do FIPEC – Fundo de Incentivo à Pesquisa Técnica Científica. O convênio no valor de 628 milhões de cruzeiros, foi liberado para o desenvolvimento do projeto “Crescimento Orofacial e Aspectos Dentários na Malformações Faciais”. Coordenado pelo Professor Gastão, o projeto era uma avaliação técnico-científica que visa definir metas, de acordo com as lesões dos pacientes e qual o tipo de tratamento que deve ser aplicado.



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 Um novo sistema de permanência na cidade para os pacientes em tratamento e seus parentes. Foi uma iniciativa implantada em agosto de 1985, pela professora Inês Virley Rocha de França, da União de Vitória-Paraná. Normalmente, os pacientes que vinham de longe para se submeter aos tratamentos, precisavam ficar na cidade às vezes até pelo período de um mês, o que provocava dificuldades, pois grande parte dessas pessoas não tinham condições de arcar com as despesas, como por exemplo, estádias em hotéis. O Centrinho mantinha alguns pacientes internados dependendo do caso; no entanto, alguns não necessitavam de internação, e foi ai que a professora encontrou uma saída.



Ela começou o seu trabalho trazendo três fissurados para tratamento, sendo que um era o seu próprio filho. Segundo ela relatou na época, ainda tinha condições de manter os três por sua própria conta, recebendo alimentação do próprio hospital. “Mas conforme fomos divulgado o trabalho, o número de pacientes foi aumentando, e não tínhamos mais como trazer a todos, e pagar estada na cidade. Partindo disso, procuramos a ajuda do vigário de Porto União, o frei Dalvino, e ele entrou em contato com o frei da Igreja Santo Antônio aqui em Bauru”, contou Inês.



Os salões paroquiais abrigaram cerca de 50 pessoas entre pacientes e seus acompanhantes vindos do Paraná e Santa Catarina. Membros de famílias de baixa renda, alguns quase nem tinham roupas para vir, essas pessoas, que estavam na cidade em tratamento no Centrinho, descobriram no alojamento comunitário a forma de reduzir os custos de estadia de 15 dias, o que ficou um terço de que lhes cobraria um hotel no mesmo período. No templo, as mães dividiam as tarefas domésticas, cozinhando, lavando e passando roupa e ainda dando assistência aos seus pacientes, crianças e adultos.



Além do trabalho feito por Inês quando trazendo pacientes para tratamento, ela e seu marido, Valmir França, professor de Ciências em União da Vitória, desenvolviam um projeto de conscientização da população daquela região, que já possuía um alto índice de fissurados, da necessidade do tratamento. Eles contavam com a ajuda de vários casais e estudantes, que faziam parte da Associação dos Fissurados formada em União da Vitória, agregando pessoas de todos os pequenos municípios da região. Confiante e acreditando no sucesso e importância do seu trabalho, Inês afirmou: “A recompensa surge quando o paciente recebe alta, e a gente vê a criança em condições normais”…



Nesse período já existia um projeto da Sociedade de Promoção Social do Fissurado – Profis, para se construir em Bauru, abrigos e alojamentos pertencente ao próprio hospital.



 E mais uma conquista foi obtida… O governador Franco Montoro, liberou no início da primeira semana de setembro de l985, uma verba de Cr$ 750 milhões que para ser utilizada na manutenção de dois meses do Centrinho, sendo aplicada na compra de medicamentos, alimentos e materiais odontológicos e hospitalares. Dr. Gastão chegou a comentar que o Governo do Estado estava demonstrando grande interesse em auxiliar o HPRLLP e o trabalho realizado por profissionais capacitados. Até àquela data, a maioria do secretariado do governo Montoro, já havia visitado o Centrinho, além de outras altas autoridades e personalidades.



 O ano de 1987 começou com os passos finais para a implantação do núcleo regional de diagnóstico, seguimento e controle de tratamento, na Amazônia. Recursos adicionais no total de 403 milhões de cruzeiros, foram transferidos pela Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), do Ministério de Ciência e Tecnologia, para que o Centrinho continuasse adquirindo todos os equipamentos e instrumentos para o início das atividades. O núcleo cediado em Belém, com o edifício cedido pela Secretaria de Saúde do Pará e reformado com recursos da Sudam, passou a funcionar a área ambulatorial e de cadastramento de pacientes.





NOTA: Essa série de artigos é fruto do documentário “Nem São Francisco Sabia… A História de Centrinho de 1967 a 1995”, hoje Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais (HRAC/Centrinho) da USP/Bauru. Realizado entre 1994 a 1996 por Emílio Figueira, contou com bolsa de especialização da Universidade de São Paulo-USP.

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