O Lar Reselene



(Publicado em 07 de agosto de 1996)



Hoje, peço licença aqueles leitores que estão acompanhando nas últimas semanas os meus artigos sobre deficiência, mas quero falar sobre uma entidade que tenho acompanhado desde sua criação e da qual sou um de seus profundo admiradores, pois neste trabalho, alegre-me ao perceber que a sociedade em geral, está despertando sua consciência e se organizando para tentar amenizar os problemas de muitos. E em Bauru não deixa de ser diferente.



Trata-se do Lar Roselene, que surgiu em dezembro de 1994, como uma entidade bauruense. Um Lar para abrigar moças que viveram em orfanatos e não tiveram família. O critério foi selecionar moças maiores de idade, sendo que algumas são mães solteiras. Hoje umas moram com os seus filhos no Lar e outras têm as suas crianças sendo criadas pelas às avós paternas.



O projeto nasceu de desmembramento da Fundação “Inácio de Loyola”, da Diocese de Bauru, quando foi criado o Departamento “Família de Nazaré”. “Aí surgiu a necessidade de se criar um novo Lar devido a grande demanda de moças, surgindo o Lar Roselene”, contou-me a minha amiga Márcia Regina Ferro, psicóloga que desde o início do projeto tem trabalhado intensivamente com as moças, juntamente com outras voluntárias que já vinham atuando com as jovens.



“O projeto nasceu, estamos começando a crescer juntos”, comentou a psicóloga, esclarecendo que a compra da casa foi feita pela Fundação “Inácio de Loyola” com verba vinda do exterior, e o restante do dinheiro para sua manutenção está vindo de um trabalho em conjunto entre o Hospital de Pesquisa e Reabilitação de Lesões Lábio-Palatais (Centrinho) e da Universidade do Sagrado Coração – USC. De um modo geral, o objetivo do projeto é a profissionalização e a reintegração dessas moças, como por exemplo, no mercado de trabalho.



No Lar Roselene, o clima é o melhor possível. Todas as tarefas da casa são divididas. É como se formasse uma grande família, onde todas vivem em constante dedicação uma com a outra, porém, tendo cada uma o seu espaço individual respeitado. Fazem a limpeza e a sua própria alimentação. Otimistas e sempre alegres, elas mantêm grandes esperanças para o seu futuro, pois algumas até voltaram e estudar no supletivo do SE SUB, curso oficial da Secretária da Educação do Estado; além de estarem preocupadas de procurarem cada uma a sua profissionalização para garantir o seu próprio sustento num futuro próximo. E após dois anos de funcionamento, atualmente fiquei sabendo que duas das moças estão deixando o Lar para caminharem com suas próprias pernas, sendo que uma contrairá matrimônio.



“Para mim foi uma oportunidade muito boa, tanto pelo lado profissional como pessoal”, confessou-me Márcia Regina, que tem dispensado uma profunda dedicação ao Lar, o que tem lhe realizado bastante. “Ainda há muita coisa para ser feita e está tendo um progresso muito bom”, acentuou a psicóloga, sempre planejando meios de buscar dias melhores para essas moças, Para isso, tem trabalhado em todos os sentidos com elas, tanto numa orientação psicológica, como em outros treinamentos e no que for possível, mas sempre com um carinho amigo.



Aqui cabe uma curiosidade do leitor: Quem foi Roselene?



O nome “Roselene” escolhido para o Lar teve um motivo especial. “Acho que a melhor homenagem que nós poderíamos ter, foi essa, o reconhecimento da pessoa de quem foi a minha irmã”, comentou emocionada Márcia Regina. Roselene Aparecida Ferro, faleceu em setembro de 1994, aos 30 anos de idade, vítima de um crime que abalou a opinião pública bauruense.



Formada em administração de empresa, Roselene era auxiliar de bibliotecária na Unidade de Ensino e Pesquisa do Centrinho. Foi uma pessoa sempre muito disposta a ajudar as pessoas, muito dedicada ao próximo. “Essa homenagem representa tudo que ela gostaria de ter feito e a proposta do Lar de se dedicar ao próximo não pode como melhor expressar isso”, acrescentou a psicóloga, revelando que a escolha do nome Roselene para o Lar, partiu do próprio superintendente do Centrinho, Prof. Dr. José Alberto “Gastão” de Souza Freitas.



Quando eu disse no começo deste artigo que eu conheço a obra do Lar desde o seu início, não foi por acaso. Mas do que isso, tive o prazer de conhecer e ser amigo durante algum tempo de Roselene. Digo que ela foi um sonho bem vivido. Lembro-me que na ocasião da morte de Roselene, surgiram muitas histórias e boatos destorcidos não verdadeiros, e inclusive, envolvendo o seu carárter e personalidade. Hoje afirmo com um profundo orgulho que o reconhecimento e escolha de seu nome para o Lar, representa o reconhecimento ao seu humanismo, a sua fé e seu otimismo na vida e em especial sua contribuição para o desenvolvimento e crescimento do Centrinho. A partir da escolha de seu nome, ela entrou agora para história e passa a ter seu nome perpetuado em mais uma luta e realização social bauruense. E tenho um profundo orgulho de afirmar isso!

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