O PSICÓLOGO E AS POSIBILIDADES DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA - Por Emílio Figueira


Como em todas minhas palestras, para compensar minha dificuldade de dicção e ser entendido pela plateia, escrevo, minha irmã Ana Luiza grava o texto e monto em vídeo para passar o conteúdo.
O que também é uma forma de demonstrar como uma pessoa com deficiência usa a tecnologia ao seu favor. Inclusive para se expressar, fazendo-se ser entendida.
Bem, vamos lá...


NOVAS VISÕES ACADÊMICAS

Mementos atrás eu apresentei o vídeo com minha biografia. Ali minha palestra já havia começado. No fundo, eu não estava querendo me vangloriar com a minha história. E sim, mostrar em suas entrelinhas que não há limites na vida de qualquer pessoa, tenha ela deficiência ou não.
E nós psicólogos podemos tanto acrescentar positivamente, quanto negativamente na vida de uma pessoa...
Desde minha graduação em psicologia, venho estudando os conteúdos das disciplinas que abordam essas temáticas nas universidades brasileiras. A maioria continuava apenas ensinando o que são pessoas com deficiência, enquanto já avançamos.
Agora, na era da inclusão, precisamos discutir como essas pessoas podem e devem participar da sociedade como um todo. Um conteúdo mais atualizado, tanto às disciplinas ministradas nas faculdades de psicologia, como para todos os psicólogos que já estão no mercado de trabalho.
Creio que a primeira grande mudança precisa ser nos bancos acadêmicos. Defendo para essas disciplinas o título Psicologia e Pessoas com Deficiência.  Não temos a necessidade de sustentar a existência de uma sub-área específica chamada Psicologia da Deficiência (ou em pior grau, manter-se o título Psicologia do Excepcional).
Isto porque, a Psicologia precisa encarar e tratar pessoas com deficiência como as demais, sem cria uma Psicologia específicas à elas. E sim desenvolver uma nova mentalidade em estimular uma linha de trabalho, no qual o papel do psicólogo deva intervir na busca da superação das limitações.

ATUAÇÃO DE NÓS, PSICÓLOGOS

Se antes a pergunta era “O que são pessoas com deficiência?”, hoje a pergunta precisa ser “Como nós psicólogos devemos atuar para ajudar as pessoas com deficiência a ter mais autoestima e uma vida plena?”.
Lev Vygotsky abordou de forma pioneira e sistemática assuntos relacionados à criança ou pessoa com deficiência com grande significado, gerando ideias e um novo modo de ver tais questões, descrevendo que essas pessoas têm dos tipos de deficiências:
Deficiência Primária – trata-se da deficiência propriamente dita – impedimento, dano ou anormalidade de estrutura ou função do corpo, restrição/perda de atividade, sequelas nas partes anatômicas do corpo, como órgãos, membros e seus componentes, incluindo a parte mental e psicológica com um desvio significativo ou perda.
Deficiência Secundária – são as consequências, dificuldades e desvantagens geradas pela primária. Ou seja, tudo aquilo que uma pessoa com deficiência não consegue realizar em função de sua limitação. Uma situação de desvantagem às demais pessoas sem deficiência, podendo o indivíduo encontrar limitações na execução de atividades, restrições de participação ao se envolver em situações de vida em ambiente físico, social e em atitude no qual as pessoas vivem e conduzam sua vida.
A partir dessa divisão, Vygotsky passou a defender que profissionais de saúde e educadores precisam enfatizar suas atividades em ajudar a pessoa a superar suas deficiências secundárias e não focar nas deficiências primárias.
O Brasil está chegando a 48 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência. Essa quantidade passou a ter um peso significativo na sociedade.
Pessoas que nas últimas décadas, não contentes com o isolamento social, resolveram “colocar a cara na rua”, visando conquistar o seu lugar no seio social.
Presentes hoje em todos os segmentos deixaram de ser os “coitadinhos” para ser um público consumidor, produtivo, sabedor de onde realmente quer chegar e exigente de bons serviços. Consequência disso é que cada vez mais o contexto social está se vendo obrigado a promover e se adaptar à política da inclusão social para recebê-las.
Precisamos gerar psicólogos mais preparados para atendê-las em suas necessidades específicas e, em muitos casos, psicólogos para serem o elo dessa inclusão social, mediadores entre o real e o ideal.
Considerando o grande número de pessoas, hoje em qualquer lugar que um psicólogo for atuar, deparará com esse público:
Se for para área organizacional, as empresas devem ter uma cota mínima dessas pessoas contratadas;
No setor educacional está sendo discutido, implementado e garantido, por força da lei, a inclusão escolar;
No setor hospitalar, elas ficam doentes como as demais;
Na clínica, mesmo se o psicólogo não atender diretamente essas pessoas, atenderá seus parentes.
Na inclusão, as iniciativas são da sociedade. E a Psicologia tem muito a colaborar nesse processo, onde a sociedade se adapta para poder incluir em seu contexto as pessoas com deficiência.
Mas, por outro lado, essas mesmas pessoas precisam ser “preparadas” para assumir seus papéis na sociedade, o que abre várias possibilidades de atuações psicológicas.
Será uma forma de parceria entre toda a sociedade, visando equacionar problemas, decidindo sobre soluções, efetuando equiparações de oportunidades para todos.
Estaremos, assim, realmente criando no relacionamento prático entre a Psicologia e pessoas com deficiência, na busca do ser humano por de trás da pessoa com qualquer tipo de limitação.
Suas reais necessidades, interações sociais, educacionais, relacionamentos familiares e afetivos, necessidades de atividades profissionais e, sobretudo, suas verdadeiras potencialidades a serem estimuladas de forma individual e coletiva.
Porém, mais do que falar de teorias, quero falar de atitudes. Leia sobre inclusão e qual o papel do psicólogo nesse processo. Hoje além de muitos livros, temos uma infinidade de materiais gratuitos no mundo virtual.
E quando estiver atendendo clinicamente ou acompanhando o caso de inclusão escolar de um aluno, ou de uma pessoa com limitações, estude ao máximo as particularidades de sua deficiência, realidade em seu entorno e suas reais potencialidades.
Aliás, perdoem-me a sinceridade, mas qualquer psicólogo que não tenha o hábito de leitura e de se aperfeiçoar sempre, nem deveria estar na profissão!

SENTA QUE LÁ VEM HISTÓRIA...

Para terminar, neste momento em que comemoramos o DIA DO PSICÓLOGO, quero falar de humanidade.
No começo eu joguei no a ar esta colocação:
Nós psicólogos podemos tanto acrescentar positivamente, quanto negativamente na vida de uma pessoa?
Vou contar um depoimento pessoal. Logo que me mudei para Bauru, saindo de uma cidade de seis mil para uma de 320 mil habitantes, eu estava totalmente sem rumo. Fui procurar uma renomada instituição brasileira que tinha por missão empregar pessoas com deficiência.
Ao passar pela entrevista com a psicóloga, ela me perguntou o que eu gostaria de fazer profissionalmente. Disse-lhe que tinha o desejo de continuar no jornalismo, como já fazia em Guaraçaí. Ela me disse na lata:
- Você não pode ser jornalista, você é um deficiente...
Eu simplesmente me levantei, agradeci, virei as costas e fui embora. Jamais deixei alguém me dizer o que posso fazer ou não da minha vida.
Será que se eu tivesse dado ouvidos àquela psicóloga, teria construído essa caminhada que me trouxe até aqui? Será que hoje eu estaria me pronunciando perante vocês?
Então fica aqui uma última dica. Jamais duvide ou limite os desejos e projetos de um paciente, tenha ele deficiência ou não. O destino de cada um, a história que ele viverá só Deus sabe. O papel do psicólogo é sempre de apoiar, ajudar e nunca de julgar ou limitar!
E, antes de qualquer coisa, acredite em você mesmo enquanto psicólogo e nas contribuições que possa dar para uma sociedade realmente inclusiva. Isso já será um grande começo.
O psicólogo deve ser um suporte seguro que lança seus assistidos rumo as infinitas possibilidades!!!

Meu muito obrigado pela a atenção!

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