O PSICÓLOGO E A EDUCAÇÃO INCLUSIVA – Por Emílio Figueira


Recebo quase que semanalmente vários e-mais de estudantes e profissionais da psicologia me perguntando: Qual o papel do psicólogo na inclusão? Isto até me levou a escrever o livro “Psicologia e Deficiência – Atuações psicológicas em pessoas com deficiência”.

Mas hoje vou falar especificamente sobre Educação inclusiva e sua provisão de oportunidades equitativas a todos os estudantes, incluindo aqueles com deficiências severas, para que recebam serviços educacionais eficazes, com os necessários serviços suplementares de auxílios e apoios, em classes adequadas à idade em escolas da vizinhança, a fim de prepará-los para uma vida produtiva como membros plenos da sociedade. A LDB dá abertura também à atuação do psicólogo quando diz que “haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola regular, para atender às peculiaridades da clientela de educação”.


Dentro de várias possibilidades, muitas vezes os psicólogos dentro do processo de Inclusão precisarão interceder nos Transtornos Globais do Desenvolvimento ditos na LDB. Os TGD são distúrbios nas interações sociais recíprocas que costumam manifestar-se nos primeiros cinco anos de vida. Caracterizam-se pelos padrões de comunicação estereotipados e repetitivos, assim como pelo estreitamento nos interesses e nas atividades.  A “Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento” (CID-10), define nove categorias que formas o conjunto F.84: Autismo infantil, Autismo atípico, Síndrome de Rett, Outro transtorno desintegrativo da infância, Transtorno com hipercinesia associada a retardo mental e a movimentos estereotipados, Síndrome de Asperger, Outros transtornos globais do desenvolvimento, Transtornos globais não especificados do desenvolvimento.

Com relação à interação social, crianças com TGD apresentam dificuldades em iniciar e manter uma conversa. Algumas evitam o contato visual e demonstram aversão ao toque do outro, mantendo-se isoladas. Podem estabelecer contato por meio de comportamentos não-verbais e, ao brincar, preferem ater-se a objetos no lugar de movimentar-se junto das demais crianças. Ações repetitivas são bastante comuns.

Os TGD também causam variações na atenção, na concentração e, eventualmente, na coordenação motora. Mudanças de humor sem causa aparente e acessos de agressividade são comuns em alguns casos. As crianças apresentam seus interesses de maneira diferenciada e podem fixar sua atenção em uma só atividade, como observar determinados objetos, por exemplo.

Na comunicação verbal, essas crianças podem repetir as falas dos outros – fenômeno conhecido como ecolalia – ou, ainda, comunicar-se por meio de gestos ou com uma entonação mecânica, fazendo uso de jargões.

Estas são orientações que nós psicólogos poderemos passar aos professores e/ou orientadores pedagógicos. Começando por evitar atitudes que agravam os problemas emocionais desses alunos: forçar a criança a ficar no espaço sem dialogar: ridicularizar seus sentimentos; usar chantagens e subornos; ignorar o medo para ver se a criança esquece.

Na escola, mesmo com tempos diferentes de aprendizagem, esses alunos devem ser incluídos em classes com os pares da mesma faixa etária. Estabelecer rotinas em grupo e ajudar o aluno a incorporar regras de convívio social são atitudes de extrema importância para garantir o desenvolvimento na escola. Boa parte dessas crianças precisa de ajuda na aprendizagem da autorregulação e estas são sugestões pedagógicas e serem trabalhadas na sala de aula:

Fazer da organização da sala uma rotina diária, com recursos visuais e auditivos;
Dividir as atividades em atividades menores;
Iniciar as aulas pelas atividades que requerem atenção, deixando para o final aquelas que são mais agradáveis e estimulantes;
Utilizar música ao fundo, proporcionando um clima agradável, harmonioso e tranquilo;
Adotar uma atitude positiva, com elogios e “recompensas” por comportamentos adequados. Isto criará um equilíbrio em relação às chamadas de atenção para os alunos com TDAH quando eles fazem algo errado.
Em nosso trabalho junto aos professores devemos insentivá-los sempre que for preciso, deve-se dividir dúvidas com a coordenação e com os colegas quando receber uma criança com necessidades especiais. Jamais reduzir o aluno à sua deficiência. Apesar de ter características peculiares, ele tem possibilidade e carrega uma história e muitas expectativas que o tornam único. Conversar constantemente com outros especialistas que tratam criança, pois eles podem ajudar a pensar em estratégias para lidar com o aluno. E nós psicólogos devemos está preparados para receber esses professores para esses diálogos. Não se esquecer, porém, de que quem sabe como ensinar a criança é o professor.

Há várias contribuições que nós, enquanto psicólogos, podemos dar à Educação Inclusiva. Muitos psicólogos estão trabalhando na formação pedagógica ou continuada de professores. E uma das primeiras tarefas quando falamos de Educação Inclusiva será levá-los à refletir que, ao contrário do que possa parecer, incluir o aluno com deficiência, não significa apenas colocá-lo em uma classe de uma escola de ensino regular e pronto! Será necessário todo o preparo dos professores e certas adaptações antes. Adaptações de grande porte (de responsabilidade exclusivas dos órgãos federais, estaduais e municipais) e de pequeno porte, cabendo aos professores especializarem para saber como transmitir ensinamentos para qualquer tipo de aluno.


COMO REFERENCIAR ESTE ARTIGO:

FIGUEIRA, E. O Psicólogo E A Inclusão Escolar. In: Revista Profissão Mestre. Curitiba, num. 194, pag. 12-13, novembro de 2015.

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