Termos pejorativos



Publicado em 10/02/2003



Infelizmente, muitos termos ainda são utilizados de forma discriminatórias e sem qualquer tipo de preocupação em nossos dias atuais. Termos como “aleijados, chumbados, mutilados, paralíticos, paralisados, defeituosos, inválidos, incapacitados, mongóis. mongolóides, excepcionais, retardados surdos-mudos, mudinhos, anormais, débis, inválidos, ceguinhos” e tantos outros, sem qualquer tipo de  preocupação com o seu emprego ortográfico ou em conversas cotidiana. Encontraremos ainda, em alguns livros e artigos sobre deficiência, a infeliz expressão “pessoas fisicamente diminuídas”. Vale relembrar que são todos termos que retratam conceitos e reforçam preconcei­tos, gerando os estereótipos.



Poderíamos aqui pegar inúmeros exemplos, mas neste universo, temos um que vem sendo bem bombardeado em nossos dias atuais: a verbete “excepcional”. Não temos certo a data que ela começou a se figurar no cenário brasileiro; mas há quem afirme que “excepcional” foi um termo criado pela elite. Ou seja, pais de crianças portadoras de deficiências (principalmente mentais), não querendo igualá-las com as menos favorecidas financeiramente, além de tentar amenizar sua imagem perante a sociedade, criaram tal classificação.






Há muitas divergências entre os dicionários. Em alguns, “excepcional”, é algo que ultrapassa os limites, sendo digno de nossa admiração; em outros, trata-se de indivíduos com “problemas” totalmente fora dos padrões “considerados normais” pela sociedade. E com isso, ela veio todos esses anos sofrendo uma conotação mais negativa do que positiva. Hoje, quando se diz que uma pessoa é “excepcional”, estamos dizendo, ao mesmo tempo que ela é uma exceção na sociedade, ou seja, que é alguém que deve ficar de fora. Mas o portador de deficiência é apenas uma pessoa portadora de algumas limitações e, mesmo com estas limitações, pode conviver em sociedade, desde que haja adaptação a esta convivência.



Desde 1981 (Ano Internacional da Pessoa Deficiente), organismos ligados à ONU, fazem uma avaliação dos termos utilizados em todo mundo, e sempre taxaram “excepcional” de altamente preconceituoso. Porém, não entendemos como, às portas do século XXI, muitas instituições e órgãos que se dizem representantes legais dos movimentos pela integração social, continuam usando o termo de forma discriminada. Por exemplo, às universidades mantém o título de um de seus cursos de “Psicologia do Excepcional”. Sem mencionar ainda a famosa “Semana do Excepcional “, realizada sempre no final do mês de agosto, e que, segundo o Consultor Internacional em Reabilitação, Otto Marques da Silva, “traz no próprio título o estigma que deseja combater“. Silva, recorda-se ainda, que na década de 60, um profissional da área de humanas de alta qualidade técnica, já lhe dizia: “Excepcional, em sua pior conotação, foi quem inventou o termo”.



Outro termo que podemos pegar também para exemplo pejorativo, é a palavra “mongolismo” usada socialmente para classificar os portadores da síndrome de Down. Sua raiz é bem antiga. Quando foi descoberta, em 1866, pelo médico inglês John Langdon Down, este considerou a síndrome como uma regressão às raças então consideradas inferiores, criando o termo “Mongolian Idiots” (idiotas mongóis). Esta expressão chegou ao Brasil e a outros países, também, como “mongolóides”. Hoje, pais, amigos e os próprios portadores da síndrome de Down vêm manifestando o desejo de não ver mais utilizado este termo, mas outro que não os classifique como uma espécie de “cachorro-de-meia-raça” e nem seja usado pelas ruas como sinônimo pejorativo de idiota total, quando se xinga pessoas ditas normais. O primeiro movimento para normalizar esta questão, partiu do “Projeto Down”, lançado em 1984, pelo jornalista Gilberto Di Pierro (o Giba Um, colunista social), com o apoio e ajuda de vários especialistas. A entidade lançou uma primeira cartilha, onde fica estabelecido, assim, que se deve dizer, por exemplo: “Maria é portadora da síndrome de Down.”, ou “Maria é uma menina com síndrome de Down.“. Pode-se usar também palavra “Down” como um termo simples: “Antônio é uma criança Down.”.



 Outro ponto que precisamos destacar, é com relação ao uso discriminado da expressão pessoas normais. Isso é totalmente errado!!! Não existem pessoas normais e pessoas não-normais. Todos nesse mundo somos iguais, ou seja, todo mundo é pessoa, independente de qualquer diferença de cor, sexo, nacionalidade, formação cultural ou de portar ou não uma deficiência.



 Importante ainda termos em mente que nem todos são iguais e se encaixam numa única terminologia. Como ressalta a professora Lígia Assumpção Amaral, “vale lembrar que toda generalização gera empobrecimento da compreensão”! Ou como relembra a professora, a frase de um antiquérrimo filósofo: “Toda generalização é perigosa, inclusive esta“.







Uma luta recente



De repente, o Brasil está assistindo um novo movimento em torno dos portadores de paralisia cerebral, uma deficiência física originada de lesão cerebral, de qualquer ordem, geralmente adquirida antes, durante e, às vezes, após o nascimento. Ainda muito cheia de conceitos errados e altamente estereotipada, segundo o médico Schwartzman, “o termo Paralisia Cerebral (PC) tem sido utilizado desde a segunda metade do século passado para se referir a um grupo muito heterogêneo de pacientes que apresentam, em comum, um prejuízo motor decorrente de uma condição não progressiva, adquirida antes dos dois primeiros anos de vida (…)”.



O médico segue em outro ponto, dizendo que “apesar de consagrado pelo uso, várias tentativas têm sido feitas no sentido de se mudar este nome para outro, talvez mais apropriado e menos sujeito a interpretações errôneas (…)”.



A Paralisia cerebral que, apesar de seu nome, não significa exatamente a paralisação do cérebro, mas sim lesões cerebrais que mandam ordens incorretas aos músculos do corpo, gerando movimentos involuntários. Geralmente, a PC afeta apenas o sistema motor da pessoa, permitindo-lhe inteligência normal, o que a leva a poder cursar escolas e a buscar vitórias e conquistas na vida. Diante dessa rápida exposição, somos sinceros em dizer que nunca gostamos do termo: Paralisia Cerebral! Ela soa algo que não condiz com a realidade dos portadores desse tipo de deficiência. A desinformação sobre o que realmente é Paralisia Cerebral, leva muitas vezes, seus portadores a serem confundidos e tratados como se tivessem deficiências mentais. Pessoalmente, acreditamos que o termo mais correto deveria ser “Paralisia Motora” mesmo porque, as dificuldades são em coordenar fala e movimentos.



Concluindo, há quem acredite e até diga que não é tão importante os termos usados, mas sim os demais segmentos da deficiência. Isso não passa de um certo comodismo, pois quem quer mudar algo, ou luta por uma nova reforma social (a integração do portador de deficiência, por exemplo), não pode abrir mão de nenhum detalhe, por mais simples que ela possa parecer. Às vezes, usamos termos que todos usam, mas, sem sabermos, reforçamos preconceitos. As palavras são expressões verbais criadas a partir de uma imagem que a nossa mente constrói.

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