Virgínia, uma biografia



Algumas biografias de artistas são bem interessantes. E a de Virgínia Vendramini, deficiente visual, é uma delas…



Publicado em 05/09/2005



Artista plástica, poetisa, coralista e professora de Língua Portuguesa do Instituto Benjamim Constant, Rio de Janeiro de 1968 até 2000, quando se aposentou para que pudesse se dedicar integralmente às suas aptidões criativas, Virgínia Vendramini tem muito a contar. Basta darmos uma olhada em seu site www.virginiavendramini.com.br.



Com visão residual até os 16 anos, quando ficou definitivamente cega devido a glaucoma, Virgínia passou grande parte da infância em contato com tintas e aquarelas, influenciada pelos pais. Na tapeçaria, pôde se envolver novamente com cores, ainda muito vivas dentro de si. Nascida na cidade paulista de Presidente Prudente, vive no Rio de Janeiro desde 1961, sendo formada em português e literatura pela Universidade Gama Filho.






Apaixonada pelas cores, seu forte são as tapeçarias com totalidades muito vivas, lembrando caleidoscópio em geometria. Essas obras, que levam em média dois meses para ficarem prontas cada uma, ela aprendeu a arte de tecer examinando outros trabalhos. As lãs são compradas sempre com a mesma pessoa, um vendedor com sensibilidade de artista, que compreende e respeita suas concepções originais. Ela diz que o desenho é um processo que vai se “auto-definindo” à medida que o trabalho vai crescendo. Nem a quantidade nem a distribuição das cores são elementos pré-definidos. Para confeccionar um tapete, o primeiro traço conduz ao seguinte; e, não raro, a partir de um erro, pode nascer uma nova ideia totalmente diferente do original.



Em reconhecimento ao seu trabalho e talento, em 1999, durante uma exposição comemorativa dos 190 anos de nascimento de Louís Braille, a artista plástica recebeu o convite para que seus trabalhos fossem retratados nos cartões da empresa carioca de telefonia Telemar. Foi procurada por um representante da empresa e enviou algumas fotos de tapetes que poderiam se transformar em cartões. Para sua surpresa, todos foram aprovados e cópias de oito de seus trabalhos passaram a circular estampadas nos cartões da Telemar,



E, como criar é o seu forte, Vírgínia vem exercitando traços novos na pintura a dedo, procurando uma nova técnica, uma outra forma de expressão. Em uma das muitas entrevistas que já deu, a artista declarou certa vez: “Você não domina a arte. Ela é quem te leva. O processo vale também para a poesia. Eu não escrevo quando quero, mas sim quando a arte permite que eu escreva”.



Seu primeiro livro de poesias foi “Rosas Não”. Posteriormente vieram “Primavera Urbana” (Rio de Janeiro: Blocos, 1996) e “Hora do Arco-Irís“, vencedor do “Prêmio Murilo Mendes – 1998”, além de ter várias suas poesias já incluídas em três antologias, sua participação está confirmada para outras cinco, tendo ainda mais dois livros prontos. Tudo é escrito por ela mesma no computador, através do programa DOSVOX, permitindo que tenha desenvoltura e agilidade necessárias para mandar seus textos para editores e concursos, sem depender de ninguém. Sobre sua poética, o editor Aníbal Albuquerque escreve: “A qualidade de sua produção poética é responsável pelas continuadas premiações que tem conquistado em concursos literários de todo país. Possuidora de grande sensibilidade, domínio do idioma prático e poder criativo, Virgínia compõe poemas magníficos e vigorosos, em que a musicalidade permite uma leitura agradável de conteúdo enriquecedor de seus versos”.



São inúmeras as publicações e reportagens escritas sobre ela. Confessa em uma delas que, no início, havia uma certa relutância em divulgar seus trabalhos, pois não queria ser reconhecida apenas pelo fato de ser uma pessoa cega fazendo arte. Usando pseudônimo, foi vencedora em um concurso de poesia. A partir daí,sua autoconfiança foi se firmando. Um processo longo, em que a participação no coral do IBC teve vital importância, já que além de cantar, ela exercia atividades de relações públicas e divulgação.



Além de suas atividades criativas, Virgínia também desenvolve um trabalho no Instituto Oscar Clark (Instituto de Medicina Física e Reabilitação), onde ensina Braille para as pessoas que perderam a visão recentemente. Sua maior preocupação, no entanto, é fazer com que essas pessoas aceitem sua nova condição visual, mostrando que elas ainda podem, com determinação, fazer o que quiserem.



Para finalizarmos, brindamos o leitor com os versos “Céus e Mares”, de Virgínia Vendramini:



Dentro da luz do pensamento, se desdobra meu ser em ondas claras, que rolam, que se enroscam em espirais.

Na luz azul viajo mil caminhos, visito outras terras, eras remotas de onde volto carregando sonhos…

Depois, no mar azul dos sentimentos, feliz, deixo que as correntes me levem nas águas, procurando minha essência…

Mergulho. Bebo então de muitas fontes… São doces, são amargas, são ardentes…

E é nessa mistura que encontro a vida.

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