O ESCRITOR QUE NÃO SERIA ALFABETIZADO

 


Quando fiquei com paralisia cerebral durante o meu parto no
final dos anos 1960, com sérios danos na fala e na coordenação motora, para
grande parte das pessoas que me conheciam, eu já estava com o meu destino
traçado. Ser dependente das outras pessoas, isolado dentro das instituições.
Ainda mais naquela época onde nós, pessoas com deficiência, vivíamos totalmente
excluídos da sociedade.



Alguns médicos chegaram a dizer que eu nem seria
alfabetizado. 



Só que meus pais não acreditaram nisso, ensinando-me a ler e
escrever aos cinco anos de idade, quando descobri o mundo das letras, comecei a
escrever meus primeiros textos e dizia que seria um escritor. Aqui está o
primeiro e fundamental pilar da minha vida. Desde bebê, minha família nunca
duvidou de mim, sempre procurou os recursos terapêuticos e educacionais.
Tratou-me com igualdade com minhas irmãs e demais crianças, empurrando-me para
a vida e todas as possibilidades.



O tempo passou...



Hoje muitas pessoas se espantam ao saberem que, mesmo com
paralisia cerebral, tenho três graduações, cinco pós-graduações e dois
doutorados. Tenho mais de 80 livros editados, 98 artigos científicos
publicados. E, enquanto jornalista, já publiquei mais de 500 textos. Grande
parte voltados às questões humanitárias! Tive cursos gratuitos online de
Educação Inclusiva que oferecia gratuitamente, atingindo mais de 30 mil
pessoas. Viajo sozinho todo o Brasil fazendo palestras, o que é uma grande
superação, pois me viro em aeroporto e hotéis sem apoio daquelas pessoas que
sempre estão a minha volta.



Agora fico imaginando... Quando pequeno, alguns médicos
disseram que eu não seria alfabetizado. Hoje sou grato à minha família e aos
professores que me incluíram em escolas públicas, desde o primário até a vida
acadêmica, pois eles não pensavam assim. 
Por intermédio da Educação Inclusiva, da equidade e do convívio escolar,
o futuro dessas crianças está garantido, e suas conquistas pessoais pela vida o
destino se encarregará com belas surpresas!



Publicado em 13/10/2020



#pracegover - foto em branco e
preto, Emilio diante de uma máquina de escrever

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