Estadão: O Racismo E O Ódio No Brasil Das Mudanças Sociais


Artigo publicado no Estadão, blog do jornalista Fausto Macedo, em 13 de outubro de 2022

O mundo está assistindo um legítimo e importante movimento antirracista. E em nosso país esta questão não é diferente. 

Nos últimos tempos, o Brasil está vivendo uma grande onda de racismo e injúria racial. Se por muitos anos em terras brasileiras vivemos a ilusão de um país calmo, cordial e pacífico, acolhendo todos por igual, as redes sociais, com sua falsa sensação de anonimato, principalmente por quem se esconde por trás de pseudônimos nas colunas de comentários, tem liberado várias pessoas da Sombra, arquétipo cunhado por Carl Jung, mostrando o lado obscuro e maldoso da personalidade e da natureza humana, contendo instintos animais e primitivos.

Tantos já escreveram sobre suas causas culturais, criamos leis de combate e ações educacionais, dentre outras iniciativas. E todas as formas de combate por força da lei e punições ao racismo, injúria racial, ódio e qualquer sorte de preconceito é totalmente válida e necessária. 

Longe de mim querer afirmar categoricamente que racismo e ódio são doenças. Quero apenas jogar um pouco mais de luz a esse debate, falando também das questões psíquicas que envolvem essas manifestações agressivas e os mecanismos inconscientes de seus praticantes.

A princípio, já digo que pessoas que praticam o racismo e ódio têm uma profunda limitação mental em reconhecer na figura do outro seu semelhante. Isso porque a figura do outro é como um “espelho perturbador” que traz à tona seus medos e Complexos de Inferioridade, obrigando-o a ter que rebaixar a outra pessoa para sentir-se bem em seu ego fragilizado, onde o Impulso Agressivo surge pela necessidade de destruir, subjugar e matar o objeto ameaçador, mesmo que seja de forma simbólica em falas depreciativas nas redes sociais.  

Em contraponto, o racista se revela pelo Complexo de Superioridade, mecanismo subconsciente de compensação neurótica desenvolvido por ele como resultado de sentimentos de inferioridade, frequentemente despertado por rejeição social. Pessoas com comportamentos racistas projetam seus sentimentos de inferioridade nos outros, rebaixando-os como seus inferiores, possivelmente pelas mesmas razões que podem ter sido colocadas em ostracismo, isto é, encarando os outros como "feios", "estúpidos", “inferiores”. 

Acusações de arrogância e insolência são frequentemente feitas pelo indivíduo que manifesta o Complexo de Superioridade, incluindo opinião suas exageradamente positiva do valor e capacidade própria. São pessoas com tendência para desacreditar opiniões alheias, esforços direcionados à dominação daqueles considerados mais fracos ou menos importantes, sem credulidade e outros.

Nas últimas décadas no Brasil e no mundo, as chamadas minorias estão se organizando em movimentos, ações e usando dos direitos, das leis e das políticas afirmativas para construir o seu lugar na sociedade. Isso passou a incomodar em muito algumas das pessoas mais fragilizadas das colunas tradicionais e suas sensações de seguranças psíquicas em zonas de conforto. 

Sentindo-se ameaçados por tais mudanças sociais, parte dessas pessoas temem que o novo, o considerado “diferente”, pode derrubar seus mundos idealizados por guias morais como sendo os únicos e corretos. E uma maneira que algumas dessas pessoas mais fragilizadas, sentindo-se ameaçadas em suas convicções encontram para se aliviar inconscientemente, revelam-se pelo arquétipo da Sombra, atacando quem toca em seus medos de tais mudanças, é odiar o diferente de todas as formas, principalmente em manifestações racistas.

O ser humano odeia com muita facilidade, sendo uma interrupção do pensamento e uma irracionalidade paralisadora. Como pensar é árduo, odiar é fácil por ser o ópio da mente que intoxica e impede todo e qualquer incômodo. E o principal de tudo. O ódio tem um traço do nosso narcisismo infantil.

Há tempos a cultura brasileira está nos empurrando para um pânico narcísico que ameaça o sujeito em seu sentimento de importância e isso é muito perigoso nesse espetáculo de ódio. Movimento de massa como nunca se viu, dizendo muito sobre o que somos e fazemos, pois muito fácil e rapidamente somos levados para a agressividade. 

Bastou tocar em alguma mutilação narcísica, não somente no corpo, mas em nossas ideias, valores, pensamentos, o ódio vem, porque é “algo meu” que está em jogo.

Esse ódio exacerbado alimenta a Intolerância, uma atitude mental caracterizada pela falta de habilidade ou vontade em reconhecer e respeitar diferenças em crenças e opiniões. Manifestações racistas e os ódios inconscientes são mais venenosos do que os externos. 

Essas pessoas odeiam não porque sinta a total diferença do objeto do seu desprezo, mas porque teme ser idêntico a ele. Elas podem aceitar muitas coisas, menos o “espelho perturbador” que revela as coisas que elas tentam esconder. 

Em suma, as redes sociais se tornaram grandes divãs coletivos, onde atos racistas, ódios e preconceitos, psicanaliticamente, falam menos das vítimas e muito mais de quem manifesta intolerância, revelando-se pessoas infelizes, com históricos de sofrimentos que contribuíram com sua baixo autoestima. E ao atacarem o outro, sem perceber, essas pessoas expõem publicamente nas redes sociais suas próprias fragilidades, mutilações psíquicas e profundas limitações mentais.


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