Uma coisa que sempre procurei definir bem, é a diferencia entre encantamento, paixão e amor. Três sentimentos distintos, mas que todos nós passaremos por eles ao longo da vida de formas e intensidades diferentes.
O primeiro que chamo de Encantamento, muitos denominam como enamorado. Definições a parte, quem estar neste estado, mantém o emotivo mais estável e perfeita lucidez e domínio de si, mesmo que seus efeitos sejam semelhantes ao do apaixonado. Na relação a dois enamorados surge um forte sentimento de solidariedade ao outro, crescendo com o passar dos anos, fundamentando-se nos valores que se constroem juntos. Solidificando a relação, o casal desenvolve condições de enfrentar as adversidades, buscando suas razões no passado de valores que compartilham, defendem e preservam. Vive da satisfação do momento presente ou da recordação do passado recente. Quando nos enamoramos, criamos condições para que nasça uma relação a dois, permitindo um sentimento espontâneo de emoção e vontade de se esforçar, ser criativo, buscar motivos, fundamentando suas razões nos valores que se construíram a dois.
Já a Paixão é outro estado emocional que classifico como sendo perigosa. Ela pode ser descrita como uma emoção de ampliação quase patológica e dolorosa do amor, levando uma pessoa a perda de sua individualidade, identidade e o seu poder de raciocínio em função do fascínio que o outro exerce sobre ela. Hoje para ciência, medicina e psicologia, a paixão, por ser algo muito mais passageiro que o amor, uma patologia deste, com o passar do tempo será rompido o véu da idealização do outro. Consequência, a pessoa cai na realidade, transformando-se a paixão em amor, ou nada restando do sentimento afetivo.
Estudos sobre sentimentos indicam que o estado de paixão muito dificilmente ultrapassa os três anos. Mas durante o período, esse sentimento exacerbado entre duas pessoas, pode ultrapassar barreiras sociais, diferenças de formação, idades e gêneros. Quando completamente correspondida, causa grandiosa felicidade e satisfação ao apaixonado. Mas se não, qualquer dificuldade para atingir essa plenitude originará grande tristeza, pois o apaixonado só se vê feliz ao conseguir o objeto de sua paixão.
Ela é um sentimento mais vulnerável aos adolescentes devido ao pouco conhecimento de mundo entre outras coisas. Mas pessoas de maior idade também são passíveis de tal sentimento – embora elas, por ter maior conhecimento de mundo e vivenciado maiores experiências, poderão estar sujeitas a não perder a razão e deixar-se dominar pelo peso do sentimento que se resume em desejar, querer a todo custo o calor do corpo de outro, a necessidade de ver e tocar a pessoa por qual se apaixonou. Como um vício, a paixão debilita a mente de forma a focar somente para a pessoa cujo seu pensamento está. E qualquer outro pensamento é momentâneo e irrelevante para o apaixonado.
No campo dos sentimentos há também o Limerence (ou limerância), um estado cognitivo e emocional involuntário, no qual uma pessoa sente um intenso desejo romântico para com outra pessoa, podendo durar meses, anos, ou até pelo resto da vida. Variando entre uma intensa alegria ou desespero extremo, tal estado depende da reciprocidade do objeto (a outra pessoa!). O termo – equivalente na linguagem cotidiana ao “ter uma queda por alguém” -, foi cunhado em 1977, pela psicóloga norte-americana Dorothy Tennov nos anos 60. Entrevistando mais de 500 pessoas dentro do assunto amor, essa descrição de sentimento foi publicada no livro “Love and Limerence: The Experience of Being in Love” no ano de 1979.
Agora vou falar de Amor. Ao mesmo tempo em que é um dos sentimentos mais nobres, o amor têm múltiplos significados na língua portuguesa, significando afeição, compaixão, misericórdia, inclinação, atração, apetite, paixão, querer bem, satisfação, conquista, desejo, libido, etc. De modo geral, é a formação de um vínculo emocional com alguém, ou com algum objeto que seja capaz de receber este comportamento amoroso e alimentar as estimulações sensoriais e psicológicas necessárias para a sua manutenção e motivação. As características do amor são das mais diversas formas: amor físico, amor platônico, amor materno, amor a Deus, amor à vida.
É o tipo de amor que tem relação com o caráter da própria pessoa e a motiva a amar (no sentido de querer bem e agir em prol). As muitas dificuldades que essa diversidade de termos oferece, em conjunto à suposta unidade de significado, ocorrem não só nos idiomas modernos, mas também no grego e no latim. O grego possui outras palavras para amor, cada qual denotando um sentido específico. No latim encontramos amor, dilectio, charitas, bem como Eros quando se refere ao amor personificado numa deidade.
Amar também tem o sentido de gostar muito, sendo possível amar qualquer ser vivo ou objeto. Exemplo, temos o chamado Amor Platônico, oriundo da filosofia de Platão, esse pensador grego dos primórdios, descrevia um amor ideal, alheio a interesses ou gozos. No sentido popular o consideramos como um sentimento oculto, um amor impossível de se realizar, mas um amor perfeito, ideal, puro, casto.
Por meio do amor original, toda forma de amar, não importando os níveis – social, afetivo, paternal ou maternal, fraternal, entre irmãos e companheiros – deve obrigatoriamente ser permitido com base a um sentimento de reciprocidade capaz de dar início e alargar as relações de afetividade entre duas ou mais pessoas ou seres que estão em contato e que por ventura vêm a nutrir um sentimento de afeição ou amor entre si. Essa permissão ocorre em um nível de aceitação natural, mental ou físico, dando abertura ao outro, sem que sejam necessárias quaisquer obrigações ou atitudes desmeritórias ou confusas de nem uma das partes.
A liberdade de amar, quando o sentimento preenche de alguma forma a alma e o corpo e não somente por alguns minutos, dias ou meses, mas por muitos anos, talvez eternamente enquanto dure e mais nas lembranças e memórias de gestos, palavras, pensamentos e ações conferiu permissão a que a outra pessoa ou ser – podendo até ser um animal de estimação – o dedicasse aquele sentimento de amor.
Todos carecem de amor e querem reconhecer esse sentimento em si e nos outros, não importando idade ou sexo. O amor é vital para nossas vidas como o ar; é notoriamente reconhecido que sem amor a criatura não sobrevive; o amor equilibra e traz a paz de espírito quando é necessário.
Temos ainda o Amor Interpessoal, ocorrendo entre os seres humanos como um sentimento mais potente do que um simples gostar entre duas ou mais pessoas em uma reciprocidade mais associado com relações interpessoais. Existem entre familiares, amigos e casais. Alguns sentimentos que são frequentemente associados: Carinho (sentimentos de ternura e/ou querendo proximidade física), Atração (satisfazer necessidades básicas emocionais), Altruísmo (altruísta ou altruísta preocupação para outrem), Reciprocidade (se o amor é recíproco), Compromisso (um desejo de manter o amor), Intimidade emocional (troca de emoções e sentimentos), Amizade (o espírito entre amigos), Parentesco (laços familiares), Paixão (desejo constante, sentido via modificação do ritmo cardíaco), Intimidade física (compartilhamento do espaço pessoal e íntimo), auto-interesse (quando se visa recompensas) e serviço (desejo de ajudar).
Vários teóricos da Psicologia e Filosofia escreveram sobre o amor. Es algumas sínteses: “O que é o Amor se não outro nome para reforçarmento positivo?”. (Skinner) “Onde o amor impera, não há desejo de poder; e onde o poder predomina, há falta de amor. Um é a sombra do outro.” (Carl Jung) “O que se precisa para ser feliz? Trabalho e amor.” (Sigmund Freud) “Um amor, uma carreira, uma revolução: outras tantas coisas que se começam sem saber como acabarão.” (Jean-Paul Sartre)
Gostar também nos leva à intimidade. E falar de Sexualidade gera inúmeras dúvidas. Uma temática cheia de incógnita e preconceito, moralismo e informações incorretas. Mas ela estar aí. Nasceu junto com a espécie humana. Em vários momentos dessas relações interpessoais, a sexualidade pode ser um elemento importante na determinação da forma de um relacionamento. Enquanto a atração sexual, muitas vezes, cria um novo vínculo sexual. Esta intenção, quando isolada, pode ser considerada indesejável ou inadequada em certos tipos de amor.
Em muitas religiões e sistemas de ética é considerada errada, a maneira de agir sobre desejo sexual para com a família de forma imediata. Isso porque ao longo da história, o sexo foi retirado de sua amplitude inicial que deveria se encontrar em todas as ações humanas, sendo restrito a momentos isolados, considerado de lazer ou como mero ato de reprodução, reduzido à genitalidade (ao próprio ato sexual). Há três momentos para compreender a sexualidade do ponto de vista social: no Século I, quando a prática do sexo foi regulamentada por meio do casamento; nos séculos XII e XIII, tivemos a incorporação da discussão sobre a vida sexual dos casais, não apenas como exercício intelectual, mas como prática de controle moral e nos séculos XVIII e XIX, a definição de sexualidade “normal” como aquela exercida com o sexo oposto.
É também ao longo dessa história que constatamos o puritanismo com seus fundamentos repressivos e que, ainda tentando impedir a libertação do erotismo humano, continua criando sutis atos de repressões. Não estou aqui defendendo a liberação de sexo de forma irresponsável. Mas defendo que esse assunto deveria ser tratado em nosso meio com a mesma naturalidade. Por exemplo, defendo a inclusão da disciplina Educação Sexual nos currículos escolares, mas que seja discutido de forma ampla e não restrito às informações da fisiologia e anatomia do corpo e do mecanismo da reprodução. Falar do desenvolvimento afetivo de nossa sexualidade, os direitos e respeitos às orientações sexuais de cada um, a prática do sexo seguro e responsável.
Quem sabe com isso, evitaremos tanta gravidez precoce e indesejada na adolescência. E os adolescentes estão muito mais dispostos a discutir esses assuntos abertamente que nós, os ditos maduros. Tanto eles quanto nós, precisamos assimilar que sexualidade é muito mais do que um ato propriamente genital, não é sinônimo de coito e não se limita à presença ou não de um orgasmo; sexualidade influencia pensamentos, sentimentos, ações e interações e tanto a saúde física como a mental. Há muitas maneiras de expressar amor apaixonado sem sexo. Afeto, intimidade emocional, partilha de interesses e experiências são comuns nas amizades e amores de todos os seres humanos. Isso também é sexualidade!
Só para fechar, cito Roland Barthes, autor de “Fragmentos de um discurso amoroso”, que diz em um trecho: “Encontro pela vida milhões de corpos; desses milhões posso desejar centenas; mas dessas centenas, amo apenas um. O outro pela qual estou apaixonado me designa a especialidade do meu desejo”.
Foto: Google Imagem
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