O AMOR E AS RELAÇÕES NA ATUAL GERAÇÃO 20! – Por Emílio Figueira

 


Minha mãe sempre ganha muitas revistas e leva para a creche, dando aos seus aluninhos para folhearem e fazer atividades. Mas sempre antes dela levar, dou uma olhada em quase todas. Há pouco tempo, li em uma dessas revistas semanais uma reportagem de capa intitulada “A crise dos 20”. Interessante como muitos gostam de referir as fases da vida sempre como se tudo fosse uma crise. Eu pessoalmente prefiro usar o termo estágio.
Mas esse não é o tema central desta crônica. Ao ler a matéria, lembrei-me de quando entrei na faculdade com 33 anos e a maioria de meus colegas tinham entre 17 e 19. Durante quatro anos assistir eles entrarem na casa dos 20. Interessante que eu já tinha mais anos de profissão jornalística do que eles de vida. E em homenagem a esses colegas, em sua maioria moças, abro um parente aqui, hoje abaixo a faixa etária dos assuntos de minhas crônicas e escrevo sobre a atual Geração 20! 

Uma geração que entra na escola com dois anos, por volta dos cinco aprender a ler e a escrever. E aos 17 já presta o vestibular.
Na correria entre a casa e escola, uma lição ou provas decisivas dos bimestres, voa para o curso de inglês, espanhol, domina todas as linguagens da informática, das mais variadas tecnologias e um leque de modalidades esportivas. Aos mais abonados um intercâmbio aqui, outro ali para aperfeiçoar o aprendizado dos idiomas, pois neste mundo globalizado eles são fundamentais. São muitos os esforços pelo objetivo de se garantir um futuro promissor em um mercado tão competitivo, onde precisarão ser o melhor e o mais rápido. Mas esse amadurecimento precoce é alto poderá gerar uma “crise” na hora em que essa jovem geração precisar decidir o que fazer da própria vida.
Abrindo aqui um parente, vejamos o que o jovem antes de chegar à escolha da profissão passou. Foi Henri Wallon, um dos autores que mais admirei e concordei com sua teoria sobre o desenvolvimento humano, principalmente sobre puberdade e adolescência, que traçou um relato tão fiel sobre esse público. Nessa fase, segundo Wallon, ocorrem as modificações fisiológicas, o amadurecimento sexual, transformações corporais, tanto no moço, quanto na moça. As funções afetivas voltam a preponderar mais ativamente, numa construção de identidade que passa a ocupar o primeiro plano.
Surgem as ambivalências de atitudes, nas experiências de necessidades novas, embora ainda confusas; desejos de posse, atração pelo sexo oposto, procurando um ideal para completar a sua pessoa, conhecendo novas formas de amar e desejar alguém além dos laços familiares. Necessidades de conquistas, aventuras, independência, ultrapassar a vida cotidiana, surpreender-se, unir-se a outros jovens com os mesmos ideais. Ter amigos para suas confidencias, cartas de amor em seu caderno misturam-se com as lições escolares.
Há uma predominância e alternância entre a infância e a adolescência. Isto é marcado pelas exigências da construção da identidade adulta. O que pode causar certas confusões de identidade em suas atitudes. Ao fazer alguma brincadeira e desejar alguma coisa ainda da vida infantil, algum adulto poderá lhe dizer: “Deixa disso, você não é mais criança!” Porém, se esse mesmo jovem quiser fazer algo avançado, como por exemplo, ficar até mais tarde na rua, o adulto lhe dirá: “Nem pensar, você ainda é criança pra ficar até tarde na rua!”
Fase marcada por rupturas, inquietudes, ambivalências de atitudes e sentimentos, o jovem passa a ser opor aos hábitos da vida e costumes, traduzidos na busca da consciência de si; na integração do novo esquema corporal; na apropriação de sua identidade adulta. Desperta-se sua consciência social e política. Um descontentamento e o desejo de transformação, o famoso “Querer mudar o mundo!”. Emite altas críticas ao modelo hipócrita dos valores ditos burgueses. Ao mesmo tempo, o jovem passa a ter dúvidas metafísicas e cientificas, traçando muitos questionamentos. Lendo a teoria de Henri Wallon sobre puberdade e a adolescência, é como voltar no tempo, sentindo novamente o que já vivemos.
No geral, Wallon nos dar a certeza que a adolescência realmente é uma construção histórica e, mesmo que as gerações avancem, esses traços são invitáveis na vida de qualquer adolescente caminhando para a vida adulta! Mas me parece que a atual geração 20 cada vez mais estar sendo podada de tal construção. A socióloga Terri Aapter, após entrevistar centenas de jovens, diz em seu livro “O mito da maturidade” que na intenção de proporcionar o melhor, muitos pais colocam uma carga perigosa sobre as costas dos filhos.
Escreve Terri: “Se por um lado superprotegem e oferecem mil oportunidades, por outro exigem que tomem uma decisão sobre a carreira antes mesmo de deixarem a escola. Esperam que acertem na primeira tentativa sem dar chance para experimentarem. Aceleram o crescimento de tal forma que parecem querer se livrar da tarefa que é educar um filho. Mais que isso: insistem em que, com o diploma embaixo do braço, corram para o primeiro emprego”. São jovens com boa formação intelectual, mas com pouco preparo para a vida real, sem condições de tomar decisões cruciais e corretas por ser superprotegidos.
São vítimas mais das ânsias dos pais do que pela necessidade real da juventude. Após lidarem como os “traumas” do recém-ingresso da adolescência para vida adulta, esses jovens terão que já deparar com a necessidade de optar por uma carreira e, muitas vezes, com uma frustração com a faculdade; a obrigação de estudar disciplinas que não tem nada a ver com aquilo que imaginava para ser o seu futuro profissional; uma universidade que perdeu muito do nível e obrigações, onde professores não ajudam mais a construir um pensamento autônomo, a desenvolver consciências críticas, questionadoras e transformadoras. Todo esse conjunto poderá deflagrar inadiavelmente um problema de maturidade no jovem.
Essa “crise dos 20” descrita pela revista pode chegar entre os 22 e 25 anos, primeira fase da vida adulta, retratando para o jovem uma desilusão com a realidade, talvez uma frustração para a qual ele não enxergue saída. Aqueles mais resilientes superarão, enquanto os menos exigentes com a vida terão grande tendência em procurar alívios no consumo excessivo nas drogas e álcool, segundo dados de várias pesquisas, o fator profissional é apenas um dos itens que desencadeiam tal crise. Outros são a superproteção ou, na contramão, pais indisponíveis e falta de amigos para um suporte emocional, o que lhes fará alvo fácil para os vícios como uma compensação.
Ou outro livro publicado no Brasil com o título “A crise dos 25”, de Abby Wilner e Alexandra Robbins, logo se tornou um best-seller, pois falar de crise ou autoajuda vende. E muito! No perfil desse público abordado pelas autoras, elas descrevem o jovem de 25 anos como uma pessoa que não sabe o que quer, mas não temendo encontrar uma paixão que o inspire, seja uma pessoa, uma profissão ou um hoppy; na casa dos 20, os jovens se decepcionam ao achar que essa fase não é como imaginava ser os anos para conquistar a liberdade e independência na vida adulta, porém isso tem um alto preço a pagar; ele teme em errar, uma típica insegurança de quem acha que, se falhar uma vez, irá falhar sempre; oriunda dessas inseguranças muitos jovens não querem deixar a infância para trás; surgem os medos que muitas escolhas de hoje poderão afetar o resto de suas vidas, ter incapacidade de mudá-las; fazem comparações constantemente com colegas e se sentem menos capaz, achando que todos são melhores que eles.
O jovem tem o direito de experimentação antes de sérias escolhas. Trabalhar como atendente de lanchonete ou nesses empregos temporários no final de ano, por exemplo. Aprender a administrar o seu próprio ganho, tanto financeiro como autonomia e independência de escolher e gerenciar o seu próprio futuro. Conhecer um pouco dos dissabores da vida profissional. Sobretudo, os jovens precisam ter o direito de descobrir por eles mesmos que ninguém começa já por cima, como é a ânsia de seus pais que acreditam estar melhores preparados para escolher a profissão dos filhos e assim atuam como facilitadores.
Muitas vezes querem projetar e se realizar nos filhos os profissionais ou obtenção das conquistas que não conseguiram obter. O que esses pais, filhos e todos nós precisamos assimilar é que só nos tornamos profissionais maduros subindo degrau por degrau.
Mas essa atual geração aprende desde cedo a vislumbrar gordos salários, colocando o bem-estar, a autoestima e a satisfação pessoal como sonho de consumo atrelado à vida profissional. Em entrevista para essa revista, Terri Apter, questionada se os jovens estão com medo de saírem de casa e for independentes, disse: “Esse é um fenômeno mundial. As crianças crescem rápido demais, mas não estão equipadas para viver a vida adulta na prática. Deveríamos pensar mais sobre a importância de uma dependência saudável no lugar de forçar uma independência precoce para a qual o jovem não está preparado”.
Imagino que essa geração amadurecida precocemente, num futuro próximo estará nos consultórios dessas minhas amigas, pois essa carga de cobranças e disputas terá um preço para a saúde mental desses jovens. Ou quem sabe, alguns até sobrarão para o meu futuro divã de Psicanalista – eu que estou dobrando essa idade por estar entrando nos 40 anos. Já vivenciei os lances dos vinte e poucos anos e agora curto a minha fase de “idividuação” genialmente descrita por Carl Jung.
A maioria daqueles meus colegas do tempo de faculdade, por nascerem e viverem em cidades do interior, tiveram uma boa formação pessoal e emocional. Tenho certeza que hoje são brilhantes psicólogas e outros profissionais. Apostos todas minhas fichas nelas. Desejo que se sintam abraçadas por esta crônica com o mesmo carinho e dedicação com que me abraçaram e me auxiliaram durante quatro anos que estivemos lado a lado na universidade. E não tenho vergonha em dizer: aprendi e devo muito a vocês!!!
Foto: Google Imagem

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