Uma pergunta recorrente em minhas palestras é se as coisas
melhoraram da época de quando eu era menino para cá.
As pessoas com deficiência ficaram por muito tempo
escondidas da sociedade. Nos anos 1990 surgiria o conceito de Inclusão Social,
uma grande revolução que abriu as portas de muitas casas de PcD, lançando-as
pelas ruas rumo às infinitas possibilidades, atingindo campos e posições até
então imagináveis à nossa classe.
Está certo. Você pode me perguntar por que então com a
Inclusão nem todas as PcD estão tendo as mesmas oportunidades? Isso envolve
muitas questões culturais e pessoais. Realmente existem muitas pessoas
humildes, desconhecedoras dos recursos existentes que lhes é de direitos.
Vítimas de péssimas políticas governamentais. Pessoas que não foram estimuladas
a procurar melhoras, conformando-se com o seu próprio destino como se a vida
fosse um fato consumado.
Por outro lado, ao longo de cinco décadas, encontrei muitas
pessoas acomodadas. Fazendo de suas próprias deficiências “muletas”,
vitimando-se, usando das justificativas desculpas onde o culpado sempre é o
outro pelos seus próprios problemas. No fundo eles não querem “se levantar do
sofá”, deixar a zona de conforto. E existem muitos desses que usam isso para
ter lucros, estimulando a piedade alheia. Ou como dizia o antropólogo e meu
amigo João Ribas, eles “vendem a própria deficiência”.
Digo que há dois tipos de se viver. Os Essencialistas,
acreditando que todas as coisas já estão pré-determinadas, que nascemos com uma
essência que não vai mudar; o que tiver que ser, será e com isso nos acomodamos
diante da vida, sem se arriscar, usando essa postura comodista.
Outros são os Existencialistas, acreditando que nossa
essência é construída com a possibilidade de ser; pessoas que correm atrás de
seus objetivos e sonhos; buscam oportunidades, não temem em se arriscar nas
mais diversas ocasiões; fazem das frustrações acúmulos de experiências para não
errarem nas próximas tentativas; fazem das vitórias motivações para sempre
progredir.
Certamente, os Existencialistas estão nadando de braçada na
Inclusão!
Publicado em 16/11/2020