Quando a alegria escorreu de fotografias no Memorial da Inclusão – Por Emílio Figueira


Os dias são todos corriqueiros, quase automaticamente em todas as nossas ações. Têm dias que o sol nasce diferente e forças divinas escalam grupos de pessoas para viverem dias especiais…
Assim foi ontem por ocasião da abertura no Memorial da Inclusão da quarta edição da “Exposição Ita Vita – Fotografia, Arte e Inclusão”. Idealizado pela fotógrafa Giselle Bohnen, esse projeto visa retratar crianças com vários tipos de deficiência com suas famílias e momentos felizes, usando a fotografia como quebra de estigmas e as imagens como um instrumento visual de inclusão. Curadoria da querida Valkiria Lococca.

E como entrei nessa? Em 2017, recebi um e-mail de Giselle, a qual eu não conhecia ainda. Sua mensagem narrava sua vontade de realizar essas exposições, convidando-me para escrever um texto e, como sou aberto ao novo, aceitei. Só que, como o universo sempre conspira para unir grandes amizades, dali tudo foi acontecendo naturalmente, muitas trocas de ideias e fui escrevendo outros textos e poesias para o projeto.
Só que esse dia especial não começou ontem. Iniciou-se há algumas semanas atrás, quando fomos acolhidos com muito carinho e atenção pela equipe técnica e educacional do Memorial, dignos de nossos profundos agradecimentos.
Início de uma tarde de sábado, portão 10 do Memorial da América Latina. Como em uma linda chegada do revoar de um bando de andorinhas, as famílias foram aparecendo e “tomando de assalto” todo o espaço do Memorial da Inclusão.  Crianças com suas cadeiras de rodas, aparelhos ortopédicos, crianças sem deficiência nas mais diversas brincadeiras, jogos, recreações, dança de zumba, lanches e risadas ocuparam todos os espaços entre a Exposição Ita Vita e do acervo permanente do Memorial. Era como se a felicidade eternizada nas fotografias, escorresse para o chão e ganhasse vida, dando muita correria para nossos queridos amigos fotógrafos registrarem tudo, sem perderem um clique.
Enquanto isso, simbolicamente, era como se pelos painéis fixos do Memorial, nas fotos dos pioneiros do movimento político das pessoas com deficiência assistisse a tudo calados. São os chamados carinhosamente de jurássicos. Grande parte deles que Deus me deu o privilégio de ter conhecido pessoalmente. E sempre quando vou ao Memorial, tenho por hábito sentar por um instante em silêncio e ficar reverenciando-os em minha memória. Aliás, hoje tem tanta gente ganhando nome em cima da Inclusão como se ela fosse uma invenção da atualidade, mas ninguém cita os pioneiros que construíram esses alicerces e nos deram condições para chegarmos ao nível que chegamos. Inclusive, de realizar uma exposição fotográfica como essa. Graças a Deus que temos o “Memorial da Inclusão: Os Caminhos das Pessoas com Deficiência” para não deixar esses personagens morrerem no inconsciente coletivo brasileiro!!!
Pronto, já fiz a minha ponderação história, agora vou voltar a falar de um dia especial…
Veio à abertura oficial apresentada pela minha amiga do século passado Flávia Cintra. A palavra da queridíssima Elza Ambrosio e da própria Giselle Bohnen. A emocionante apresentação de arte circense em cadeiras de rodas “O Grande Circo Místico”. E a foto oficial!

Em seguida, em uma sala reservada, foi a minha palestra/depoimento, quando pude falar, mostrar por meio de um pequeno vídeo biográfico para umas trinta famílias sobre a minha história pessoal, como ocorreu minha inclusão, formação acadêmica e construção de meu espaço na sociedade, mesmo tendo tantos preconceitos e barreiras vencidas.
Intrinsecamente, falei de Educação Inclusiva. A criança com deficiência têm inúmeros ganhos ao ser incluída. Quando ela vê colegas sem deficiência fazendo algo, alguma tarefa ou brincadeira, ela os imitará, sendo estimulada em se superar em suas próprias limitações. As descobertas de suas possibilidades serão constantes. Estímulos que ela não teria se ficasse em uma instituição de crianças com deficiência semelhantes a sua. Eu vivi isso na pele quando fui transferido da AACD para um colégio público em 1981.
E se eu contei a minha história que começou em uma época distante com muitas exclusões sociais, hoje essas crianças estão começando a caminhar em uma sociedade com muitos pilares inclusivos. E certamente, lá no futuro, elas terão muitas histórias mais vitoriosas ainda para contar…
Depois tivemos o prazer de ouvir uma esclarecedora palestra sobre Síndrome de Patau. Uma luz me acendeu. Está aí uma nova causa que temos que unir forças, uma nova bandeira a ser levantada!
O relógio anunciava dezessete horas. Novamente como em um lindo revoar de andorinhas, todos foram saindo do Memorial, partindo cada um rumo ao seu lar e vida cotidiana. Deixando para traz a exposição Ita Vita por mais quarenta e cinco dias para ser apreciada, impactando outros públicos.
Realmente, têm dias que o sol nasce diferente e forças divinas escalam grupos de pessoas para viverem dias especiais. Dias que passaram despercebidos pela humanidade.  Menos para esses pequenos grupos escalados que terão essas lindas lembranças para sempre em memória!

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