RELAÇÕES INTERPESSOAIS E MUDANÇAS DE COMPORTAMENTO DAS NOVAS FAMÍLIAS – Por Emílio Figueira

 


A verdade é só uma. Após a fase de namoro, paixão, amor e noivado, todos almejamos o casamento (ou matrimônio), frequentemente iniciado pela celebração de uma boda, que pode ser oficiada por um ministro religioso (padre, rabino, pastor, etc.), por um oficial do registro civil (normalmente juiz de casamentos) ou por um indivíduo que goza da confiança das duas pessoas que pretendem se unirem. Cria-se um vínculo estabelecido entre duas pessoas. As pessoas casam-se por várias razões, mas normalmente o faz para dar visibilidade à sua relação afetiva, para buscar estabilidade econômica e social, para formar família, procriar e educar seus filhos e legitimar o relacionamento sexual. Na etimologia a palavra casamento é derivada de “casa”, enquanto que matrimonio tem origem no radical mater (“mãe”) seguindo o mesmo modelo lexical de “patrimônio”.

Ao longo da história, a sociedade criou expressões para classificar os diversos tipos de relações matrimoniais existentes, sendo as mais comuns: casamento aberto ou liberal (em que é permitido aos cônjuges ter outros parceiros sexuais por consentimento mútuo); casamento branco ou celibatário (sem relações sexuais); casamento arranjado (celebrado antes do envolvimento afetivo dos contraentes e normalmente combinado por terceiros, pais, irmãos, chefe do clã, etc.); casamento civil (celebrado sob os princípios da legislação vigente em determinado Estado – nacional ou subnacional); casamento misto (entre pessoas de distinta origem – racial, religiosa, étnica, etc.); casamento morganático (entre duas pessoas de estratos sociais diferentes no qual o cônjuge de posição considerada inferior não recebe os direitos normalmente atribuídos por lei – exemplo, entre um membro de uma casa real e uma mulher da baixa nobreza); casamento nuncupativo (realizado oralmente e sem as formalidades de praxe); casamento putativo (contraído de boa-fé, mas passível de anulação por motivos legais); casamento religioso (celebrado perante uma autoridade religiosa); casamento poligâmico (realizado entre um homem e várias mulheres); casamento homossexual ou casamento gay (realizado entre duas pessoas do mesmo sexo) e casamento de conveniência (que é realizado primariamente por motivos econômicos ou sociais).
Quem casa, constitui família. No conceito histórico o termo de família é derivado do latim “famulus”, significando “escravo doméstico”, criado na Roma Antiga para designar um novo grupo social que surgiu entre as tribos latinas, ao serem introduzidas à agricultura e também escravidão legalizada. No sentido mais amplo, família é unidade básica da sociedade, formada por indivíduos em comum ou ligados por laços afetivos, constituindo um subsistemas, formados pela geração, sexo, interesse e/ou função, havendo diferentes níveis de poder, e onde os comportamentos de um membro afetam e influenciam os outros membros. Como unidade social, enfrenta uma série de tarefas de desenvolvimento, diferindo níveis dos parâmetros culturais, mas possuindo as mesmas raízes universais.
São três os tipos de relações pessoais apresentados em uma família; a de aliança (casal), a de filiação (pais e filhos) e a de consanguinidade (irmãos). É nessa relação de parentesco entre pessoas que se vinculam pelo casamento ou por uniões sexuais que se geram os filhos. Assumindo uma estrutura característica, compõe-se de um conjunto de indivíduos com condições e em posições, socialmente reconhecidas e aprovadas, podendo assumir uma estrutura nuclear ou conjugal, que consiste num homem, numa mulher e nos seus filhos, biológicos ou adotados, habitando em um ambiente familiar comum com grande capacidade de adaptação, reformulando a sua constituição, quando necessário.
Esse modelo é a família “ampliada ou consanguínea” é outra estrutura, que consiste na família nuclear, mais os parentes direitos ou colaterais, existindo uma extensão das relações entre pais e filhos para avós, pais e netos. Mas existem também famílias com uma estrutura de “pais únicos ou monoparental”, tratando-se de uma variação da estrutura nuclear tradicional devido aos fenômenos sociais, como o divórcio, óbito, abandono de lar, ilegitimidade ou adoção de crianças por uma só pessoa.
Para além destas estruturas, existem as denominadas de “famílias alternativas” e as “famílias comunitárias” que, ao contrário dos sistemas familiares tradicionais (onde a total responsabilidade pela criação e educação das crianças cabe aos pais e à escola), nestas o papel dos pais é descentralizado, sendo as crianças da responsabilidade de todos os membros adultos. Nas “famílias homossexuais” existe uma ligação conjugal ou marital entre duas pessoas do mesmo sexo, que podem incluir crianças adotadas ou filhos biológicos de um ou ambos os parceiros.
Em todas formas famílias, independentemente da sociedade, cada membro ocupa determinada posição ou tem determinado estatuto, como por exemplo, marido, mulher, filho ou irmão, sendo orientados por papéis que podemos interpretar como as expectativas de comportamento, obrigações e de direitos que estão associados a uma dada posição na família ou no grupo social. Para os adultos cabe a tarefa de “socialização da criança”, contribuição para o desenvolvimento das capacidades mentais e sociais dos filhos, cuidados tanto físicos como emocionais, perspectivando o seu desenvolvimento saudável; esse “papel de suporte familiar” inclui a produção e/ou obtenção de bens e serviços necessários; o “papel de encarregados dos assuntos domésticos” inclui os serviços domésticos, visando o prazer e o conforto de seus membros; o “papel de manutenção das relações familiares” foca a manutenção do contato com parentes, implicando a ajuda em situações de crise; os “papéis sexuais” legitimam as relações sexuais entre ambos os parceiros; o “papel terapêutico” implica na ajuda e apoio emocional nos problemas familiares; o “papel recreativo” visa proporcionar divertimentos à família, seu o relaxamento e desenvolvimento pessoal. Referente aos papéis dos irmãos, cabe a eles ser promotores e receptores, em simultâneo, do processo de socialização na família, ajudando a estabelecer e manter as normas, promovendo o desenvolvimento da cultura familiar.
A família vem se transformando através dos tempos, acompanhando as mudanças religiosas, econômicas e sócioculturais do contexto em que se encontram inseridas. Esta é um espaço sóciocultural que deve ser continuamente renovado e reconstruído; o conceito de próximo encontra-se realizado mais que em outro espaço social qualquer, e deve ser visto como um espaço político de natureza criativa e inspiradora.
O homem não é um ser estático. É um ser dialético e em constantes mudanças, aperfeiçoamentos e adaptações aos novos tempos. Dentre tantas mudanças históricas, há uma mais próxima de nós. Entre as décadas de 60 e 80 do século passado, originaram-se diversas mudanças relativas aos domínios de gênero e afetividade; mulheres entrando no mercado de trabalho; aumento considerável na taxa de divórcio; revisão dos papéis e liberdades sexuais; novas identidades de gênero revendo nosso senso de masculinidade e feminilidade; aumento dos relacionamentos impessoais íntimos; a homossexualidade pôs sua cara na rua, brigando por seu espaço.
Coisas que pareceram abalar a chamada “família tradicional”, vivendo em uma confortável casa de bairro, a dona-de-casa uma esposa feliz a espera do marido que saiu para trabalhar e com ele viverá “até que a morte nos separe”! Hoje cada vez mais as famílias convivem com gravidez precoce da filha, envolvimento de filho com drogas, crises conjugais, alcoolismo do marido, relacionamentos extraconjugais de ambas as partes – só para citar alguns exemplos.
Todo esse processo de modificação das normas consideradas tradicionais deu espaço as chamadas formas alternativas de vida. Casais passaram a coabitar sem serem casados no papel, surgiram os chamados “casamentos abertos”, união sem filhos, celibato perpétuo, as produções independentes, relacionamentos homossexuais livres e sem máscaras.
Mas tudo isso que pode ser encarado como independência, uma vida mais livre e melhor, também nos trouxe novas formas de ansiedades, dúvidas e equívocos na maneira de nos relacionarmos com outras pessoas. Se por um lado as mudanças sociais ocorrem para solucionar velhos problemas, por outro, geram seus próprios problemas. Nessas relações impessoais onde estamos vivenciando emoções mais fortes, os livres prazeres do amor, a dor de rejeição, a raiva de um conflito. Surgem novas identidades com diretrizes de guiam os relacionamentos amorosos e sexuais mais soltas, vagas, indefinidas, implicando em um maior esforço de uma bem-sucedida coordenação da interação, uma preocupação de uma eventual desistência de ligações afetivas mais acentuadas.
Muitas vezes nos colocamos contrários a tais mudanças. Isso porque mudar gera novidades. E novidades geram medo do desconhecido. Obrigam-nos a sair do estado de inércia, afrontando o nosso modo de viver acomodado. Mas são nesses momentos que me lembro de um antigo verso cantado por Elis Regina: “É você que ama o passado e não vê que o novo sempre vem!”
Foto: Google Imagem

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