Qual O Papel E Contribuições Que O Psicólogo Pode Dar Aos Vários Processos De Inclusão Das Pessoas Com Deficiência


 É uma honra estar aqui hoje falando sobre um tema de extrema importância: a inclusão de pessoas com deficiência em nossa sociedade. Nesta palestra, exploraremos o papel fundamental que os psicólogos desempenham nesse processo e como suas contribuições estão moldando um futuro mais inclusivo.

Vale destacar que as considerações aqui expostas, estão baseadas em meu livro “Psicologia E Inclusão – Atuações Psicológicas Em Pessoas Com Deficiência”, publicado pela Wak Editora.

Bem, vamos lá...


NOVAS VISÕES ACADÊMICAS


Momentos atrás eu apresentei um pouco da minha biografia. Ali minha palestra já havia começado. No fundo, eu não estava querendo me vangloriar com a minha história. E sim, mostrar em suas entrelinhas que não há limites na vida de qualquer pessoa, tenha ela deficiência ou não.

E nós psicólogos podemos tanto acrescentar positivamente, quanto negativamente na vida de uma pessoa...

Guardem esta frase: E nós psicólogos podemos tanto acrescentar positivamente, quanto negativamente na vida de uma pessoa...

Desde minha graduação em psicologia, estudei os conteúdos das disciplinas que abordam essas temáticas nas universidades brasileiras. A maioria continuava apenas ensinando o que são pessoas com deficiência, enquanto já avançamos.

Agora, na era da inclusão, precisamos discutir como essas pessoas podem e devem participar da sociedade como um todo. Um conteúdo mais atualizado, tanto às disciplinas ministradas nas faculdades de psicologia, como para todos os psicólogos que já estão no mercado de trabalho.

Creio que a primeira grande mudança precisa ser nos bancos acadêmicos. Defendo para essas disciplinas o título Psicologia e Pessoas com Deficiência.  Não temos a necessidade de sustentar a existência de uma sub-área específica chamada Psicologia da Deficiência (ou em pior grau, manter-se o título Psicologia do Excepcional).

Isto porque, a Psicologia precisa encarar e tratar pessoas com deficiência como as demais, sem criar uma Psicologia específicas à elas. E sim desenvolver uma nova mentalidade em estimular uma linha de trabalho, no qual o papel do psicólogo deva intervir na busca da superação das limitações.


NOSSAS ATUAÇÕES ENQUANTO PSICÓLOGOS


Se antes a pergunta era “O que são pessoas com deficiência?”, hoje a pergunta precisa ser “Como nós psicólogos devemos atuar para ajudar as pessoas com deficiência a ter mais autoestima e uma vida plena?”.

Lev Vygotsky abordou de forma pioneira e sistemática assuntos relacionados à criança ou pessoa com deficiência com grande significado, gerando ideias e um novo modo de ver tais questões, descrevendo que essas pessoas têm dos tipos de deficiências:

Deficiência Primária – trata-se da deficiência propriamente dita – impedimento, dano ou anormalidade de estrutura ou função do corpo, restrição/perda de atividade, sequelas nas partes anatômicas do corpo, como órgãos, membros e seus componentes, incluindo a parte mental e psicológica com um desvio significativo ou perda.

Deficiência Secundária – são as consequências, dificuldades e desvantagens geradas pela primária. Ou seja, tudo aquilo que uma pessoa com deficiência não consegue realizar em função de sua limitação. Uma situação de desvantagem às demais pessoas sem deficiência, podendo o indivíduo encontrar limitações na execução de atividades, restrições de participação ao se envolver em situações de vida em ambiente físico, social e em atitude no qual as pessoas vivem e conduzam sua vida.

A partir dessa divisão, Vygotsky passou a defender que profissionais de saúde e educadores precisam enfatizar suas atividades em ajudar a pessoa a superar suas deficiências secundárias e não focar nas deficiências primárias.

O Brasil tem uma média de 48 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência. Essa quantidade passou a ter um peso significativo na sociedade.

Pessoas que nas últimas décadas, não contentes com o isolamento social, resolveram “colocar a cara na rua”, visando conquistar o seu lugar no seio social.

Presentes hoje em todos os segmentos deixaram de ser os “coitadinhos” para ser um público consumidor, produtivo, sabedor de onde realmente quer chegar e exigente de bons serviços. Consequência disso é que cada vez mais o contexto social está se vendo obrigado a promover e se adaptar à política da inclusão social para recebê-las.

Precisamos gerar psicólogos mais preparados para atendê-las em suas necessidades específicas e, em muitos casos, psicólogos para serem o elo dessa inclusão social, mediadores entre o real e o ideal.


O PSICÓLOGO E AS POSIBILIDADES DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA 


Os psicólogos desempenham um papel fundamental nos processos de inclusão das pessoas com deficiência, contribuindo de várias maneiras para promover uma sociedade mais inclusiva e igualitária. Aqui estão algumas das principais contribuições que os psicólogos podem oferecer:

Avaliação e diagnóstico: Os psicólogos podem conduzir avaliações psicológicas e neuropsicológicas para ajudar a identificar as necessidades específicas das pessoas com deficiência. Isso pode incluir a avaliação de habilidades cognitivas, emocionais e comportamentais, a fim de desenvolver planos de apoio personalizados.

Aconselhamento e apoio emocional: Pessoas com deficiência muitas vezes enfrentam desafios emocionais, como estresse, ansiedade, depressão e isolamento social. Os psicólogos podem oferecer aconselhamento e apoio emocional tanto para as pessoas com deficiência quanto para suas famílias, ajudando-as a lidar com essas questões.

Treinamento de habilidades sociais e de comunicação: Para promover a inclusão, é importante que as pessoas com deficiência desenvolvam habilidades sociais e de comunicação eficazes. Os psicólogos podem oferecer treinamento e intervenção para melhorar essas habilidades, facilitando a interação com os outros.

Intervenção comportamental: Algumas pessoas com deficiência podem apresentar comportamentos desafiadores que dificultam a participação em atividades cotidianas. Os psicólogos podem desenvolver planos de intervenção comportamental para ajudar a reduzir esses comportamentos e melhorar a qualidade de vida.

Orientação para pais e cuidadores: Os psicólogos podem orientar pais, cuidadores e professores sobre estratégias eficazes de apoio às pessoas com deficiência, ajudando-os a entender as necessidades específicas e a promover um ambiente inclusivo.

Sensibilização e educação: Os psicólogos podem desempenhar um papel ativo na sensibilização da sociedade sobre as questões relacionadas à deficiência, ajudando a combater estereótipos, preconceitos e discriminação.

Advocacia e pesquisa: Alguns psicólogos trabalham como defensores das pessoas com deficiência, advogando por políticas e práticas inclusivas e conduzindo pesquisas para melhorar nossa compreensão das necessidades e desafios enfrentados por essa população.

Desenvolvimento de programas inclusivos: Psicólogos podem colaborar com instituições educacionais, empregadores e organizações da sociedade civil para desenvolver programas e políticas que promovam a inclusão de pessoas com deficiência em todas as áreas da vida.


RELACIONAMENTO PRÁTICO ENTRE A PSICOLOGIA E PESSOAS COM DEFICIÊNCIA


Na inclusão, as iniciativas são da sociedade. E a Psicologia tem muito a colaborar nesse processo, onde a sociedade se adapta para poder incluir em seu contexto as pessoas com deficiência.

Mas, por outro lado, essas mesmas pessoas precisam ser “preparadas” para assumir seus papéis na sociedade, o que abre várias possibilidades de atuações psicológicas como vimos.

Será uma forma de parceria entre toda a sociedade, visando equacionar problemas, decidindo sobre soluções, efetuando equiparações de oportunidades para todos.

Estaremos, assim, realmente criando no relacionamento prático entre a Psicologia e pessoas com deficiência, na busca do ser humano por de trás da pessoa com qualquer tipo de limitação.

Suas reais necessidades, interações sociais, educacionais, relacionamentos familiares e afetivos, necessidades de atividades profissionais e, sobretudo, suas verdadeiras potencialidades a serem estimuladas de forma individual e coletiva.

Porém, mais do que falar de teorias, quero falar de atitudes. Leia sobre inclusão e qual o papel do psicólogo nesse processo. Hoje além de muitos livros, temos uma infinidade de materiais gratuitos no mundo virtual.

E quando estiver atendendo clinicamente ou acompanhando o caso de inclusão nos mais variados campos, estude ao máximo as particularidades de sua deficiência, realidade em seu entorno e suas reais potencialidades.

Aliás, perdoem-me a sinceridade, mas qualquer psicólogo que não tenha o hábito de leitura e de se aperfeiçoar sempre, nem deveria estar na profissão!


SENTA QUE LÁ VEM HISTÓRIA...


Para terminar, quero falar de humanidade. No começo eu joguei no a ar esta colocação:

Nós psicólogos podemos tanto acrescentar positivamente, quanto negativamente na vida de uma pessoa

Vou contar um depoimento pessoal. Logo que me mudei para Bauru em 1989, interior do estado de São Paulo, saindo de uma cidade de seis mil para uma de 320 mil habitantes, eu estava totalmente sem rumo. Fui procurar uma renomada instituição brasileira que tinha por missão empregar pessoas com deficiência.

Ao passar pela entrevista com a psicóloga, ela me perguntou o que eu gostaria de fazer profissionalmente. Disse-lhe que tinha o desejo de continuar no jornalismo, como já fazia em Guaraçaí. Ela me disse na lata:

- Você não pode ser jornalista, você é um deficiente...

Eu simplesmente me levantei, agradeci, virei as costas e fui embora. Jamais deixei alguém me dizer o que posso fazer ou não da minha vida.

Será que se eu tivesse dado ouvidos àquela psicóloga, teria construído essa caminhada que me trouxe até aqui? Será que hoje eu estaria me pronunciando perante vocês?

Então fica aqui uma última dica. Jamais duvide ou limite os desejos e projetos de um paciente, tenha ele deficiência ou não. O destino de cada um, a história que ele viverá só Deus sabe. O papel do psicólogo é sempre de apoiar, ajudar e nunca de julgar ou limitar!

E, antes de qualquer coisa, acredite em você mesmo enquanto psicólogo e nas contribuições que possa dar para uma sociedade realmente inclusiva. Isso já será um grande começo.

O psicólogo deve ser um suporte seguro que lança seus assistidos rumo as infinitas possibilidades!!!


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