Emílio Figueira Ao Lado De Sua Obra Fala De Novos Projetos

Referência em inclusão no Brasil, autor de 127 livros transforma novos limites físicos em impulso criativo de obras sobre inclusão e representações da deficiência, ampliando seu olhar para a moda, a arte e o mitos populares

 Durante décadas, Emílio Figueira, 56, dedicou sua vida à pesquisa e à escrita sobre as questões que envolvem as pessoas com deficiência. Foram inúmeras viagens pelo país, ministrando palestras, cursos, participações em seminários, congressos, universidades e escolas, uma de suas grandes paixões.

Nos últimos três anos, no entanto, Figueira passou a viver de forma mais reclusa em seu apartamento, em São Paulo. O motivo é explicado pelo próprio autor:

“Eu tive até aqui uma vida intensa, principalmente produtiva na ciência e nas artes. Por ser uma pessoa com paralisia cerebral, sempre precisei gastar muito mais energia para coordenar a fala e os movimentos em tarefas que muitos realizam naturalmente. Como consequência, tive um desgaste precoce no quadril direito, o que reduziu ainda mais minha mobilidade, que já era limitada pela deficiência.”

Formado em Jornalismo, Psicologia e Teologia, possui seis pós-graduações e dois doutorados. É autor de 127 livros, mais de cem artigos científicos publicados, além de peças teatrais e roteiros audiovisuais.

NOVOS LIVROS SOBRE INCLUSÃO, PSICOLOGIA E ARTES MUNDIAIS

Entre suas mais de trinta obras dedicadas ao tema da inclusão, destaca-se As Pessoas com Deficiência no Brasil – Entre Silêncios e Gritos”, já em sua quarta edição, publicada pela Wak Editora, no Rio de Janeiro.

Após anos de novas pesquisas e leituras, Figueira revela ter concluído o segundo volume dessa obra, que analisará a trajetória das pessoas com deficiência do Império aos dias atuais. O estudo abordará a exclusão histórica, a violência contra escravos, a medicalização e a eugenia como formas de controle, além da exploração simbólica e física dos corpos. Também destacará a negligência do Estado, o surgimento dos movimentos sociais durante a ditadura e os avanços legais na redemocratização. A obra apresenta a passagem da invisibilidade para a cidadania, valorizando o corpo com deficiência como símbolo de resistência e memória histórica.

Outro trabalho de fôlego, em fase final de conclusão, é “Corpos Que Viraram Mitos” (título provisório). A obra investiga personagens reais e figuras lendárias brasileiras ligadas a corpos marcados por deficiência, deformidades e doenças. Organizado pelas cinco regiões do país e por períodos históricos, o estudo analisa como esses corpos, marginalizados em vida, tornam-se centrais na construção do imaginário, da fé e do mito popular, sob uma perspectiva histórica, simbólica, sociológica e psicológica.

Uma terceira obra também está em desenvolvimento: “Desde 1991 venho pesquisando as representações das pessoas com deficiência na história da arte e da literatura mundial. Já publiquei diversos artigos sobre o tema, mas pretendo organizar tudo em um livro no próximo ano”, revela o pesquisador.

Ainda pela Wak, Emílio Figueira lançou em 2015 o livro “Psicologiae Inclusão” e agora tem no prelo revisto pela mesma editora a obra “Intervenções Psicológicas em Pessoas com Deficiência”. O livro analisa, de forma ampla e interdisciplinar, o papel da psicologia na inclusão e no cuidado de pessoas com deficiência nos contextos social, clínico, hospitalar, educacional, afetivo, corporativo e esportivo, abordando práticas, desafios e perspectivas da área.

“Essa obra é fruto de mais de vinte anos de minhas pesquisas e escrita. Busco valorizar uma abordagem centrada na pessoa e em seus direitos, tratando desde as intervenções terapêuticas e educacionais até temas como sexualidade, mercado de trabalho e envelhecimento, destacando o psicólogo como mediador essencial na construção de uma sociedade mais inclusiva e humanizada”, afirma Figueira.

PESSOAS COM DEFICIÊNCIA COMO PERSONAGENS LITERÁRIOS

Nos últimos anos, Emílio também tem se dedicado à literatura ficcional. Segundo ele, durante muito tempo esteve tão envolvido com a escrita científica e pedagógica, que seu lado literário acabou ficando em segundo plano.

“Nas últimas décadas, fiquei muito focado na inclusão e na escrita técnica e científica, e o meu lado literário foi ficando mais discreto. Agora chegou o momento de me dedicar mais a isso”, explica.

Ele vem se especializando na escrita de contos psicológicos modernos, abordando temas existenciais, políticos, angústias cotidianas, pertencimento, homoafetividade, racismo e identidade.

Entre suas recentes produções está a coletânea Espelhos Que Caminham – Histórias sobre deficiência, existência e humanidade”, publicada pela Amazon. A obra convida o leitor a atravessar espelhos – alguns claros, outros trincados – para conhecer personagens que desafiam estereótipos e silenciam expectativas, revelando vidas que respiram, amam, erram, resistem e se reinventam em um mundo que insiste em vê-las como exceção.

UM ROMANCE SOBRE MODA INCLUSIVA

Em primeira mão, Emílio Figueira também revelou estar trabalhando em um romance que abordará a moda inclusiva e seu impacto na valorização das pessoas com deficiência.

A narrativa mostrará modelos que conquistam espaço no mercado fashion, rompendo estereótipos e fortalecendo autoestima e reconhecimento profissional. Paralelamente, o romance tratará do crescimento de marcas inclusivas que promovem autonomia, acessibilidade e liberdade de escolha ao se vestir, apresentando a moda inclusiva como uma transformação cultural, estética e social.

A NOVA REINVENÇÃO DO ESCRITOR COMO CAMINHO

Em sua autobiografia “Autor de Mim Mesmo”, lançada o ano passado Emílio escreve:

“Pelo meu estado atual, preciso mais uma vez me reinventar, adaptar-me à minha nova realidade para seguir em frente, como na jornada do herói descrita por Joseph Campbell. No momento em que tudo parece perdido, o personagem precisa reunir toda a experiência acumulada para vencer seus desafios e seguir sua vida. Diante dessas mudanças em meu corpo, mais uma vez a vida me desafia a me reinventar. E planos e projetos não me faltam, graças a Deus.”

Um retrato de um pensador que insiste em criar mesmo quando o corpo impõe novos desafios.

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