Referência em
inclusão no Brasil, autor de 127 livros transforma novos limites físicos em
impulso criativo de obras sobre inclusão e representações da deficiência,
ampliando seu olhar para a moda, a arte e o mitos populares
Nos últimos três anos, no entanto, Figueira passou a viver
de forma mais reclusa em seu apartamento, em São Paulo. O motivo é explicado
pelo próprio autor:
“Eu tive até aqui uma vida intensa, principalmente produtiva
na ciência e nas artes. Por ser uma pessoa com paralisia cerebral, sempre
precisei gastar muito mais energia para coordenar a fala e os movimentos em
tarefas que muitos realizam naturalmente. Como consequência, tive um desgaste
precoce no quadril direito, o que reduziu ainda mais minha mobilidade, que já
era limitada pela deficiência.”
Formado em Jornalismo, Psicologia e Teologia, possui seis
pós-graduações e dois doutorados. É autor de 127 livros, mais de cem artigos
científicos publicados, além de peças teatrais e roteiros audiovisuais.
NOVOS LIVROS SOBRE INCLUSÃO, PSICOLOGIA E ARTES MUNDIAIS
Entre suas mais de trinta obras dedicadas ao tema da
inclusão, destaca-se “As Pessoas com Deficiência no Brasil – Entre Silêncios
e Gritos”, já em sua quarta edição, publicada pela Wak Editora, no Rio de
Janeiro.
Após anos de novas pesquisas e leituras, Figueira revela ter
concluído o segundo volume dessa obra, que analisará a trajetória das pessoas
com deficiência do Império aos dias atuais. O estudo abordará a exclusão
histórica, a violência contra escravos, a medicalização e a eugenia como formas
de controle, além da exploração simbólica e física dos corpos. Também destacará
a negligência do Estado, o surgimento dos movimentos sociais durante a ditadura
e os avanços legais na redemocratização. A obra apresenta a passagem da
invisibilidade para a cidadania, valorizando o corpo com deficiência como
símbolo de resistência e memória histórica.
Outro trabalho de fôlego, em fase final de conclusão, é “Corpos
Que Viraram Mitos” (título provisório). A obra investiga personagens reais
e figuras lendárias brasileiras ligadas a corpos marcados por deficiência,
deformidades e doenças. Organizado pelas cinco regiões do país e por períodos
históricos, o estudo analisa como esses corpos, marginalizados em vida,
tornam-se centrais na construção do imaginário, da fé e do mito popular, sob
uma perspectiva histórica, simbólica, sociológica e psicológica.
Uma terceira obra também está em desenvolvimento: “Desde
1991 venho pesquisando as representações das pessoas com deficiência na
história da arte e da literatura mundial. Já publiquei diversos artigos sobre o
tema, mas pretendo organizar tudo em um livro no próximo ano”, revela o pesquisador.
Ainda pela Wak, Emílio Figueira lançou em 2015 o livro “Psicologiae Inclusão” e agora tem no prelo revisto pela mesma editora a obra “Intervenções
Psicológicas em Pessoas com Deficiência”. O livro analisa, de forma ampla e
interdisciplinar, o papel da psicologia na inclusão e no cuidado de pessoas com
deficiência nos contextos social, clínico, hospitalar, educacional, afetivo,
corporativo e esportivo, abordando práticas, desafios e perspectivas da área.
“Essa obra é fruto de mais de vinte anos de minhas pesquisas
e escrita. Busco valorizar uma abordagem centrada na pessoa e em seus direitos,
tratando desde as intervenções terapêuticas e educacionais até temas como
sexualidade, mercado de trabalho e envelhecimento, destacando o psicólogo como
mediador essencial na construção de uma sociedade mais inclusiva e humanizada”,
afirma Figueira.
PESSOAS COM DEFICIÊNCIA COMO PERSONAGENS LITERÁRIOS
Nos últimos anos, Emílio também tem se dedicado à literatura
ficcional. Segundo ele, durante muito tempo esteve tão envolvido com a escrita
científica e pedagógica, que seu lado literário acabou ficando em segundo
plano.
“Nas últimas décadas, fiquei muito focado na inclusão e na
escrita técnica e científica, e o meu lado literário foi ficando mais discreto.
Agora chegou o momento de me dedicar mais a isso”, explica.
Ele vem se especializando na escrita de contos psicológicos
modernos, abordando temas existenciais, políticos, angústias cotidianas,
pertencimento, homoafetividade, racismo e identidade.
Entre suas recentes produções está a coletânea “Espelhos
Que Caminham – Histórias sobre deficiência, existência e humanidade”,
publicada pela Amazon. A obra convida o leitor a atravessar espelhos – alguns
claros, outros trincados – para conhecer personagens que desafiam estereótipos
e silenciam expectativas, revelando vidas que respiram, amam, erram, resistem e
se reinventam em um mundo que insiste em vê-las como exceção.
UM ROMANCE SOBRE MODA INCLUSIVA
Em primeira mão, Emílio Figueira também revelou estar
trabalhando em um romance que abordará a moda inclusiva e seu impacto na
valorização das pessoas com deficiência.
A narrativa mostrará modelos que conquistam espaço no
mercado fashion, rompendo estereótipos e fortalecendo autoestima e
reconhecimento profissional. Paralelamente, o romance tratará do crescimento de
marcas inclusivas que promovem autonomia, acessibilidade e liberdade de escolha
ao se vestir, apresentando a moda inclusiva como uma transformação cultural,
estética e social.
A NOVA REINVENÇÃO DO ESCRITOR COMO CAMINHO
Em sua autobiografia “Autor de Mim Mesmo”, lançada o ano
passado Emílio escreve:
“Pelo meu estado atual, preciso mais uma vez me reinventar,
adaptar-me à minha nova realidade para seguir em frente, como na jornada do
herói descrita por Joseph Campbell. No momento em que tudo parece perdido, o
personagem precisa reunir toda a experiência acumulada para vencer seus
desafios e seguir sua vida. Diante dessas mudanças em meu corpo, mais uma vez a
vida me desafia a me reinventar. E planos e projetos não me faltam, graças a
Deus.”
Um retrato de um pensador que insiste em criar mesmo quando o corpo impõe novos desafios.

