Meu novo artigo publicado no Portal Viver Dow em 08 de dezembro de 2025 @portalincluir em apoio aos seus livros pela Wak Editora @wakeditora, “Psicologia e Inclusão” e “As Pessoas Com Deficiência Na História Do Brasil”, editados por Pedro Wak @pedro.wak e apoio na divulgação de Ana Lúcia Bonfim @analucia.bomfim, assessora de imprensa.
Durante muito tempo, falar sobre inclusão de pessoas com deficiência significou, antes de tudo, lutar pelo direito básico de estar presente: estudar, trabalhar, participar da sociedade. A conquista do espaço físico e simbólico foi um avanço essencial, fruto de décadas de mobilização e de políticas públicas que começaram a romper barreiras visíveis e invisíveis. Mas, à medida que o debate amadurece, torna-se evidente que inclusão não se limita à presença. É preciso avançar para a participação plena. E, nesse novo patamar, o networking surge como um elemento crucial, mas ainda negligenciado.
Em qualquer área profissional, o networking é uma força silenciosa e poderosa. É ele que constrói pontes, abre portas, favorece oportunidades e impulsiona carreiras. O capital social — essas redes de contatos, trocas e referências —, é o que permite a um profissional ser visto, lembrado e convidado para novas experiências. No entanto, quando observamos o cenário das pessoas com deficiência, percebemos que esse campo ainda é profundamente desigual. Há profissionais qualificados, criativos e preparados que, no entanto, permanecem invisíveis nas rodas onde as decisões são tomadas, os convites são feitos e as parcerias surgem.
Grande parte dessa exclusão não é intencional, mas estrutural. Os espaços de networking, muitas vezes, não são pensados para todos os corpos, modos de comunicação e ritmos de interação. Eventos sem intérprete de Libras, locais com acessibilidade física precária, plataformas digitais sem recursos de leitura de tela, ou até a cultura de encontros informais em bares e restaurantes. Tudo isso, ainda que sutil, exclui e restringe a participação plena de profissionais com deficiência. E o resultado é um ciclo injusto: quem não é visto, raramente é lembrado. E quem não é lembrado, dificilmente é convidado.
Por isso, a inclusão profissional precisa ser compreendida como um processo que vai além da contratação. Contratar é o começo; integrar e promover são o verdadeiro desafio. É fundamental que as empresas, universidades e instituições criem condições para que esses profissionais também possam ampliar suas redes, ocupar espaços de fala, liderar projetos e compartilhar experiências. Isso envolve tanto acessibilidade prática quanto sensibilidade relacional. Ou seja, entender que cada interação é uma oportunidade de aprendizado e conexão genuína.
O networking inclusivo é, acima de tudo, uma prática de reconhecimento. Ele rompe com a lógica de que as pessoas com deficiência são apenas destinatárias de políticas de inclusão e as coloca como agentes ativos, produtores de conhecimento e parceiros estratégicos. Estar em uma rede é também poder influenciar, inspirar e ser referência, criando um ciclo virtuoso de representatividade.
Além das ações institucionais, é preciso cultivar uma cultura de abertura. Cada profissional, independentemente de sua área, pode contribuir para uma rede mais diversa e acessível: ouvindo, aprendendo, convidando e criando pontes. O networking só cumpre seu papel quando deixa de ser um privilégio de poucos para se tornar um território de trocas humanas, onde as diferenças ampliam as possibilidades.
No fim das contas, o que se busca é uma mudança de paradigma. A verdadeira inclusão não é apenas garantir que a pessoa com deficiência entre na sala é garantir que ela seja ouvida na conversa, lembrada nas oportunidades e valorizada nas conexões. Porque, no mundo do trabalho, a rede que se tece entre as pessoas é tão essencial quanto o talento individual. E, sem oportunidades reais de networking, a inclusão corre o risco de ser apenas uma presença simbólica, sem voz nem continuidade.
É hora de ampliar o conceito de acessibilidade para além das rampas e dos intérpretes e enxergá-la também nas relações, nas trocas e nos espaços de convivência. Afinal, inclusão sem conexão é presença sem participação. E a participação, no sentido mais profundo, nasce do encontro entre pessoas que se reconhecem, se apoiam e crescem juntas.

