A presença da pessoa com deficiência visual nas Artes VII



Publicado pela Rede SACI, São Paulo-SP, em 23/04/2003




Deficientes visuais na música, no teatro e até em desenho animado



REGISTROS VARIADOS



 Dança



Na dança também temos um bonito registro. Formado e mantido pelo Instituto de Cegos Padre Chico, no Ipiranga, zona sul de São Paulo, um grupo de deficientes visuais constituem um grupo de balé que já conquistou 14 prêmios só em 2001. Atentas à música e às marcações do ritmo, as bailarinas movimentam-se ágeis pelo palco. Dançam em perfeita harmonia com as demais colegas em cena. E o que para muitos pode parecer impossível para as integrantes traduz mais que um sonho: é a realidade das meninas sem visão, flutuando ao som da melodia.






Com a preocupação de não serem reconhecidas pela cegueira, mas sim por dançarem com qualidade, o grupo é dirigido pela professora Fernanda Bianchini, formada em balé clássico e fisioterapeuta por profissão, a qual ministra aulas de dança voluntariamente na instituição há oito anos. Graças à sua insistência em inscrever as alunas em festivais especializados foi criada, no Brasil, uma categoria de dança específica para portadores de deficiências.



Com idades que variam entre 4 e 20 anos, as 27 alunas apresentaram-se em um espetáculo com 25 coreografias e duas horas de duração, no teatro do Instituto Padre Chico. A proposta de montar o grupo partiu da coordenadora da entidade, irmã Madalena Marques. Enquanto para a professora, o convite para ensinar transformou-se em desafio. Em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo (29/01/2001), ela declarou: “Sempre ouvi dizer que para dançar era preciso enxergar e várias professoras me desaconselharam a trabalhar com deficientes visuais”. O trabalho com as meninas cegas mostrou que estavam enganadas. Aos poucos, Fernanda desenvolveu seu próprio método, pioneiro, para ensinar. Primeiro, ela estimula noções espaciais, expressão corporal e ritmo. O aprendizado dos passos é feito por meio de toque e imitação. As meninas tocam o corpo da professora e repetem os gestos, orientando-se pelas marcações da música.



No início do aprendizado, o equilíbrio é um ponto que requer especial atenção. O que não falta por parte das alunas, entretanto, é empenho. As aulas com a professora acontecem só uma vez por semana, mas as bailarinas se reúnem, pontualmente, três outros dias para ensaiar sozinhas. E todo esse trabalho ajudou a desenvolver a auto-estima nas crianças e adolescentes.



Além dos 14 prêmios, o grupo já coleciona várias apresentações importantes como em julho de 2001 no Festival de Inverno de Campos do Jordão, participaram de programas de televisão e há vários convites para dançar em outras cidades do Estado. Mas também sonham em se apresentem em espetáculos fora do Brasil”. Como Fernanda faz questão de que o grupo concorra em condições de igualdade com os demais participantes, a própria instituição arca com as despesas de inscrição, transporte e alimentação.



Também procuram um patrocínio para poder trabalhar com mais tranqüilidade. Visando também conseguir, para cada menina, um ponto eletrônico no ouvido para as apresentações. Isso possibilitaria que as orientasse durante o espetáculo, o que tornaria a movimentação mais segura nos palcos desconhecidos, onde a possibilidade de um tombo é maior. “Enquanto não temos esse recurso, fico da coxia, gritando para que cheguem mais para a frente ou para trás”, revela a professora. Há também planos de se ter uma sala de ensaio com barra e espelho, para poder corrigir os movimentos das alunas com maior precisão, pois segundo a professora, que não se cansa de ensinar, “uma bailarina deve sempre olhar para as estrelas, ainda que não as enxergue”.



Teatro



Não podemos deixar de citar Geraldo Magela, deficiente visual, primeiro humorista cego da televisão brasileira. Enquanto vários acontecimentos teatrais também marcam esta área.



A exemplo, em 2001, a Fitoteca Kaete Heymann, em São Paulo, apresentou a peça teatral “Visão Cega”, protagonizada por Miriam Meller. O enredo era a historia de uma mulher cega que tem a possibilidade de voltar a enxergar com uma cirurgia, abordando os conflitos e as reflexões em torno desse tema. Imperdível não só para nós, como para todos.



No dia 25 de fevereiro do mesmo ano, após uma pequena reforma, foi reaberto ao público externo, o tetro do Instituto Benjamin Constant. O teatro havia sido inaugurado no dia 17 de dezembro de 1984, cessando suas atividades em dezembro de 1990. A estreia de reabertura foi a peça “Império do Olhar”, uma adaptação de Marcus de Aquino para os textos do livro “Ensaio sobre a Cegueira”, do escritor português José Saramago, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura em 2000. No espetáculo, os espectadores eram surpreendidos pelo teatro totalmente às escuras, iluminado apenas por velas distribuídas entre os atores.



Concertos Gratuitos



O Secretário de Estado da Cultura, assinou no dia 15 de maio de 2001, uma resolução reservando 20 lugares da Sala São Paulo para deficientes visuais. Eles poderão assistir gratuitamente, às quintas-feiras e aos sábados, as apresentações da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, na tradicional sala de concertos, também acessível para pessoas portadoras de deficiência física. Essa mesma Secretária realiza programas de atividades para deficientes visuais durante o ano todo nas Oficinas Culturais. Os programas são resultados de acordos entre a Secretária, a Fundação Dorina Nowill e a Fundação Laramara. Estima-se que existam hoje, em São Paulo, cerca de 80 mil deficientes visuais.



Desenhos animados



Vem da televisão espanhola outro projeto inovador. Desde 8 de dezembro de 2001, sábados e domingos, às 9:30 hs, pela Primeira de TVE, está no ar o seriado “Nicolás”. Trata-se da nova série de desenhos animados produzidos pela TVE, BRB e a ONCE, que pela primeira vez em uma história de animação apresenta um personagem com cegueira.



Nicolás, é um menino de 12 anos, protagonista principal da história. A série fala, através das peripécias de seus personagens, de tolerância e de integração, tentando sensibilizar o público alvo – os meninos de 4 a 12 anos – sobre problemas e soluções para a integração social das pessoas com cegueira e deficiência visual. O cachorro-guia de Nicolás, Tom, exerce, entre outras muitas coisas próprias de seu adestramento, o papel de narrador da série.



Ao longo dos 26 episódios são abordados temas como o acesso das pessoas cegas a na educação, na cultura, no esporte, orientação de mobilidade prevenção das deficiências, dentre outros. As histórias também podem ser seguida pelos deficientes visual, através do casteliano ou catalan, usando o sistema AUDESC, que descreve situações e partes significativas da trama, resultando em compresnsão do áudio. Para as pessoas surdas há também transcrições de diálogos através do teletexto da TVE.

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