Aos jornalistas



Publicado em 03/10/2002



Um grupo cada vez mais vem tomando frente no cenário brasileiro e conquistando espaço na mídia em geral. São as pessoas portadoras de deficiência, que após muitas décadas vivendo na tutela, começaram a se descobrirem e se reunirem em grandes movimentos para conquistar a sua cidadania e hoje é muito forte a sua participação política, pois sabem o que desejam, necessita e como conseguir. Dotadas de inúmeras potencialidades e necessidades como as demais pessoas, muitas conquistas já obtiveram, visando uma vida normalizada. Acusadas de serem uma minoria, a realidade não é bem assim, pois já são quase 15 milhões só no Brasil. Ainda se levarmos em consideração os parentes, amigos e profissionais que trabalham com eles, 25%, ou seja, um quarto da população – direta ou indiretamente está envolvida com este tema.



Após anos de luta procurando normalização para que sejam vistos como cidadãs comuns no convívio social – escola, trabalho, lazer, dentre outros segmentos -, nesta década começou-se a sentir uma necessidade de desenvolver um trabalho de conscientização dos profissionais dos meios de comunicação, acreditando que os mesmos também podem ajudar nesse processo de construção da cidadania e da participação plena na Inclusão Social.






Durante toda a nossa vida, sempre ouvimos o velho ditado que uma imagem vale mais que mil palavras. Algo mais expressivo, de infinita fidelidade aos fatos. Mais confiável até mesmo ao nosso discurso. Afinal, porém a formação de imagem e conceito sobre um determinado segmento precisa de argumentos para sua concretização. Nem sempre os dados que temos em nosso íntimo, ou que nos são oferecidos pelo contexto social, nos permitem formar opiniões e imagens reais de alguma coisa, ou de alguém. Equivale dizer ainda, que há, pelo menos, duas formas de formação de imagem: imagem visual (que registramos diante dos nossos olhos) e a imagem imaginária (aquela que construímos dentro de nossas mentes, fruto dos dados que nos são oferecidos no dia-a-dia).



Por esse motivo, a questão de como a imagem dos portadores de deficiência é veiculada pelos meios de comunicação de massa ao grande público vem ganhando atenção no Brasil.  Sobre essa temática já foram realizados alguns congressos, e uma das conclusões a que se chegou foi que não adianta reabilitar o indivíduo física, intelectual e profissionalmente se a sua imagem não for recuperada perante a sociedade para que a mesma o aceite naturalmente. Dessa forma, os meios de comunicação de massa (jornal, rádio, televisão Internet e vídeo educativo) surgem como as principais alternativas para a consecução desse fim.



Hoje, mais e mais jornalistas e meios de comunicação estão falando do tema deficiência. Mas como a maioria dos segmentos, esses profissionais correm contra o relógio, tendo milhares de informações para interpretar em rápidas assimilações. Visto que a edição de um jornal não sobrevive mais que 24 horas, nem sempre essa quantidade corresponde a qualidade. A falta de tempo para se apurar os detalhes de uma matéria, muitas vezes, leva os leitores a formar prematuramente conceitos errados sobre pessoas e situações. Segundo o “Mídia e Deficiência: Manual de Estilo” (1994, 2.a edição), ” é quando nos deparamos com os ‘pré-conceitos’, oriundos da desinformação, que muitas vezes levam a sociedade a subestimar as potencialidades e capacidades das pessoas, gerando discriminação, estigmas e preconceitos”.



Entre vários documentos e estudos internacionais, o parágrafo 149, do Programa de Ação Mundial para Pessoas com Deficiência, das Nações Unida, sugere com relação a informação e educação do público: “Devem-se desenvolver pautas, em consultas com as entidades de pessoas deficientes, para estimular os meios de informações a veicularem uma imagem abrangente e exata, assim como uma representação e imagem equânimes sobre as deficiências e as pessoas portadoras, no rádio, no cinema, na fotografia e na imprensa. Um fundamental de tais pautas seria que as pessoas deficientes tivessem condições de apresentar elas próprias os seus problemas ao público e de sugerir as formas de resolvê-los(…)”.



Sabemos que os profissionais de comunicação são pessoas que constantemente estão procurando se aperfeiçoar em nível técnico e conhecimentos para melhor qualidade de suas produções. Visto que muito pouco material há no Brasil para orienta-los ao escrever ou fazer imagens de maneira certa das pessoas portadoras de deficiência, vamos abordar este tema nos próximos dois artigos.

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