As cadeiras de rodas



Publicado em 12/09/2002



Em tempos de Inclusão Social, uma questão que merece uma profunda reavaliação de conceito, é com relação as pessoas portadoras de deficiência que se utilizam de cadeiras de rodas para a sua locomoção. Aqui encontraremos um dos maiores erros de visão cometido pela sociedade. E também a falta de atenção dos profissionais de comunicação colabora para uma visão errônea, quando reproduzem exaustivamente a imagem da pessoa em cadeira de rodas, usando um “cobertor xadrez” sobre as pernas.



Essa imagem é transmitida historicamente, tendo como base as primeiras imagens vindas da fria Europa, onde no pós-guerra, alguns militares combatentes tornaram-se portadores de deficiências e consequentemente passaram a utilizar-se de cadeiras de rodas para sua locomoção. Nos países europeus o clima gelado é constante na maior parte do ano e, uma vez que a pessoa na cadeira de roda tem pouca circulação sanguínea nas pernas, tendo uma sensibilidade ao frio ainda maior, justifica-se o uso desses cobertores.






Mas no Brasil, um país tropical e praticamente quente durante todo o ano, nada justifica que continue a utilização do “cobertor xadrez” sobre as pernas dessas pessoas, o que também pode significar uma conotação negativa da intenção de esconder a parte paralisada do corpo. Essa imagem reproduzida sem qualquer critério ou avaliação, é constante na mídia, nas telenovelas, em peças de teatros, cinemas e em campanhas de utilidade pública que, segundo o “Mídia e Deficiência: Manual de Estilo”, “ainda não desenvolveram uma percepção crítica em relação a este estereótipo que reforça, principalmente em países quentes como o Brasil, a ideia de vergonha do corpo, deformação, feiúra e depressão”.



Um outros erro que também cometemos e precisamos corrigir, um com relação às expressões que usamos ao nos referir a essas pessoas. Expressões como “condenados”, “confinados”, “presos” à uma cadeira de rodas. Elas refletem totalmente o contrário do verdadeiro significado de uma cadeira de rodas, sendo um instrumento para suprir a dificuldade de locomoção de seu usuário, tornando-se um instrumento para a sua independência, para sua libertação, para a vida! Por isso, além de acabarmos com a estereotipada imagem do “cobertor xadrez”, troquemos essas ultrapassadas expressões para “pessoas que utilizam-se de cadeiras de rodas para sua locomoção” ou simplesmente “usuários de cadeiras de rodas”.



Concluindo esta parte, nada melhor que relembrarmos mais um trecho do “Mídia e Deficiência: Manual de Estilo”: “De uma forma geral, as alusões a pessoa com deficiência devem ser feitas evitando-se a valorização excessiva de deficiência. Superestimar ou subestimar o indivíduo, baseando-se apenas no que denota sua deficiência, é um sério erro que sempre reforça estigmas e preconceitos. Cada indivíduo é único e deve ser respeitado como tal. Os portadores de deficiência desejam ser consideradas apenas como pessoas, com direitos e deveres iguais aos dos demais cidadãos”.




CURIOSIDADE





PEQUENA HISTÓRIA DA CADEIRA DE RODAS




Embora não pareça, a história da cadeira de rodas é bem antiga. O artista plástico e escritor João Carlos Pecci, conta em seu livro “Minha Profissão é Andar”(1981):



“Um exemplo marcante de cadeira para pessoas deficientes é a de Filipe II, rei da Espanha, construída em 1595. Movia-se sobre quatro rodas pequenas, com encosto reclinável, apoio para as pernas e um estribo. Mas era apenas uma cadeira de rei… Um carregador de carvão, se paralítico, ficava mesmo na cama.

Foi um alemão, Stephan Faarfler, de Aldorf, perto de Nuremberg, o primeiro a se locomover numa cadeira de rodas. Paraplégico desde os três anos, ele mesmo a idealizou e construiu quando tinha 22 anos, em 1655. Era uma cadeira baixa, pequena, toda de madeira, com duas rodas atrás e uma na frente. A da frente era acionada por duas manivelas giratórias. O próprio Staphan a movimentava. Ele utilizava essa cadeira, não apenas em casa, mas saía com ela, trabalhava e passeava. Usou-a até a morte, aos 56 anos, ocasião em que esse veículo foi lavado à Biblioteca Municipal de Nuremberg, onde ficou exposto até 1945, quando um bombardeio o destruí.

Pode-se considerar essa cadeira de Stephan como a primeira construída para um paraplégico. E que podia ser movimentada sem o auxílio de outra pessoa. Mas foi apenas a iniciativa isolada de alguém com coragem e ânsia de liberdade.

Os tempos seguintes, apáticos e rudes, não construíram senão alguns poucos tipos curiosos de cadeiras de rodas.

Em fins do século XVIII surgiu na Inglaterra uma cadeira que se tornou a sensação da época. Duas rodas grandes de ferro, atrás., e uma pequena na frente. A armação também era de ferro. E havia até uma capotinha… Pessoas ilustres, sem qualquer tipo de deficiência, a usavam como requinte social.

Depois, o homem teve de acomodar as seqüelas de suas lutas. E as cadeiras de rodas evoluíram na forma e praticidade.

Durante a guerra civil americana, surgem cadeiras com grandes rodas de madeira na frente. Tinham raios também de madeira e um círculo sobressalente para auto-impulsão. Atrás, duas rodas pequenas.

No início deste século, a bicicleta emprestou à cadeira de roda de arame.

Veja só: um tal Erbert Everest, engenheiro, ficara paraplégico em 1918. Insatisfeito com o tamanho e descomodidade das cadeiras de madeira, instalou uma empresa em Los Angeles. E produziu em 1933, a primeira leve e dobrável cadeira de metal! As rodas grandes com aros de impulsão colocadas atrás. E duas pequenas na frente. Em 1933… desde aquele alemão, o Farfler, em 1655!

Ai, então, a cadeira de rodas acompanhou o ritmo do século. E hoje, quanto mais automóvel, mais cadeiras de rodas”.

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