Centrinho: Ainda A Década 70 (Parte 4)



Devido a grande procura por parte de pacientes de todo o País pelos serviços prestados pelo Centrinho, até então sobrevivendo pela USP, começou a contribuir para que o hospital tivesse suas instalações insuficiente para atender a grande demanda. Assim, a direção do HPRLLP tomou a iniciativa, em final de novembro de l977, de solicitar a órgãos federais a liberação de verbas no montante de l3 milhões de cruzeiros. Além de pedir uma assinatura de convênio com o INPS, uma vez que cerca de 50% dos pacientes atendidos eram providenciados daquele Instituto.  Com a verba, seria possível o aumento do número de pacientes – que na época eram 1.500 – e a construção uma área de pesquisa e fonoaudiologia, imprescindível à completa recuperação dos fissurados.



Mas nem tudo se resumia em dificuldades financeiras. Muito pelo contrário, o Centrinho seguia firme no seu propósito e filosofia de sempre ajudar quem de sua equipe necessitar.






Um momento alegre, foi na tarde do dia 02 de maio de l979. Através de um convênio entre a Faculdade de Odontologia de Bauru-FOB e a Força Aérea Brasileira, por meio da Zona Aérea de Belém, o Centrinho recebeu 32 pessoas – a maioria crianças – para tratamento intensivo em várias áreas de assistência. Alguns estavam vindo pela primeira vez. Interessante que entre eles, estavam as irmãs Sila Maria e Aparecida da Silva, de quatro e seis anos, respectivamente, índias da Missão Saleciana de Jauretê, que falavam apenas o dialeto de sua tribo. Esse grupo – cuja a idade variava entre um ano e seis meses a 21 anos de idade, dos quais 22 vieram a Bauru para dar continuidade ao tratamento iniciado anteriormente -, permaneceram no hospital por 30 dias assistidos nas áreas médicas, odontológica, fonoaudiológica, de psicologia e serviço social.



Na primeira semana de julho de l979, foram abertos os envelopes da concorrência para a construção de uma nova ala do HPRLLP, localizada ao lado das estalações já existentes. Um novo prédio numa área construída de l.800 metros quadrados e mais 250 metros de pátio de estacionamento, para abrigar laboratórios de pesquisa, ampliação de testes, terapia psicológica individual e grupal, psiquiatria e educação popular.



O projeto arquitetônico foi feito por Jurandyr Bueno Filho, que ofereceu esse serviço gratuitamente, bem como toda a assessoria que prestada.



A concorrência foi vencida pela firma Martha e Pinho, mas o preço oferecido ultrapassou os recursos disponíveis na época, o que levou a diretoria do Centrinho a adotar nova sistemática para o início das obras, ou seja, a construção teria que ser realizada por etapas. Segundo o depoimento do Dr. Gastão na imprensa à ocasião, “os recursos de que dispomos – 9 milhões de cruzeiros – são insuficientes diante do preço mínimo da concorrência, que atingiu 17,8 milhões, o que nos está obrigando a uma reformulação das plantas, tendo em vista a limitação de recursos”. E assim, a obra foi sendo realizada a medida do possível.



Ainda em l978, no Centrinho iniciava-se a implantação de uma biblioteca hospitalar especializada em fissura lábio-palatais, visto a necessidade de informação da equipe do HPRLLP  e do  desenvolvimento de  pesquisas nessa área. (A partir de l987, a biblioteca passou a denominar-se Seção de Referência Especializada em Malformações Congênitas Crâniofaciais).



Para o Centrinho, o dia 12 de dezembro de l979, foi de uma grande importância.  Com a presença do prefeito de Bauru na época, Osvaldo Sbeghen e do primaz do Brasil, Chujiro Otake, da seita Tenrikyo, representando o município de Tenri, no Japão, foi oficializada a doação de equipamentos eletrônicos da Sony e Nikon, para serem utilizados na documentação científica do atendimento aos pacientes do hospital. O intercâmbio entre as prefeituras de Bauru e Tenri, começou em outubro de 1978, quando um grupo de japoneses veio visitar o Brasil e em especial Bauru. Na oportunidade, o Dr. Gastão, aproveitando uma visita da comitiva ao Centrinho, sem muitas esperanças, efeituou um pedido de aparelhos. Datado de l7 de outubro de l978, e assinada pelo próprio diretor do Hospital, a carta-ofício dizia:



“…Essa amizade que transpõe oceanos e uni dois continentes é motivo de verdadeiro orgulho para nós, bauruenses, digna mesmo de ser imitada por todos aqueles que estão conscientizados da importância do altruísmo, como causa da paz e tranquilidade. O nosso Centro de Pesquisa e Reabilitação de Lesões Lábio-Palatais, da Universidade de São Paulo, surgiu em l967, para cuidar de malformação de lábio e/ou palato, os chamados lábios-leporinos ou goela-de-lobo. E em nome de uma parcela de fissurados, que estão em tratamento em nosso hospital e que são descendentes de japoneses, é que nos interessamos pelos aparelhos que auxiliarão na documentação científica, cujo objetivo é fotografia e gravação das cirurgias que praticamos.”



Naquele período a média de internação diária era de 60 pacientes, idades variáveis. E de nisseis atendidos até ali, eram aproximadamente 100, oriundos das mais diversas localidades do Brasil.



Com data de 26 de setembro de l979, da mucipalidade de Tenri (Japão), chagava ao Centrinho a seguinte carta assinada por Kiyofusa Ozaki, prefeito de Tenri, endereçada ao prefeito Osvaldo Sbeghen: “Ficou decidida a aquisição dos materiais necessários á pesquisa e reabilitação de lesões lábio-palatais, segundo a relação anexa, para serem doados ao Hospital especilizados, diretamente ligado à USP, e sediado em Bauru. Esses materiais são doações enviadas pelo povo de Tenri, em sinal de amor e amizade que dedica à Cidade-Irmã, Bauru, esperando estimular e manter perene laços de fraternidade entre as nossas duas cidades e povos irmãos. (…)”



A doação contava com 23 peças de um equipamento eletrônico, composto de gravador, video-câmeras, gerador de efeito especial da marca Sony; tripé, portador, auto-transformador, video-tape, câmara fotográfica da linha Nikkon F2 photomatic AS, lentes micro e medical e bolsa compartimento para câmeras fotográficas e acessórios. O Centrinho contou ainda com a espontaneidade da Sony do Brasil, que se prontificou em dar orientação aos técnicos do hospital, para montagem e operação do equipamento…



NOTA: Essa série de artigos é fruto do documentário “Nem São Francisco Sabia… A História de Centrinho de 1967 a 1995”, hoje Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais (HRAC/Centrinho) da USP/Bauru. Realizado entre 1994 a 1996 por Emílio Figueira, contou com bolsa de especialização da Universidade de São Paulo-USP. Foram publicados no jornal Diário de Bauru de maio a julho de 1997.

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