História Do Centrinho: Outros Acontecimentos (Parte 3)



Na história do Hospital de Pesquisa e Reabilitação de Lesões Lábio-Palatais-HPRLLP, podemos recordar outro fato marcante. Em l976, os parentes dos pacientes previdenciários, tiveram cortados as ajudas que recebiam para locomoção até Bauru e permanência esporádica na cidade. Em grande parte, eram pais de crianças fissuras que necessariamente tinham que vir como acompanhantes até o hospital. Criado esse problema, a direção de Centrinho conseguiu criar a PROFIS – Sociedade de Promoção Social do Fissurado, que passou a amenizar as dificuldades dessas pessoas. Já era grande o número de pacientes vindos desde o Pará e outros Estados da região   amazônica, o alto preço da passagem de avião e estadia impossibilitavam a muitos a vinda a Bauru. Assim a PROFIS já iniciou com as seguintes finalidades:



– desenvolver programas de apoio ao trabalho realizado pelo HPRLLP em todos os seus aspectos, prevenindo ou removendo problemas psíco-sociais, econômicos e financeiros, que possam interferir na concretização do tratamento global;






– atender as necessidades sócio-econômicas durante o período de tratamento no HPRLLP, através de orientações e prestação de serviços assistenciais para fins de alimentação, medicação, locomoção e estada do fissurado e/ou seus familiares.



Hoje a PROFIS é mantida através de contribuições de seus associados (usuários, voluntários, etc.), auxílios, donativos e arrecadações diversas. Segundo um texto da assistente social Maria Inês Graciano(l99l),  “é uma entidade  particular que presta serviços aos clientes de um órgão estatal, agilizando o repasse dos recursos à clientela, pois usufruí de autonomia decisória e financeira para a prestação de  serviços”.



Anos depois de sua criação, em 1981, foi instituído o “Programa de Residência Odontológia” da PROFIS, obtendo a formação de profissionais de outras regiões do País, em especial Norte e Nordeste, tornando-se pontos de apoios e divulgadores da filosofia do Centrinho. O programa auxiliaria na implantação de núcleos hospitalar em várias regiões do Brasil.



A PROFIS tornou-se uma entidade de Utilidade Pública, através da Lei Nº 1927, de 1º de novembro de 1975, assinada pelo prefeito Luiz Edmundo Carrijo Coube.



* * *



Segundo estatística de 1977, de cada 650 crianças que nasciam no Brasil, uma era portadora de lesões lábio-palatais. O país registrava aproximadamente 480 mil fissurados, sendo o Centrinho o único hospital para atendê-los. Porém, a entidade começou a sentir o reflexo de uma crise orçamentária da Universidade de São Paulo. Pelos registros, vemos hoje que o HPRLLP, estava “vivendo mais de idealismo de seus funcionários mal remunerados, mas ainda esperançosos da conscientização plena de nossas autoridades em torno do tão angustiante problema, ainda à curto prazo”.



O Centrinho contava na época com 40 leitos, mas estava atendendo naquele momento 54 pacientes, porque seria quase impossível, e até desumano, mandá-los de volta para casa pais e crianças fissuradas procedentes do Pará, Roraima, Acre, Mato Grosso, Amazonas e exterior. Além desses internos, outros l925 pacientes já operados, retornavam periodicamente para prosseguir no complexo tratamento odontológicos e fgonoaudiológicos necessários para prevenir alterações no crescimento dos maxilares e consequentemente comprometimento da estética facial. Existia ainda, o problema do baixo poder aquisitivo dos pais, onde o Centrinho se via obrigado a   arcar com despeças, tais como alojá-los em pensões e hotéis, o que estava sendo conseguido através de campanhas filantrópicas.



Na ocasião, estava em construção um prédio ao lado das dependências atuais, justamente para oferecer condições de atendimentos médicos, odontológicos, psicológico, foniatrico, pedagógico e social, dando continuidade à recuperação de pacientes já operado. A obra estava parada na estrutura de pavimentação térreo, por falta de verbas.



Na luta pela sobrevivência do Centrinho, o Dr. Gastão receberia no dia 1.o de junho, uma super-importante visita do Tecnológico do Governo Federal, Dr. Fernando Ferreira.



Dr. Gastão e a equipe do Hospital haviam elaborado dois novos projetos para apresentar ao analista Ferreira. O primeiro tratava da implantação de um laboratório de pesquisa sobre fonação e aspectos psicopedagógicos sociais, com a justificativa que no Brasil 65% dos fissurados apresentavam dificuldades no desenvolvimento da fala e consequentemente, obstando o seu próprio desenvolvimento social.



O segundo projeto tratava da criação de núcleos regionais de diagnósticos, segmento e controle do tratamento de fissurado, comprovando assim, o interesse do Centrinho em pretender resolver o problema da fissura, sem pretender ficar com à prioridade do tratamento. Tio Gastão e equipe queriam transmitir a experiência somada até ali, á centros bem distantes. O primeiro núcleo planejado seria para Belém do Pará, pois tal quantidade de pacientes que vinham de lá eram muito alto. No Brasil, existiam em l977, 180 mil portadores de fissura lábio-palatais, sendo que por ano nasciam 5.300 novos casos no país, dos quais o índice de mortalidade alcançava a impressionante casa dos 35%. Assim, por tudo isso, e pelo o que o Centrinho já representava na estrutura nacional por ser único em sua especialidade, é que se esperava sensibilizar o Dr. Fernando Ferreira.



O feito deu resultado. Ferreira gostou do trabalho realizado pelo HPRLLP e dois projetos a ele apresentados, que ao conversar com a imprensa local, fez a seguinte declaração: “Levo os projetos para uma melhor análise. Tive muito boa impressão do Hospital, para recuperação dos fissurados. É uma instituição merecedora de todo o apoio. Há seriedade no trabalho pelo pessoal que executa. Levo muitos subsídios e um parecer técnico será breve; os trâmites burocráticos é que são muitos demorados”.



Quanto o problema das dificuldades que passava o Centrinho, Fernando Ferreira declarou que a questão da distribuição de verbas era um problema nacional, que não dependia de si; mas seria estudado a possibilidade do Hospital receber uma parcela.  Sobretudo, a agradável visita do analista, proporcionaria um entendimento com as entidades de esferas federais.



Nesse mesmo ano, em 04 de agosto, Bauru recebeu a visita do até estão Governador do Estado de São Paulo, Paulo Egydio Martins. Ao ir conhecer o trabalho desenvolvido pelo Centrinho, Egydio sensibilizou-se. Sua chegada não poderia ter sido num dia mais propício, pois era terça-feira, dia dedicado a recebimento de novos pacientes, que permitiu ao Governador ver pessoas de Londrina, Porto Alegre e até de Aracajú, dando entrada no hospital com a esperança de corrigir o defeito estético que tanto trauma acarreta.



“Quem tem coragem de mandá-los de volta?”, perguntou numa tirada o Dr. Gastão ao chefe da Casa Civil, Afrânio de Oliveira, que tanto quanto o governador, também havia demonstrado sensível ao quadro que tinham diante dos olhos.



De início havia uma expectativa positiva de se ver sanadas a crise orçamentária que atravessava a USP, e consequentemente, afetava o Centrinho. O governador partiu, deixando a promessa de tratar diretamente com o Reitor da Universidade de São Paulo para solucionar o caso específico de Bauru. Ainda por outro lado, tanto o Governador quanto o chefe da Casa Civil, manifestaram o interesse do próprio Governo do Estado em dar meios para a continuidade do trabalho realizados pelo Centrinho, cujos efeitos já se refletiam por todo o Brasil e exterior…



NOTA: Essa série de artigos é fruto do documentário “Nem São Francisco Sabia… A História de Centrinho de 1967 a 1995”, hoje Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais (HRAC/Centrinho) da USP/Bauru. Realizado entre 1994 a 1996 por Emílio Figueira, contou com bolsa de especialização da Universidade de São Paulo-USP. Foram publicados no jornal Diário de Bauru de maio a julho de 1997.

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