Centrinho: Enfim, Um Hospital Especializado (Parte 2)



Continuando a história do Centrinho durante a década de 70, o hospital passou a ter um desenvolvimento rápido e satisfatório. Em l973, além de atender toda a demanda da cidade e região, já atendia também pacientes de vários lugares, inclusive Goiás e Paraguai. Funcionando ordenadamente através de vários Departamentos especializados, o CPRLLP congregava l8 profissionais, professores da FOB, entre estes, cirurgiões e psicólogos, o que proporciona não só a recuperação anatômico-fisiológica, mas também psicológica. Nesse mesmo ano, foi implantado o Serviço Social, época que a capacidade operacional era de aproximadamente 300 pacientes; a preocupação pelo abandono do tratamento já era uma das razões de iniciativa que previa a inclusão de assistentes sociais na equipe multiprofissional de diagnóstico e tratamento.



Em l967, o Centrinho havia atendido 20 pacientes; em l968, foram 86; em l971, 164 e em 1972 o número de atendimento ultrapassou 303 pacientes. Mais de 400 operações foram realizadas pelo Dr. Wadi Kassis, utilizando-se das dependências da Beneficência Portuguesa. Como não poderiam continuar “abusando” dessa boa vontade, durante todo o tempo, surgiu a grande necessidade de se construir um Centro de Pesquisa, onde os trabalhos poderiam ser realizados em sede própria.






Funcionava também junto ao Centrinho um Fundo de Assistência ao Fissurado, que prestava auxílio aos familiares de pacientes pobres, pagando despesas de locomoção, estadia e até dias de serviços perdidos.



Assim, o grande marco de 1973, foi a inauguração da sua sede até os dias atuais. Na solenidade realizada às 15 horas, do dia 22 de março, estiveram presentes o prefeito de Bauru na época, Edmundo Coube, o diretor da FOB Prof. Dr. Luiz Ferreira Martins o ex-diretor e idealizador da FOB, Prof. Dr. Paulo de Toledo Artigas, José Alberto (Gastão) de Souza Freitas(já diretor  do Centro), professores, alunos  e outras  autoridades. Porém, a grande presença mesmo, foi a do reitor da USP, Prof. Dr. Miguel Reale…



“Servir e servir será cada vez mais o lema da universidade do nosso tempo”. Essas são palavras do reitor, que não escondia seu entusiasmo pela obra científica e social, logo depois da explanação ilustrada com “seldes”, feita pelo até então diretor da FOB, Dr. Luiz Martins. Segundo Miguel Reale, já ia   longe o tempo que a universidade ministrava apenas ensino; ao lado do ensino, também deveria estar a pesquisa e prestação de serviços à comunidade. “Aqui os estudantes aprendem uma técnica, e mais ainda, o amor ao próximo. Aqui, a Universidade de São Paulo se encontra com o homem e, o que é mais importante, com a criança. É aqui que pulsa o coração da universidade nova”, acentuou o reitor, citando ainda, a grande coincidência que aconteceu em Bauru: “No coração de São Paulo, um centro que é todo feito com o coração”…



A visita e entusiasmo do professor Miguel Reale, trouxe bons e rápidos resultados ao hospital. No mês seguinte (abril), pela resolução  do Magnifico Reitor da Universidade de São Paulo, o Centro de Pesquisa e Reabilitação  de Lesões Lábio-Palatais, passou a  constituir-se em “CENTRO INTRAUNIDADE”, no qual vários docentes dos departamentos da FOB, começaram  a desenvolver atividades didáticas,  de pesquisas de extensão de serviços à comunidade, com o principal objetivo de reabilitar pacientes portadores de malfrmações congenitas lábio-Palatais e realizar pesquisa nesse sentido.



No ano de l974, tudo corria dentro da normalidade; mas uma coisa já se destacava. O entrosamento dos pacientes internos e externos que acontece sempre por ocasiões de comemorações de datas festivas, onde os setores de Psicologia, Serviço Social, Fonoaudiologia e Recreação atuam conjunta e intensamente, com a colaboração ainda dos demais setores na realização das mesmas, as quais fazem parte também do tratamento e reabilitação dos pacientes. Os materiais utilizados nessas atividades, já eram impressos para análise do comportamento e material recreativos diversos, que implicavam em gastos relativos.



Naquela época já exista o idealismo de se transformar o CPRLLP em Autarquia, o que possibilitaria a ampliação no atendimento, melhor formação e treinamento de mão de obra e, sobretudo, maior autonomia para o Hospital. Um trecho de um processo de 1974, diz:



“O Centro acha-se perfeitamente organizado para este tipo de tratamento integrado, que é planejado em cada caso, determinando-se sempre o momento e a quantidade de participação de cada área, em particular. Tudo é feito sem contribuição do paciente, salvo quando este tem meios de fazê-lo. Por trás de todo esse mecanismo, que é acionado nos momentos certos, segundo o plano elaborado, existe toda uma estrutura que serve de base à ação correta e eficiente. A estrutura administrativa e financeira, que infelizmente se encontra colapsada, reclama solução dos altos escalões da Universidade de São Paulo e do Governo do Estado; mas para que a solução seja a ideal é necessário que todos sintam profundamente os problemas humanos envolvidos, que vejam nitidamente o drama do homem ou da mulher, da criança ou da família atingida pela anormalidade e, se decidindo, estejam dispostos a dar muitos aquilo que eles jamais poderiam ter por falta recursos materiais: um tratamento completo, integrado, que evite complicação corrija, na medida do possível, os de feitos resultantes de tratamentos parciais. Que todos compreendam que a sublimidade da missão de servir está na razão direta do bem que se pode praticar e no espírito de todo o Centro de Pesquisa e Reabilitação de Lesões Lábio-Palatais, da Faculdade de Odontologia de Bauru, da Universidade de São Paulo, que é o de: “CONSTRUIR E AUXILIAR, DANDO CADA UM O MELHOR DE SI”. E esteja objetivo somente será alcançado através de uma estrutura administrativa e financeira própria, que só poderá ser conseguida transformando-se numa AUTARQUIA ASSOCIADA, conforme Decreto Lei Complementar nº 7, de 06/11/69, e previsto no Estatuto e no Regimento Geral da Universidade de São Paulo”.



A fama de Centrinho começava a correr por todo o Brasil. O Deputado Maurício de Toledo, proferiu na Câmara Federal um longo discurso onde focalizou o CPRLLP em todos os aspectos, desde as ocorrências das mal-formações, dificuldades, órgão admirativo, conselho deliberativo, não se esquecendo de citar cada membro de equipe de reabilitação. Seu texto foi publicado na integra pelo Diário do Congresso Nacional (Seção 1), de 07 de setembro de 1973.



Em l975, veio a mudança definitiva. A transformação do CENTRO DE PESQUISA E REABILITAÇÃO DE LESÕES LÁBIO-PALATAIS em hospital especializado com recursos próprios para seu funcionamento, foi aprovada no dia 21 de  outubro, pelo Conselho Universitário, da Universidade de São Paulo. Essa modificação do órgão que até naquele momento funcionava como centro interdepartamental vinculado à Faculdade de Odontologia de Bauru – FOB, determinaria mudanças no regulamento e no estatuto da USP, que não previam o funcionamento de um hospital dessa natureza. A matéria foi levada ao Conselho Estadual de Educação, onde sua aprovação já era praticamente como certa, sendo considerado inclusive, a atuação do ex-diretor da FOB e incentivador do Centrinho, Prof. Dr. Luiz Ferreira Martins, presidente do órgão e com grande liderança entre os conselheiros do hospital.



Enfim, o “Decreto N.o 7.734, de 25 de março de l976”, foi publicado no Diário Oficial do Estado, onde o Governador Paulo Egydio Martins, tendo em vista a aprovação do Conselho Universitário da USP (em sessão realizada em 21 de dezembro de l975) e do Conselho Estadual de Educação (em sessão realizada em 10 de dezembro de l975), decretou as alterações necessárias no estatuto da Universidade.



Assim, o “Centro” além de começar a ter os seus próprios recursos, passou a ser denominado HOSPITAL DE PESQUISA E REABILITAÇÃO DE LESÕES LÁBIO-PALATAIS – HPRLLP!!!



NOTA: Essa série de artigos é fruto do documentário “Nem São Francisco Sabia… A História de Centrinho de 1967 a 1995”, hoje Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais (HRAC/Centrinho) da USP/Bauru. Realizado entre 1994 a 1996 por Emílio Figueira, contou com bolsa de especialização da Universidade de São Paulo-USP. Foram publicados no jornal Diário de Bauru de maio a julho de 1997.

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