NOSSOS AUTOPRECONCEITOS DE CADA DIA – Por Emílio Figueira

#pracegove - imagem descrita no primeiro parágrafo abaixo

Quem observar a imagem acima, verá as etapas de construção de uma pintura. Primeiro um rápido riscado a lápis. Depois um esboço feito em aquarela. Por fim, o quadro pronto em óleo sobre tela. Sim, ele é meu autorretrato pintado no ano 2000. Hoje está bem em frente a minha mesa de trabalho e já participou de algumas exposições.

Por causa de minha deficiência, comecei a andar por volta dos sete anos. Quando pequeno, ganhava muito papel sulfite do meu tio Zezinho. Minha família me dava muitas canetinhas, lápis coloridos, tintas infantis. Eu desenhava muito e sem parar em uma mesinha de formica verde no canto do meu quarto. Lembro-me muito bem que um dos meus desenhos preferidos e constantes era o fundo do mar, sempre com a figura do mergulhador de máscara, tubo de oxigênio nas costas e pés de pato. Desenhos esses que hoje, enquanto psicólogo, tem um grande significado para mim! 

No início dos anos 2000, talvez em uma retomada inconsciente da época que eu desenhava muito no apartamento quando criança, voltei a pintar. Ia à livraria, comprava papel-cartão, lápis aquarela, tintas guache, carvão e desenhava, desenhava, desenhava, pintava, pintava, pintava…
Nesse período, fui chamado para escrever um livro sobre a história do SENAI de Bauru e um fato muito legal aconteceu. Eu descia do ônibus na avenida central e subia quatro quarteirões a pé até lá. No meio do caminho havia um velho sobrado cheio de desenhos e escrito “cursos de pinturas”. Um dia tomei coragem, peguei a minha pasta de desenhos e pinturas e fui até lá. 

Toquei a campanhia e, como a porta estava aberta, entrei. Após alguns minutos, um rapaz com roupas sujas de tintas e bem cabeludo desceu pela escada de madeira. Confesso que num primeiro momento, olhamos assustados um para o outro. Disse-lhe que eu estava interessado em informações sobre o curso. Começamos a conversar e seu nome era Leandro Gonçález. Quando lhe mostrei meus trabalhos, ele ficou bastante empolgado com a minha produção, já fez minha matrícula e me passou a lista de material.

Comprei tudo e comecei a frequentar as aulas duas vezes por semana. Com o Leandro aprendi a fazer estudos, croquis com lápis preto, esboços à aquarela, depois pintar telas à tinta a óleo e a preparar e usar todo o material químico que envolve a técnica de óleo sobre tela! 

Confesso que nessa época tive que vencer um autopreconceito. Sempre tinha na mente aquelas pinturas acadêmicas perfeitamente pintadas e sofria muito em pensar que a minha coordenação motora nunca me permitiria atingir esse nível. 

Mas com o tempo, fui descobrindo que havia outras formas de expressão com as quais eu poderia me desenvolver plenamente, como por exemplo, o expressionismo e o abstracionismo. Fui desenvolvendo o conceito de que a verdadeira arte não é a cópia fiel da realidade e sim a transcendência das criações artísticas. 

Interessante também foi notar que quanto mais eu pintava, mais a minha coordenação ia se afinando e meus traços ficando melhores e firmes. Época em que pintei em média trinta telas. Entendendo mais uma vez que quando derrotamos, amenizamos os autopreconceitos, nossos desenvolvimentos pessoais e nossas possibilidades tornam-se infinitas com vastos caminhos!

Até mais vê!


Tela exposta no Memorial da Inclusão em 2019, na quarta edição da “Exposição Ita Vita – Fotografia, Arte e Inclusão”, idealizado pela fotógrafa Giselle Bohnen.

#pracegove – Emílio Figueira de pé, roupas escuras, barba, óculos e careca. Ele sorri, apondo o quadro de seu autorretrato no cavalete de acrílico, uma pintura com fundo marrom, onde ele levemente sorri com um terno azul escuro e gravata preta


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